CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Mergulhar nos jogos eletrônicos traz riscos e benefícios
Se você tem problemas com o escapismo, saiba que você não pode simplesmente correr dos seus problemas
Escapismo
A popularidade dos jogos digitais no Brasil é inegável: O país entrou para a lista dos dez maiores mercados do mundo e o número de jogadores já supera os 100 milhões – quase dois terços da população afirmam jogar.
Não por acaso, cresce a preocupação com os impactos dos jogos na saúde física e mental, especialmente de crianças e jovens – Por que tantas pessoas ocupam-se tanto com jogos eletrônicos?
Em busca de respostas bem fundamentadas, pesquisadores brasileiros fizeram um levantamento em toda a literatura científica, procurando estudos que abordaram essa questão. Eles então juntaram todos os estudos e compuseram uma conclusão geral, no que se convenciona chamar um “meta-análise”.
A conclusão geral é que uma das principais razões pelas quais as pessoas buscam jogos virtuais é o escapismo, a tentativa de escapar da realidade em um mundo ficcional. O escapismo é um hábito relacionado a problemas de saúde psicológica, emocional e mental, também observado em casos de dependência de álcool, vício em pornografia e vício em redes sociais.
Se você tem problemas com o escapismo, saiba que você não pode simplesmente correr dos seus problemas
Os cientistas também observaram uma associação entre escapismo e narcisismo, um transtorno de personalidade marcado pela sensação de grandiosidade, bem como com falta de sucesso de estratégias cognitivas e comportamentais para lidar com exigências internas e externas, desenvolvimento do transtorno do jogo pela internet (TJI), solidão e dificuldade na regulação emocional.
Além disso, segundo os 36 estudos científicos analisados, feitos em dezenas de países, a busca por escapar da vida real pode ser exacerbada por fatores como ansiedade social, antecedentes competitivos, sofrimento psiquiátrico e baixa autoestima.
Quando o escapismo traz benefícios
Por outro lado, as pesquisas não mostraram apenas notícias preocupantes. O primeiro ponto a se considerar, dizem os pesquisadores, é que o escapismo não é a única motivação para jogar. A possibilidade de se tornar poderoso, o interesse na mecânica do jogo (números e percentagens), a competição, a socialização, o relacionamento, o trabalho em equipe, a descoberta e exploração do mundo, a interpretação de personagem e a personalização também têm sido relatados na literatura científica.
“Os jogos eletrônicos não são exclusivamente um ato de escapismo, mas uma forma de diversão. A natureza positiva ou negativa da prática depende de fatores como o contexto cultural,” disse Lucas Marques, da Faculdade de Medicina da USP.
Além disso, o escapismo poderia funcionar como estratégia de regulação emocional ao distrair a atenção do jogador de situações emocionalmente intensas e promover confiança, determinação, sentimento de pertencimento e representação em comunidades virtuais, além de mitigar a solidão em pessoas ansiosas.
“Um dos artigos analisados na revisão tratava justamente de pessoas que jogavam para escapar da realidade do desemprego e conseguiam atingir um estado de autoconclusão – ao passar fases, experimentavam aumento de autoestima e bem-estar,” contou Lucas.