ENTRETENIMENTO
4 boas razões para ficar quieto – ou como deixar seu ego para trás
Quem nunca deu conselhos indesejados aos outros? Quem nunca se sentiu tentado um dia a “dizer toda a verdade”? A Quaresma é o momento ideal para pôr um fim a esta mania de falar em excesso. Descubra os benefícios dessa atitude
“Eu tinha a tendência de falar o que pensava, de expressar minha opinião sobre quase todos os assuntos com muita confiança. Por quê? Provavelmente porque estava certa de que esta era a única maneira de agir, de chamar a atenção para mim mesma. Mas um dia, por causa desta atitude, eu magoei profundamente minha melhor amiga. Foi uma experiência dolorosa que quase destruiu nossa amizade, mas ao menos me permitiu descobrir a virtude de ficar quieta”, disse Caroline, 39 anos, administradora de empresas, à reportagem.
Como Caroline, Marc, um vendedor de 42 anos, admite que ele vai muito além de suas habilidades quando tece comentários. “Eu não tenho formação médica, não tenho experiência geopolítica, nunca pratiquei esportes profissionais ou fui árbitro. Também nunca fui papa… E ainda assim, isto não me impede de expressar opiniões em abundância sobre estes assuntos. Não posso evitar: tenho tantas ideias e quero compartilhá-las. O problema é que muitas vezes estou errado e, na realidade, não tenho experiência em nada do que falo”, admite ele.
Talvez seja hora de perceber que não há necessidade de despejar nas redes sociais furiosamente seus pensamentos sobre todos os eventos atuais no mundo…
Na verdade, quem nunca deu conselhos indesejados aos outros? Quem nunca pensou – erroneamente, é claro – “que se eu pudesse governar o mundo e ajudar a todos a tomar decisões, tudo seria perfeito”? Quem nunca se sentiu tentado a “dizer toda a verdade”? Não seria o momento de deixar de dar conselhos e opiniões não solicitadas e praticar finalmente a arte do silêncio?
Os benefícios do silêncio
Talvez seja hora de perceber que não há necessidade de despejar nas redes sociais furiosamente seus pensamentos sobre todos os eventos atuais no mundo…
A grande revelação de dar uma pausa? Perceber que é inteiramente possível não ter opinião. Você não precisa ter uma resposta para tudo, ou fingir ter uma resposta, ou falar apenas para se ouvir falar. E se o silêncio permite que outros procurem a melhor maneira de viver a si, e que o mundo continue a se tornar melhor? Aqui estão mais algumas revelações sobre a arte de permanecer em silêncio. Algo para ser ponderado e praticado já… e sem moderação:
1 – VOCÊ PODE ESTAR ERRADO
Não é fácil para você ouvir os outros? Por exemplo, no trabalho em grupo, onde você tem que ter paciência para ouvir cada participante quando tem certeza de que sua ideia é a única opção possível. No entanto, com o benefício da visão a posteriori, quantas de suas próprias opiniões supostamente fortes realmente mudam? É difícil admitir isso. O resultado? Você perde muito tempo… continuando a estar errado.
Na maioria das vezes, você não tem todas as informações relevantes para formar uma opinião, muito menos para compartilhá-la
Seja uma nova estratégia dentro de sua empresa, uma opinião política que se revela completamente confusa, ou um compromisso religioso fortemente assumido que é realmente precipitado, ou uma questão mais pessoal, como os alimentos mais saudáveis para comer, a melhor maneira de criar filhos, ou como lidar com simples problemas interpessoais… Na maioria das vezes você não tem todas as informações relevantes para formar uma opinião, quanto mais compartilhá-la.
2 – MESMO SE VOCÊ ESTIVER CERTO, AS PESSOAS NÃO PRECISAM OUVIR
Há algo desconcertante em receber conselhos não solicitados. Especialmente se o conselho é dado com um ar de superioridade por alguém que não tenha ganho a confiança necessária. Quando um amigo confia em você sobre uma situação difícil, seu primeiro instinto pode ser intervir e tentar consertá-la, dizendo-lhes o que fazer ou como pensar.
Na realidade, isto pode ser muito irritante. Se seu amigo se abre para você, não é porque queira que lhe digam o que fazer. Eles estão à procura de empatia e apoio. É importante manter esta regra em mente: dar conselhos só é possível se alguém os pedir especificamente, e sempre começar lembrando-os de que você pode estar errado.
3 – PRATICAR O DESAPEGO A SUAS OPINIÕES
É essencial praticar o desapego a suas opiniões. A chave é vê-las com leveza e mudá-las rapidamente quando novas informações vierem à tona. Um bom desapego não significa que você deixe de se preocupar com o que está acontecendo. Não significa apatia. Ao contrário, trata-se de manter uma distância saudável de qualquer coisa que assuma uma importância desproporcional, inclusive opiniões pessoais.
Se, no passado, sua identidade foi construída sobre ter sempre a opinião certa para compartilhar, isto não é um bom sinal. É melhor construir sobre ser a pessoa que escuta e apoia.
4 – É HORA DE COLOCAR SEU EGO DE LADO
Por que muitas pessoas tendem a ser tão apegadas às suas opiniões pessoais? A única explicação possível não é lisonjeira: é porque reforça seu ego. O conselheiro é, supostamente, aquele que tem uma visão superior das coisas. Na realidade, ele se intromete nos assuntos dos outros para manter o controle ou para fazer-se sentir bem.
O conselheiro canibaliza gradualmente as relações e gera um sentimento permanente de insatisfação pessoal. Há muitas outras virtudes no mundo que são importantes: pacificação, aceitação, compromisso, humildade, prudência e, acima de tudo, amor. Eis o segredo a ser guardado: se você fala menos, você escuta mais. Quanto mais se escuta, mais se aprende e mais precisas se tornam suas opiniões.
São Paulo ensina quando e como usar o precioso dom da fala:
“Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem” (Ef 4,29).