Nacional
Deputados de partidos que integram governo assinam pedido de impeachment de Lula
Dos 96 assinaturas do pedido de impeachment na noite desta segunda-feira, 23 eram de deputados do PP, Republicanos, PSD ou União Brasil, que comandam pastas do governo
Pelo menos 23 deputados federais de partidos que integram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinaram o pedido de impeachment do petista. O documento, articulado pela oposição, aliada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mira a comparação de Lula entre os ataques de Israel na Faixa de Gaza, em meio à guerra contra o Hamas, ao Holocausto, que foi a perseguição e o assassinato de judeus na Alemanha nazista por Adolf Hitler.
Até o início da tarde desta segunda-feira (19), o pedido de impeachment contava com 96 assinaturas. A maioria é de deputados do PL, mas há também rubricas do PP, do Republicanos, do União Brasil e do PSD. Juntos, os quatro partidos comandam oito dos 38 ministérios totais de Lula.
O PSD tem três cadeiras no primeiro escalão desde o início do governo Lula: Carlos Fávaro na Agricultura; André de Paula na Pesca; e Alexandre Silveira em Minas e Energia.
O União Brasil tem a mesma quantidade. Juscelino Filho e Waldez Góes, das Comunicações e Integração e Desenvolvimento Regional, respectivamente, estão nos cargos desde janeiro de 2023. Já a pasta do Turismo começou sob o comando de Daniella Carneiro, mas passou para Celso Sabino em uma disputa interna do partido.
Já o PP e o Republicanos entraram no governo em setembro, em uma negociação direta do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A troca foi aceita por Lula, que esperava ter maior apoio na aprovação de projetos de interesse do governo na Câmara.
Na ocasião, Silvio Costa Filho, do Republicanos, assumiu o Ministério de Portos e Aeroportos, enquanto André Fufuca, do PP, ficou com o comando da pasta do Esporte. Apesar da presença no governo, esses dois partidos permaneceram “rachados” no Congresso Nacional, com parlamentares que se dividiram entre apoio e oposição a Lula.
Veja abaixo os nomes dos deputados de partidos que integram o governo que assinaram o pedido de impeachment:
- Alfredo Gaspar (União-AL)
- Clarissa Tércio (PP-PE)
- Coronel Assis (União-MT)
- Coronel Ulysses (União-AC)
- Coronel Telhada (PP-SP)
- Cristiane Lopes (União-RO)
- Dayany Bittencourt (União-CE)
- Delegado Fábio Costa (PP-AL)
- Evair Vieira de Melo (PP-ES)
- Mariana Carvalho (Republicanos-MA)
- Nicoletti (União-RR)
- Messias Donato (Republicanos-ES)
- Reinhold Stephanes Jr (PSD-PR)
- Roberto Duarte (Republicanos-AC)
- Rodrigo Valadares (União-SE)
- Sargento Fahur (PSD-PR)
- Kim Kataguiri (União-SP)
- Rosângela Moro (União-SP)
- Zucco (Republicanos-RS)
- Zacharias Calil (União-GO)
- Pedro Lupion (PP-PR)
- Delegado Palumbo (MDB-SP)
- Dr. Fernando Máximo (União-RO)
Entenda fala polêmica de Lula sobre Israel
O pedido de impeachment pede que Lula perca o cargo de presidente por “crime de responsabilidade contra a existência política da União”. O grupo aponta que o petista cometeu “ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”. A ação é passível de punição.
No domingo (18), em entrevista à imprensa na Etiópia, Lula declarou: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus”. A fala foi entendida como direcionada a Israel, que faz ataques em Gaza.
A declaração gerou uma série de reações. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a classificou como “vergonhosas e graves”. “Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa e fá-lo ao mesmo tempo que defende o direito internacional”, acrescentou, anunciando a convocação imediata do embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, “para uma dura conversa de repreensão”.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, decidiu levar Meyer ao Yad Vashem, o memorial oficial de Israel, para lembrar os judeus que foram vítimas do Holocausto. Normalmente, o encontro aconteceria na sede da pasta no país. Katz declarou que Lula é “persona non grata” e não será bem-vindo ao país até que se retrate de declarações. “Não esqueceremos nem perdoaremos”, destacou. Essas reações das autoridades israelenses devem pautar os discursos do ato de Bolsonaro.
A primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja, declarou que “a fala [de Lula] se referiu ao governo genocida e não ao povo judeu”. “Tenho certeza que se o Presidente Lula tivesse vivenciado o período da Segunda Guerra, ele teria da mesma forma defendido o direito à vida dos judeus”, completou.