Saúde
Cérebros das crianças são alterados pelo tempo que passam frente às telas
“Tanto os educadores como os cuidadores devem reconhecer que o desenvolvimento cognitivo das crianças pode ser influenciado pelas suas experiências digitais.”
Telas alteram o cérebro
Há poucos dias cientistas concluíram que nem todo tempo frente a uma tela é ruim para as crianças, mas um novo estudo usando dados de neuroimagens feitas ao longo de 23 anos mostra resultados mais preocupantes.
Os dados foram baseados em imagens cerebrais de mais de 30.000 crianças com idades até 12 anos, examinados em estudos separados feitos por diversas equipes.
Segundo essas imagens do cérebro, o tempo passado vendo televisão ou jogando jogos de computador tem efeitos mensuráveis e a longo prazo na função cerebral das crianças. Contudo, a exemplo do estudo anterior, embora as imagens mostrem impactos negativos, também mostram alguns efeitos positivos.
Especificamente, o tempo gasto frente a uma tela gera alterações no córtex pré-frontal do cérebro, que é a base das funções executivas, como a memória de trabalho e a capacidade de planejar ou responder com flexibilidade a situações. Também houve impactos no lobo parietal, que nos ajuda a processar toque, pressão, calor, frio e dor; no lobo temporal, importante para a memória, audição e linguagem; e no lobo occipital, que nos ajuda a interpretar as informações visuais.
“Tanto os educadores como os cuidadores devem reconhecer que o desenvolvimento cognitivo das crianças pode ser influenciado pelas suas experiências digitais,” disse o professor Hui Li, da Universidade de Educação de Hong Kong. “Limitar o tempo de tela é uma forma eficaz, mas desafiadora, e estratégias mais inovadoras, amigáveis e práticas poderiam ser desenvolvidas e implementadas.”
Efeitos positivos e negativos
Os dados mostram que as experiências digitais na primeira infância têm um impacto significativo na forma do cérebro das crianças e no seu funcionamento. Esses impactos são potencialmente positivos ou negativos – mas o lado negativo venceu.
Por exemplo, foram documentados impactos negativos sobre a forma como o tempo frente à tela influencia a função cerebral necessária para a atenção, capacidades de controle executivo, controle inibitório, processos cognitivos e conectividade funcional. Alguns experimentos sugeriram que um maior tempo de tela está associado a uma menor conectividade funcional em áreas do cérebro relacionadas com a linguagem e o controle cognitivo, potencialmente afetando o desenvolvimento cognitivo de modo negativo.
Os usuários de tablets apresentaram a pior função cerebral em tarefas de resolução de problemas. Os videogames e os usuários intensivos de internet apresentaram mudanças negativas em áreas do cérebro que impactam os marcadores de inteligência e o volume cerebral.
Por outro lado, seis experimentos demonstraram que as experiências digitais na primeira infância podem impactar positivamente a funcionalidade do cérebro de uma criança. Por exemplo, foi detectada melhora nas habilidades de foco e aprendizagem no lobo frontal do cérebro, e ao menos um experimento concluiu que jogar videogame pode aumentar a demanda cognitiva, melhorando potencialmente as funções executivas e as habilidades cognitivas das crianças.