Saúde
Mapeadas bactérias que ajudam o câncer ou atrapalham os tratamentos
Foi necessário criar um programa especial de computador para analisar a enormidade de dados.
Bactérias nos tumores
Pesquisadores do Instituto Holandês do Câncer compilaram um catálogo detalhado das bactérias que vivem nas metástases do câncer, os tumores secundários que surgem conforme a doença se espalha.
Após analisar mais de 4.000 tumores, eles criaram um censo que mostra uma diversidade inesperada desses co-habitantes e como eles podem interagir com as células cancerígenas e com o seu entorno – por exemplo, certas bactérias foram associadas a uma pior resposta à imunoterapia.
Este mapeamento abre caminho para uma melhor compreensão de como as bactérias ajudam o câncer a se espalhar ou atrapalham as terapias, e como podemos usar isso em benefício dos pacientes.
A maioria dos pacientes com câncer morre das metástases, e muitos tratamentos visam esses tumores secundários, mas até agora pouco se sabia sobre as bactérias presentes nessas metástases.
A análise de 4.000 tumores, de 26 tipos diferentes de câncer gerou uma enormidade de dados (400 terabytes), de modo que foi necessário usar um programa de computador para descobrir quais bactérias se alojam onde.
Bactérias não vêm dos intestinos
O esperado era que, como a maioria de nossas bactérias reside nos intestinos, de onde elas poderiam viajar durante a metástase para outras partes do corpo, a maioria das bactérias a serem encontradas nos tumores viria de lá. Mas não foi isso o que os dados mostraram.
“Surpreendentemente, não são apenas as metástases do câncer de cólon que contêm muitas bactérias,” contou o pesquisador Thomas Battaglia. “Além disso, as bactérias presentes em uma metástase estão fortemente relacionadas à localização no corpo, às condições e ao tipo de câncer.”
Os pesquisadores também descobriram uma ligação entre as bactérias e a eficácia das terapias anticâncer. Pacientes com câncer de pulmão e Fusobacterium nas metástases, por exemplo, tiveram uma pior resposta à imunoterapia do que pacientes sem essa bactéria.
“Nosso trabalho abre portas para a exploração de novas formas de tratamento, por exemplo contra bactérias que podem ajudar o tumor,” disse a pesquisadora Iris Mimpen. “Isso nos ajuda a entender como funciona o ambiente complexo dos tumores, um ambiente em que todos os tipos de células – incluindo bactérias – vivem juntas e influenciam umas às outras.”