Saúde
Produtos químicos domésticos comuns ameaçam saúde do cérebro
Inimigo íntimo
Produtos químicos domésticos comuns, alguns exigidos por normas técnicas, podem na verdade representar um perigo para a saúde do cérebro.
O Dr. Erin Cohn e seus colegas da Universidade Case Western (EUA), anunciam haver motivos suficientes para suspeitar que compostos químicos encontrados em uma ampla gama de produtos – desde móveis até produtos para cabelo – podem estar ligados a doenças neurológicas como esclerose múltipla e distúrbios do espectro do autismo.
Os problemas neurológicos afetam milhões de pessoas, mas apenas uma fração dos casos pode ser atribuída apenas à genética, indicando que fatores ambientais desconhecidos ou ainda não reconhecidos são contribuintes importantes para essas doenças.
O novo estudo descobriu que alguns produtos químicos domésticos comuns afetam especificamente os oligodendrócitos do cérebro, um tipo de célula especializada que gera o isolamento protetor ao redor das células nervosas. Sem proteção, o cérebro pode começar a sofrer danos ou ficar suscetível a outros fatores ambientais que, em condições normais, nada causariam.
“A perda de oligodendrócitos está subjacente à esclerose múltipla e outras doenças neurológicas,” disse o professor Paul Tesar, coordenador da equipe. “Mostramos agora que compostos químicos específicos em produtos de consumo podem prejudicar diretamente os oligodendrócitos, representando um fator de risco anteriormente não reconhecido para doenças neurológicas.”
Você sabia que só 15% do seu cérebro são neurônios? – um oligodendrócito (verde) estendendo várias ramificações para contatar os axônios (roxo) e isolá-los com mielina.
Os retardantes de chamas podem estar aumentando o problema que deviam solucionar.
Ameaça aos oligodendrócitos
Os pesquisadores analisaram mais de 1.800 compostos químicos de venda livre e que entram em contato com os seres humanos. Eles identificaram produtos químicos que danificam seletivamente os oligodendrócitos pertencentes a duas classes: retardantes de chama organofosforados e compostos de amônio quaternário.
Uma vez que os compostos de amônio quaternário estão presentes em muitos produtos de cuidados pessoais e desinfetantes, que têm sido utilizados com mais frequência desde o início da pandemia de covid-19, os seres humanos estão regularmente expostos a esses produtos químicos. E muitos eletrônicos e móveis incluem retardadores de chama organofosforados.
Os pesquisadores demonstraram como esses compostos químicos danificam os oligodendrócitos no cérebro em desenvolvimento de camundongos e associaram a exposição a um dos produtos químicos a maus resultados neurológicos em crianças.
“Descobrimos que os oligodendrócitos – mas não outras células cerebrais – são surpreendentemente vulneráveis a compostos de amônio quaternário e retardadores de chama organofosforados,” reforçou Cohn. “Compreender a exposição humana a estes produtos químicos pode ajudar a explicar um elo perdido na forma como surgem algumas doenças neurológicas.”
A equipe alerta que são necessárias mais pesquisas sobre a associação entre a exposição humana a esses produtos químicos e os efeitos na saúde do cérebro. A orientação é que pesquisas futuras rastreiem os níveis químicos desses compostos nos cérebros de adultos e crianças, para determinar a quantidade e a duração da exposição necessária para causar ou agravar uma doença neurológica.