AGRICULTURA & PECUÁRIA
Mais uma safra rentável para os produtores de algodão
Clima está menos favorável, mas área plantada cresceu, demanda externa está firme e preços estão atraentes
Se a safra 2022/23 foi de recuperação para os produtores de algodão do país, marcada por forte crescimento da colheita e das exportações, a temporada atual tende a ser de consolidação da boa fase. O clima está menos favorável, é verdade, e com isso a produtividade deverá diminuir neste ciclo 2023/24, mas a área plantada vai crescer e o cenário é positivo para os preços, tendo em vista a expectativa de aumento da demanda, sobretudo no exterior.
Segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), a colheita aumentou 28% em 2022/23, para 3,3 milhões de toneladas da pluma. Para 2023/24, a entidade espera leve crescimento, para 3,4 milhões, determinado por um avanço de 11,6% da área de cultivo, que poderá chegar a 1,9 milhão de hectares.
A Abrapa está mais otimista que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que projeta incremento de 6,2% da área, para 1,8 milhão de hectares, mas queda de 2,3% da produção, para 3,1 milhões de toneladas, devido à queda do rendimento das lavouras.
“Estamos torcendo pelo clima. Não está tão bom como foi em 2022/23, mas esperamos que se mantenha favorável. O plantio deverá estar praticamente concluído até o fim deste mês”, disse Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa.
Atraentes, os preços motivaram parte do crescimento da semeadura, mas houve um flagrante avanço de algodão em áreas que no ano passado foram plantadas com milho (segunda safra), que está com cotações em baixos patamares. O calor e as chuvas irregulares que prejudicaram a soja no Centro-Oeste também deixaram áreas livres para a semeadura de algodão.
Em Mato Grosso, Estado que lidera a produção nacional, esse movimento foi marcante e poderá inflar os números finais de colheita no Estado. Por enquanto, a AMPA, entidade que representa os cotonicultores do Estado, prevê que as plantações de algodão ocuparão 1,35 milhão de hectares em 2023/24, ante 1,2 milhão em 2022/23, e que a colheita alcance 2,4 milhões de toneladas da pluma, pouco acima do ciclo passado (2,34 milhões). A produtividade média deverá recuar de 311,34 arrobas por hectare, um recorde, para 284,35 arrobas.
“Não será como o ano passado, mas ainda poderemos ter surpresas positivas, principalmente se as chuvas se estenderem até abril e maio”, afirmou Orcival Gouveia Guimarães, vice-presidente da AMPA e sócio-diretor da Boa Esperança, empresa produtora com sede em Lucas do Rio Verde.
A companhia vai plantar 33,8 mil hectares, e os trabalhos já foram concluídos em 90% dela. Segundo ele, os custos estão elevados, mas os preços compensam, embora pudessem estar um pouco mais elevados.
A depender da demanda internacional, é possível que as cotações ainda subam, embora a safra dos Estados Unidos tenda a se recuperar dos problemas climáticos que permitiram que o Brasil ampliasse suas exportações em 2022/23. Segundo a Abrapa, os embarques vão atingir 2,4 milhões de toneladas entre agosto do ano passado e julho próximo, 66% mais que no ano-móvel anterior.
Em dezembro, as exportações alcançaram 350,8 mil toneladas, o dobro que em 2022, e renderam US$ 682,4 milhões. “Houve problemas nos EUA, mas esse aumento mostra que a qualidade do algodão brasileiro é reconhecida no mundo”, disse Schenkel.
Guimarães pondera, entretanto, que os exportadores têm enfrentado muitos gargalos no principal porto de escoamento, em Santos. “O porto já estava no limite há cinco anos, e de lá para cá os volumes cresceram. Paranaguá, no Paraná, ajuda, mas pouco, e é preciso investir no Arco Norte”, afirmou. Outro problema são os conflitos que se proliferaram no mundo, que truncam o fluxo de comércio e elevam custos.
Schenkel lembrou que quase 85% da produção do país é certificada com selos que atestam sua sustentabilidade. Os principais mercados para o algodão do Brasil são a China e outros países da Ásia, como Bangladesh, Indonésia, Paquistão e Vietnã, além da Turquia.
Segundo a Abrapa, 47% das exportações estimadas até julho ainda têm que ser enviadas a seus destinos. Ao mesmo tempo, a comercialização antecipada da safra 2023/24 segue acelerada, e em Mato Grosso cerca de 50% da colheita prevista já está com preços fixados.
O Ministério da Agricultura calcula que o valor bruto da produção da pluma (“da porteira para dentro”) somará R$ 26,4 bilhões este ano no Brasil, 13,5% menos que em 2023. A conta é resultado da queda da colheita estimada pela Conab e por uma modesta baixa de preços.
Na bolsa de Nova York, os contratos futuros da commodity estão relativamente firmes, com leve queda de cerca de 1% nos últimos 12 meses, mas a pressão deverá aumentar com a entrada da nova safra americana. Por outro lado, o crescimento da economia chinesa poderá ganhar tração com as medidas de estímulo de Pequim, o que ampliaria a demanda do país.