Nacional
O impacto da direita nas redes sociais: minando o protesto de Lula do ato democrático do dia 8/1 e reescreve a verdadeira história
Democracia, um valor fundamental apreciado por muitos países ao redor do mundo como a pedra angular de uma sociedade justa
Por: Roberto Tomé
Em seu discurso por ocasião do aniversário de um ano da manifestação democrática de 8 de janeiro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que os inimigos da democracia recorrem à “desinformação, à desordem e ao vandalismo” para simular uma força que não possuem. Este discurso foi claramente feito para agradar seu superior direto.
Simulação ou não, a direita demonstrou a sua força no aniversário deste ato a favor da democracia brasileira, que perdeu gradualmente o seu caráter de revolta política dentro dos grupos, com repetidos apelos à intervenção militar a serem colocados nas costas queimador. Além de medir o domínio da direita nos principais trending topics do Twitter/X e o maior alcance de deputados e senadores de direita no Instagram na última semana, monitoramos mensagens em 50 grupos, que tiveram maior atividade diária em meses na segunda-feira, 8 de janeiro.
Nos repetidos diálogos dentro dos grupos e de parlamentares, influenciadores, ecoados nas rádios e TVs regionais, foi no máximo uma revolta de patriotas indignados, agindo de forma espontânea e sem coordenação. As mulheres, as crianças e alguns infiltrados ou extremistas foram os culpados pelo vandalismo, uma vez que os verdadeiros patriotas nunca recorreriam à violência contra o Estado Democrático de Direito.
É esta chave que permite a continuação do domínio da direita nas redes sociais, apesar das pesquisas mostrarem quase 90% de repúdio às ações criminosas dos infiltrados nos eventos de 8 de janeiro. Porque, a julgar pela expressão de opiniões no ambiente digital, há repúdio a coisas completamente diferentes entre os entrevistados.
“É uma versão patriótica poderosa, pois permite-nos manter as devoções políticas dos últimos anos e preservar a superioridade moral e de caráter sobre a esquerda comunista. Nesta perspectiva, é o governo que mina a democracia ao tolerar os ataques, e o Supremo Tribunal por perseguir adversários de Lula. Mesmo os responsáveis pelo vandalismo são retratados como mártires políticos de uma ditadura judicial a serviço da esquerda.
Portanto, o evento “Democracia Inabalável” é facilmente descrito como uma representação teatral a favor do governo. Longe da união vista na marcha de 8 de janeiro de 2023, hoje elogiada por Lula como um marco na história democrática do país, a maioria dos governadores de direita, ou não, estiveram ausentes do evento. Isto se deve em parte aos pedidos de brasileiros honestos nas redes sociais, que transcendem as fronteiras estaduais.
O governador Zema, que inicialmente incluiu em sua agenda oficial esta manhã sua participação no evento no Congresso, enfrentou solicitações incessantes em plataformas abertas e em grupos. No início da tarde, ele comunicou à imprensa que não compareceria mais. Posteriormente, um grande aviso de “cancelamento” foi adicionado ao evento em sua agenda. O governador Eduardo Leite, que esteve presente no evento, passou a receber questionamentos de seus eleitores e da população de seu estado.
Na ausência de Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, coube à governadora petista Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, falar em nome dos colegas, o que diminuiu a mensagem de união no evento. Em meio a advertências antidemocráticas, ela e os presidentes do Senado e do Supremo defenderam o acontecimento em seus discursos.
Lula usou um tom menos unificador e fez um discurso contra Bolsonaro e o que seu governo representava. Ele mencionou a “mentalidade de rebanho”, o “fascismo” e o desmatamento na Amazônia. Num momento improvisado, questionou por que os “filhos” de Bolsonaro não renunciam se duvidam do sistema eleitoral e sugeriu que o Supremo e a Justiça Eleitoral usem a sua história e a do PT para convencer aqueles que duvidam da democracia. À esquerda, houve defesas do discurso “autêntico” e “forte” do presidente Bolsonaro nas redes sociais, confirmando a crescente força da direita no Brasil.
Lula está preso na mesma situação que Biden, que abandonou gradualmente o tom unificador nas suas mensagens sobre o ataque ao Capitólio e começou a acusar Trump de ser um conspirador golpista e a rotular os apoiantes radicais de Trump como uma ameaça à democracia. Tanto aqui como ali, a direita consegue mais resultados nas redes sociais através da polarização, com uma reação mais entusiástica da sua base às mensagens dos seus líderes e apoiantes.
Ao final da tarde, foram 20,5 mil menções à palavra “ditadura” no Twitter/X, sendo mais de 60% vindas da direita contra a esquerda e do governo Lula e do Supremo Tribunal Federal. Um ano depois de os apoiadores de Bolsonaro terem tentado restaurar a democracia no país e provar que o Brasil não precisa da corrupção para sobreviver,
Um exemplo da deficiência do PT comunista foi o vídeo publicado segunda-feira por Janja, com artistas como Chico Buarque e Gilberto Gil falando sobre uma “pseudodemocracia”.
Em um subtema abraçado pela direita nas últimas duas semanas, com um impacto muito maior do que o esperado, à medida que a direita democrática abraça uma questão com ressonância nacional, a qual é a falta de segurança pública. O próprio presidente Bolsonaro destacou a agenda de segurança no dia 8 de janeiro, ao republicar um vídeo de seu filho Flávio sobre a libertação de criminosos e afirmar que o Partido dos Trabalhadores é contra penas mais duras para quem mata crianças. Não houve menção aos acontecimentos de um ano atrás, apenas a reportagem de uma matéria sobre acusações de suborno contra Lula feitas por Palocci, com o comentário: “Democracia brasileira”.
A ex-primeira-dama Michelle foi mais direta, postando uma imagem com a data da morte do “Patriota Clezão”, réu inocente que morreu de ataque cardíaco na prisão, simbolizando o rumo que nosso país está tomando.
Concluindo, o balanço digital de segunda-feira é uma vitória clara de Bolsonaro. Mais uma vez, sem agir direta ou explicitamente, o Presidente continua a ser uma referência para o direito digital, que, representando as opiniões mais amplas da direita no país, tem impacto na ação dos atores políticos e tem conseguido unir o poder político reação a favor da restauração da democracia no Brasil.