Saúde
Cientistas propõem novo modo de diagnosticar doença de Parkinson
Hoje a doença de Parkinson só é diagnosticada depois de o paciente estar doente por mais de uma década
Novo modo de lidar com Parkinson
Uma das coisas que torna tão desafiador o desenvolvimento de tratamentos eficazes para a doença de Parkinson é a sua complexidade. Embora algumas formas sejam causadas pela genética, outras têm fatores ambientais e os pacientes podem apresentar uma ampla gama de sintomas de gravidade variável. O diagnóstico do Parkinson também é feito atualmente tardiamente, após a doença já estar no cérebro há uma década ou mais.
Um grupo de cientistas agora está propondo que esta complexidade exija uma nova forma de classificar a doença para fins de pesquisa, baseada não no diagnóstico clínico, mas na biologia. Os autores chamaram seu modelo biológico de “SynNeurGe”.
O “Syn” significa alfa-sinucleína, uma proteína que na maioria dos pacientes de Parkinson causa depósitos anormais chamados corpos de Lewy. As anormalidades na sinucleína identificam e provavelmente causam alterações degenerativas no cérebro que podem afetar o movimento, o pensamento, o comportamento e o humor.
“Neur” significa neurodegeneração. Esta é a quebra da função dos neurônios no cérebro. Nos consultórios médicos, o modo de diagnosticar Parkinson consiste em checar neurônios específicos do sistema dopaminérgico. No modelo SynNeurGe, entretanto, a neurodegeneração em todas as áreas do cérebro está incluída na classificação.
O “Ge” significa genética. O papel da genética no Parkinson é complexo. Já se descobriu que mutações em muitos genes diferentes predispõem uma pessoa à doença, mas a probabilidade de desenvolver a doença de Parkinson depende do gene envolvido, da mutação específica dentro do gene e da exposição ambiental.
Diagnóstico a tempo
Os autores da recomendação defendem que, para fins de pesquisa científica, os pacientes devem ser classificados pela presença ou ausência desses três fatores. Isto permitiria a identificação dos pacientes de Parkinson antes do aparecimento dos sintomas e ajudaria no desenvolvimento de tratamentos adaptados à biologia única de cada paciente.
Hoje, os pacientes são diagnosticados com base em sintomas e sinais, embora a doença possa estar presente no cérebro há muitos anos. Ao mudar os critérios de classificação, os cientistas podem identificar a doença mais cedo, mesmo antes de as pessoas apresentarem sintomas, e atingir grupos específicos de pacientes que têm mais em comum entre si biologicamente, dando ao desenvolvimento de medicamentos uma maior probabilidade de sucesso.
“Embora isto ainda seja para fins de pesquisas, esta é uma grande mudança de pensamento,” disse o Dr. Ron Postuma, da Universidade McGill (Canadá) e um dos autores do estudo. “Se você pensar bem, é bastante incomum termos que esperar até que os pacientes de Parkinson apresentem sintomas importantes para só então podermos fazer um diagnóstico. Não esperamos que alguém sinta a dor do câncer antes de diagnosticá-lo. Em vez disso, nós o detectamos e diagnosticamos, com sorte antes que alguém perceba qualquer sintoma. Esta classificação de pesquisa é um passo crítico para trazer nosso pensamento sobre o Parkinson para o século 21.”