Internacional
Será que Bollywood pode aproximar Índia e Paquistão?
Estrelas do cinema indiano têm legiões de fãs no Paquistão, apesar da rivalidade política entre as nações vizinhas. O que está por trás dessa popularidade?
As relações entre o Paquistão e a Índia raramente têm sido cordiais, principalmente por causa da disputa pelo território da Caxemira. Mas isso não impede que muitos cinéfilos paquistaneses sejam seguidores fervorosos de Bollywood e de suas estrelas.
Os filmes no Paquistão precisam ser liberados por conselhos regionais que censuram qualquer obra considerada uma violação dos valores sociais e culturais do país. E, desde 2019, os filmes produzidos pela indústria cinematográfica hindi da Índia, sediada na capital financeira do país, Mumbai, e mais popularmente conhecida como Bollywood, não são permitidos nos cinemas paquistaneses.
Quando o sucesso de bilheteria Pathaan, com o ator Shah Rukh Khan, foi exibido clandestinamente no opulento bairro DHA de Karachi, em janeiro de 2023, o conselho de censura da província de Sindh, no sul do Paquistão, onde a cidade está localizada, impediu que o longa seguisse em cartaz.
Atores e idioma hindi: fortes atrativos
Além de Shah Rukh Khan, conhecido como o Rei de Bollywood, cuja última comédia-drama Dunki foi lançada nos cinemas no início deste mês, outros atores de Bollywood, como Aamir Khan, Deepika Padukone e Ranbir Kapoor, têm muitos admiradores no Paquistão.
Nos últimos anos, os filmes produzidos na parte sul da Índia, ou dirigidos por diretores vindos do sul, ganharam popularidade no Paquistão por causa de seus enredos orientados para a ação e para a tecnologia.
Além do apelo de Bollywood, outro atrativo é o idioma hindi usado nos filmes. O hindi é semelhante ao urdu, idioma amplamente falado no Paquistão, de maioria muçulmana. Além disso, alguns dos artistas e técnicos que trabalham em Bollywood são de origem muçulmana.
Bollywood: Marketing ou entretenimento?
Apesar das tensões entre a Índia e o Paquistão, aspectos culturais semelhantes entre as duas nações persistem, principalmente quando se trata de filmes e música.
“Ouvi um apresentador de TV outro dia falar sobre o assunto. Ele achava que antes de 1947, na Índia não dividida, estávamos fazendo filmes parecidos”, disse o ator paquistanês Mohib Mirza à DW.
“Nossos heróis também cantavam canções nos vales e ao redor das árvores. Mas acho que influência é outro assunto. Bollywood não é original, ela é fortemente influenciada por muitos outros países”, disse Mirza.
“O motivo pelo qual nosso público assiste a filmes indianos é a maneira como eles comercializam seu material”, acrescentou Mirza. “Não importa o que aconteça, receberemos as notícias sobre o que está acontecendo na Índia.”
O jornalista Ghazi Salahuddin discorda da opinião de Mirza. “Bollywood tem muita influência no Paquistão, principalmente porque seus filmes são amplamente assistidos no país por sua qualidade e conteúdo de entretenimento, algo que nos falta”, argumenta Salahuddin.
“Eles também se adaptaram ao avanço tecnológico”, disse. “Eles têm um grande mercado internacional e, por isso, podem se dar ao luxo de fazer experiências e gastar muito dinheiro em suas produções cinematográficas. O sucesso econômico da Índia também tem um papel importante nisso.”
Os filmes indianos e paquistaneses têm em comum sequências de música e dança, segundo o cineasta Shoaib Sultan, cuja estreia na direção, Gunjal, foi lançado nos cinemas em 15 de dezembro. “É um setor enorme. Nosso público assiste, pois é divertido e maior do que a vida cotidiana.”
Falta de filmes paquistaneses
Como o Paquistão não tem um grande setor cinematográfico próprio, os distribuidores de filmes e os proprietários de cinemas do país dependem, em grande parte, dos lançamentos dos grandes estúdios de Hollywood para manter seus negócios em funcionamento.
“Enquanto nós, no Paquistão, não fizermos filmes, as pessoas continuarão assistindo a Bollywood”, disse o distribuidor e exibidor de filmes Nadeem Mandviwalla.
“Esses são os dois únicos países do mundo que fazem filmes da mesma maneira: sequências de música e dança, vestidos e o idioma, etc.”, disse ele. “Eles o chamam de idioma hindi e nós o chamamos de urdu.”
“Os ativistas da paz de ambos os lados continuam tentando baixar a temperatura no campo político”, disse Salahuddin. “Indianos e paquistaneses viajam muito e têm grandes diásporas, por isso se encontram em outras partes do mundo”.
Mandviwalla destaca a importância dos filmes indianos no Paquistão. “Nosso povo sabe muito sobre a Índia por causa da exposição aos filmes indianos”, disse o distribuidor. “Nos últimos 40 anos, o público paquistanês tem assistido a conteúdo de Bollywood”.
Mas, desde que o Paquistão proibiu os filmes indianos em 2019, os exibidores e distribuidores do país têm enfrentado dificuldades.
“Nós, exibidores, comunicamos ao governo que só há duas opções: permitir o conteúdo indiano ou fazer pelo menos 100 a 150 filmes por ano, o que ajudará o setor cinematográfico paquistanês a se manter de pé”, disse Mandviwalla.
Enquanto os líderes governamentais trabalham para resolver as diferenças políticas entre os países vizinhos, seus habitantes podem continuar a se concentrar em suas semelhanças culturais.