Internacional
Ataque a campo de refugiados deixa 70 mortos, diz Hamas
Grupo radical islâmico chama bombardeio israelense de Al Maghazi na noite de Natal de “massacre” e diz que ao menos mais 30 pessoas morreram em outros campos de refugiados. Israel afirma que “investiga o incidente”
Ao menos 70 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas na noite de Natal (24/12) em um ataque aéreo israelense ao campo de refugiados de Al Maghazi, no centro da Faixa de Gaza, informou o grupo fundamentalista islâmico Hamas. A informação não pôde ser checada pela DW de forma independente. Os militares israelenses disseram à agência de notícias AFP que estão “investigando o incidente”.
“Trata-se de um novo massacre cometido pelo exército de ocupação israelense no campo de Al Maghazi, onde bombardearam quatro casas de famílias muçulmanas”, informou Ashraf al Qudra, porta-voz do Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. O grupo é classificado como terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por Israel
De acordo com a pasta, o sistema de saúde do sul do enclave palestino, onde Israel concentra agora a sua ofensiva, “está em colapso”, enquanto na metade norte já não existem hospitais em funcionamento.
Ashraf al Qudra ainda acusou as tropas israelenses de bombardearem a estrada principal que liga vários campos de refugiados na zona central do enclave “para dificultar o acesso de ambulâncias e da defesa civil”.
Sobre o ataque a Maghazi, fontes médicas do Hospital dos Mártires de Al Aqsa, indicaram que alguns corpos chegaram fragmentados em consequência da artilharia e dos ataques que atingiram várias casas.
O hospital também informou que recebeu dezenas de mortos e feridos em ataques aos campos de refugiados de Bureij e Nuseirat, também no centro do enclave, onde as tropas israelense ordenaram a evacuação na sexta-feira, forçando a deslocação de milhares de pessoas sob bombas.
Ao menos 30 mortos em outros campos
O Hamas também disse que os bombardeios seguiram nesta segunda-feira, com pelo menos 18 mortos na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, e doze mortos num ataque à aldeia de Al-Sawaida, no centro do território palestino. O diretor do hospital Nasser, o principal da cidade de Khan Yunis, informou que as pessoas chegaram com ferimentos graves que poderiam ser causados por “armas proibidas internacionalmente”, reportou a Wafa, agência de notícias oficial da Autoridade Nacional Palestina.
No norte, os ataques seguem sobretudo nas cidades de Beit Hanun e Jabalia – nesta última o Hamas afirma terem morrido 10 pessoas no ataque mais recente. As equipes da defesa civil de Gaza relataram que no norte do enclave, praticamente devastado pelos combates, existem centenas de corpos em decomposição devido qao difícil acesso, especialmente no campo de refugiados de Jabalia.
Conforme o Hamas, os intensos bombardeios israelenses em dois meses e meio de ofensiva mataram ao menos 20.400 habitantes de Gaza – 70% civis, incluindo mais de 8.000 crianças – e feriram mais de 54.000. Os números não puderam ser checados de forma independente.
Guerra será longa, diz Netanyahu
O exército israelense afirmou ter desmantelado um quartel militar subterrâneo no campo de Jabalia, de onde também partia uma extensa rede de túneis do Hamas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse no domingo que seu país paga “um alto preço pela guerra”, mas que “não há escolha a não ser continuar lutando”.
“A guerra será longa”, alertou.
Nesta segunda-feira, o exército israelense reportou a morte de dois soldados, elevando para 17 o número de vítimas desde sexta-feira. No total, 156 soldados israelenses foram mortos desde o início da ofensiva terrestre de Israel na Faixa de Gaza no final de outubro – ao menos 20 deles por fogo-amigo ou acidentes.
Os militares israelenses afirmam ter recuperado os corpos de cinco reféns – três soldados e dois civis – numa rede de túneis no norte da Faixa de Gaza.
Na declaração, porém, o exército israelense deixa em aberto a forma como os reféns morreram. O porta-voz militar Daniel Hagari destacou que as autópsias ainda estavam pendentes. O Hamas disse recentemente que alguns reféns foram mortos em ataques israelenses contra alvos na Faixa de Gaza. Por outro lado, também houve ameaças de execução de reféns.
Abbas pede “fim de rio de sangue”
No domingo, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, pediu o fim do “rio de sangue” e dos “imensos sacrifícios” do povo palestino em uma mensagem de saudação de Natal.
“O rio de sangue, os imensos sacrifícios, as dificuldades e a heroica resiliência de nosso povo em sua terra são o caminho para a liberdade e a dignidade”, disse o presidente da ANP, que governa pequenas partes da Cisjordânia ocupada.
A Cisjordânia ocupada também teve seu ano mais mortal desde 2002, o auge da violência na Segunda Intifada, com cerca de 510 mortos, mais da metade deles desde 7 de outubro.
Em Belém, na Cisjordânia ocupada, onde segundo a tradição cristã Jesus nasceu, a prefeitura suspendeu a maior parte das festividades e as ruas, que costumam ficar lotadas nesta época, estavam quase desertas.
Abbas expressou sua esperança de que este Natal marcará o fim da guerra israelense contra o povo palestino na Faixa de Gaza e no restante dos territórios palestinos ocupados, desejando “prosperidade e estabilidade para o povo palestino e todas as nações”.
“O sol da liberdade e do nosso Estado independente com Jerusalém como sua capital está inevitavelmente nascendo, quase ao nosso alcance”, disse o presidente em seu discurso de Natal.
“O povo palestino está determinado a continuar sua luta para conquistar seus direitos legítimos, sendo o principal deles o direito a um Estado independente e totalmente soberano, onde possam viver com dignidade em sua terra natal”, acrescentou.
O estopim do atual conflito foi um ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, quando o grupo terrorista matou mais de 1.200 pessoas e fez 240 reféns, segundo números de autoridades israelenses. Os ataques à Faixa de Gaza começaram por ar e, no final de outubro, Israel iniciou uma ofensiva por terra, primeiro no norte e, depois, estendida para o sul.
Desde o começo do atual conflito, a Faixa de Gaza vem sendo devastadas e seus 2,4 milhões de habitantes sofrem com a escassez de água, alimentos, combustível e medicamentos devido ao cerco imposto por Israel. A população depende do influxo de ajuda humanitária. Segundo a ONU, cerca de 80% da população foi deslocada pela guerra.
Os militares israelenses estimam que tenham matado cerca de 7.860 terroristas desde o início da guerra – o que corresponderia a quase 40% do número de mais de 20.400 mortes declarado pelo Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. As informações fornecidas por ambas as partes não puderam ser verificadas pela DW de forma independente.