Educação & Cultura
Acervo de Sivuca é catalogado na UFPB
Com aproximadamente 10 mil peças, o acervo é o maior em memória do cantor
O itabaianense Severino Dias de Oliveira, conhecido mundialmente como Mestre Sivuca, motivou o surgimento, por meio da Lei federal nº 14.140/21, do Dia Nacional do Sanfoneiro, comemorado no último domingo (26 de maio), em homenagem ao dia do aniversário do músico paraibano. Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), salvaguardado em reserva técnica no Arquivo Central, o acervo de Sivuca, que se encontra em processo de catalogação, não somente preserva a memória do multi-instrumentista e objetiva a difusão da cultura, como é objeto de pesquisa e produção do conhecimento.
O acervo, doado pela viúva do músico, a cantora e compositora Glória Gadelha, encontra-se em uma reserva técnica no Arquivo Central, no prédio da Reitoria da UFPB, enquanto se aguarda o espaço físico Memorial Mestre Sivuca ficar pronto. O arquivo contém partituras, instrumentos, placas, medalhas, títulos e troféus originais do arquivo profissional de Sivuca, também documentos, objetos pessoais como os óculos, roupas, sapatos, presentes recebidos por ele e até móveis do seu local de descanso e de composição musical. No total, o acervo possui, aproximadamente, 10 mil peças.
A curadora do acervo e coordenadora do Projeto de Extensão Memorial Sivuca, Julianne Teixeira, explica que o processo de transferência do material se iniciou em 2019 e teve seu desfecho em 2022, com a formalização da doação. Porém, desde 2005, com muita percepção do valor artístico, Glória Gadelha começou a guardar tudo que envolvia o legado de Sivuca.
“No primeiro momento, foi feito o acordo com a Universidade, um pouco antes da pandemia, nesse momento foi preparado o projeto de extensão por meio do qual, durante dois anos, os professores e alunos precisaram ir à casa da viúva para fazer a catalogação para o inventário de todo o material, com os advogados da viúva e o jurídico da Universidade, para estabelecer formalmente essa doação”, conta a professora Julianne. Segundo a docente, a doação feita por Glória Gadelha é um ato de desprendimento pessoal e demonstra o seu olhar social sobre a cultura paraibana.
De acordo com o Reitor da UFPB, professor Valdiney Gouveia, o intuito é que o memorial de Sivuca integre um espaço cultural, o Centro de Convenções, cuja obra está paralisada há mais de 10 anos e aguarda recursos para sua conclusão.
“Está previsto, em um dos módulos do prédio, o Memorial Sivuca. Queremos fazer um grande complexo cultural de nome Sivuca, para prestigiar o artista da terra e dar condições para que a população paraibana possa ter acesso a um aparato cultural central na cidade. Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, nós levamos até ele o projeto e a proposta do Centro Cultural Sivuca. Três meses depois, recebemos a resposta, dizendo que não havia, naquele instante, recurso previsto na Presidência”, contou o Reitor, que também conversou com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, quando ela esteve em evento em Pernambuco, mas a UFPB ainda aguarda uma agenda para tratar sobre recursos para a obra, estimada em R$ 80 milhões para sua conclusão.
Para o estudioso de Sivuca, o também músico Lucas Carvalho, Sivuca era um gênio da música que contou com o suporte valioso de Glória Gadelha. “Cada item que a gente vê aqui no acervo, que a gente terá, um dia, a oportunidade de fazer com que o público tenha contato com isso, cada item desse faz parte da história dela, é ela também. É o Sivuca que a gente conhece, é o Sivuca que Glorinha estava ali do lado”, pontua.
A catalogação do acervo vem sendo realizada com a ajuda do aluno do curso de arquivologia e bolsista do projeto de catalogação, Gabriel Cavalcanti. Ele conta que precisa assistir a todo o material, desde discos, CDs, DVDs e entrevistas ou citações ao artista, para descrever e registrar tudo conforme a Norma Brasileira de Descrição Arquivística (Nobrade), a fim de catalogar os arquivos e, assim, facilitar o acesso dos pesquisadores às informações.
Gabriel explica que, durante seu trabalho, conheceu o legado do Mestre Sivuca, pois o artista recebeu reconhecimento internacional, principalmente nos países nórdicos como Suíça, Holanda e Finlândia, por sua contribuição à música popular brasileira. Seus trabalhos incluem forró, frevo, choros e outros ritmos populares, além de possuir grande influência do jazz em suas canções.
“Quando começamos a trabalhar com a documentação, começamos a perceber o quanto conhecemos pouco da cultura e do paraibano. Temos um artista do nosso interior, de Itabaiana, que tem diversas obras, tanto no Brasil como no exterior. É conhecido muito fortemente no exterior”, reforça o diretor do Arquivo Geral, Daniel Canuto.
Visitação
O espaço onde se encontra o acervo pode ser visitado com marcação prévia, entrando em contato com a direção do Arquivo Central, pelo e-mail arquivocentral@reitoria.ufpb.br e pela Central de Atendimento, no site do setor. As visitas podem ser feitas tanto por pessoas interessadas na obra do artista, quanto por pesquisadores de graduação e pós-graduação, bem como projetos de extensão.
A Pró-reitora de Extensão (Proex), professora Berla Moraes, fala da importância do acervo para os pesquisadores e extensionistas da Universidade. “É uma das nossas missões institucionais fazer com que a produção de conhecimento e a difusão desse conhecimento possam chegar e alcançar tanto a formação dos nossos estudantes de graduação e de pós-graduação, como para outros estudantes de outros espaços, pesquisadores de outros locais que queiram se aprofundar nessa temática”.
Por meio da Proex, a UFPB trabalha na perspectiva de conseguir realizar exposição ao público de parte do acervo. A professora Berla Moraes explica que há a pretensão de levar, na Primavera dos Museus, que acontece em setembro, alguns itens do acervo para uma exposição, que poderá ser no Museu Casa de Cultura Hermano José, para que o legado de Sivuca seja rememorado.
Acervo Virtual
Antes da construção do espaço físico do memorial, o projeto estuda, também, realizar a difusão desse patrimônio cultural por meio de um acervo digital. O projeto já possui materiais digitalizados, porém, por questões técnicas, precisará passar por um levantamento que envolve questões como direitos de imagem e direitos autorais.
“A nossa intenção agora é fazer o acervo do memorial virtual. Nós vamos começar com esse memorial virtual até que o físico fique pronto”, disse a professora Julianna Teixeira.
O Arquivo Central
O Arquivo Central é um órgão suplementar diretamente vinculado ao gabinete da Reitoria, que tem o objetivo de implementar, executar e dar apoio aos diversos órgãos e unidades da UFPB no que tange à política de documentos e registros arquivísticos. Pode desempenhar o papel de salvaguarda de objeto e grande valia cultural, histórico e educacional para a Instituição.
“O Arquivo Central tem a função administrativa de documentos institucionais, mas também tem a questão cultural dentro de nossas atribuições. Então, nós trabalhamos com a questão de difusão de informação e, por receber esse tipo de documentação, trabalhamos para utilizá-los para pesquisas de projetos de extensão, atendimento ao público, porque é um acervo que tem um interesse público muito grande, muitos artistas, muitos entusiastas da música têm interesse de fazer perguntas, questões relacionadas a esse acervo. Então, ele é muito interessante para os pesquisadores e para o público de maneira geral. É muito importante manter viva a história de Sivuca”, explica o diretor, Daniel Canuto.