Internacional
Obstáculos tornam nível de ajuda “catastrófico” em Gaza
Agências da ONU relatam que é quase impossível distribuir auxílio além de Rafah e pedem acesso a todas as cinco províncias da região; situação na fronteira é encarada como “desumana”, com pessoas vivendo em meio ao lixo e desnutrição infantil; missão para entrega de medicamentos a reféns recebe autorização
Os profissionais humanitários da ONU alertam que o nível de assistência a muitos habitantes de Gaza é “quase catastrófico”.
De acordo com o Programa Mundial de Alimentos, PMA, a violência contínua tornou quase impossível distribuir apoio muito além de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. No local, mais de 1,2 milhão de pessoas se abrigam em condições perigosamente saturadas, usando lençóis plásticos.
Entrega de medicamentos para reféns
O líder de comunicações do PMA para o Oriente Médio e Norte da África, Abeer Atefa, disse que “em áreas além de Rafah, a assistência é quase catastrófica”.
Ele ecoou os apelos de diversas agências da ONU por maior acesso a todas as cinco províncias de Gaza.
Dos mais de 100 israelenses ainda mantidos como reféns na área, foi relatado que cerca de 45 precisam de tratamento para doenças crônicas ou outros medicamentos essenciais.
Segundo agências de notícias, medicamentos para reféns israelenses teriam sido autorizados a entrar em Gaza pela primeira vez na quinta-feira, juntamente com uma remessa de suprimentos de ajuda para palestinos, sob um acordo mediado pelo Catar e pela França.
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Missões humanitárias negadas e interrompidas
Nas duas primeiras semanas do ano, as agências humanitárias planejaram 29 operações para entregar suprimentos essenciais no norte de Wadi Gaza, mas apenas uma em cada quatro foram aprovadas pelas autoridades israelenses, de acordo com o Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha.
Profissionais humanitários da ONU observaram ainda que duas missões adicionais originalmente coordenadas com as autoridades israelenses “não puderam ser concluídas devido à inviabilidade das rotas alocadas ou atrasos excessivos nos postos de controle, o que não permitiu que as missões tivessem sucesso durante as janelas de operação seguras”.
Em sua última atualização na noite de quarta-feira, o Ocha relatou bombardeios israelenses “intensos” e contínuos contra Gaza e disparos de foguetes contra Israel por grupos armados palestinos.
Condições “desumanas” e impacto nas crianças
O vice-diretor executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, acaba de terminar uma visita de três dias à Faixa de Gaza. Em comunicado divulgado nesta quinta-feira, ele disse que teve encontros com crianças e suas famílias, que sofriam algumas das condições mais horríveis que ele já observou.
Ted Chaiban disse que “a situação passou de catastrófica a quase colapso”. O Unicef descreveu Gaza como o lugar mais perigoso do mundo para ser criança. Das quase 25 mil pessoas mortas, cerca de 70% são mulheres e crianças.
O vice-diretor da agência ressaltou que a grande parte de civis na fronteira em Rafah vive em condições “desumanas”.
Ao descrever a situação, ele disse que “a água é escassa e o saneamento precário é inevitável. O frio e a chuva desta semana criaram “rios de lixo”. A pouca comida disponível não atende às necessidades nutricionais específicas das crianças. Como resultado, milhares de crianças estão desnutridas e doentes”.
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Crise hídrica
A devastação causada pela guerra deixou apenas uma das três tubulações de abastecimento de água de Israel para Gaza funcionando.
De acordo com o Ocha, a tubulação de água Deir al Balah, cuja capacidade é de cerca de 17 mil metros cúbicos de água por dia, precisa urgentemente de reparos.
Segundo a agência, mais de 160 habitantes de Gaza morreram nos últimos dois dias e outros 350 ficaram feridos, conforme dados das autoridades de saúde locais, elevando o número total de palestinos mortos desde o início da guerra para mais de 24.400.
Três soldados israelenses também teriam sido mortos em confrontos em Gaza na terça e quarta-feira, observou o Ocha, o que significa que 191 combatentes israelenses morreram desde 7 de outubro.