ENTRETENIMENTO
O outro imaginado: Por que desumanizamos nossos oponentes?
Outra abordagem envolve descobrir a “assinatura psicológica” das pessoas extremistas e radicais, para evitar os confrontos.
Alteridade imaginada
Algumas das maiores atrocidades da história humana – genocídios, escravatura, limpezas étnicas – estão enraizadas em uma estranha capacidade de desumanizar pessoas de outros grupos sociais, políticos ou culturais.
Ou, de modo mais simples, na velha fórmula de separar a humanidade entre “eles e nós”, independentemente da alegoria usada para justificar a separação que se deseja, como nacionalidade, cor da pele, religião, condição social etc.
Embora pesquisas anteriores tenham atribuído a desumanização à crença de que os outros pensam diferente ou sentem menos do que nós, uma nova pesquisa revela que nossa tendência para desumanizar também pode ser influenciada pela forma como pensamos que os outros veem facetas importantes do mundo.
Outra abordagem envolve descobrir a “assinatura psicológica” das pessoas extremistas e radicais, para evitar os confrontos.
Assim, quanto maior a diferença que vemos entre o que acreditamos ser a visão de mundo de um grupo de pessoas, em comparação com nossas crenças do que seria uma visão de mundo “típica”, ou “normal”, mais tendemos a desumanizar as pessoas daquele grupo.
“O ato de desumanização parece ser, pelo menos em parte, motivado pelo que chamamos de ‘alteridade imaginada’: A crença de que um grupo externo percebe algo com o qual alguém se preocupa profundamente de maneira diferente do que se supõe que a maioria das outras pessoas o faz,” detalhou o professor Sameer Srivastava, que fez a pesquisa com colegas das universidades Duke e Stanford (EUA).
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Visões de mundo
Os pesquisadores basearam seu trabalho no conceito sociológico de “esquemas”. Em termos gerais, os esquemas referem-se aos modos como as pessoas categorizam o mundo, bem como às associações que fazem entre essas categorias. Por exemplo, uma pessoa politicamente conservadora pode associar a liberdade à independência econômica e à falta de intervenção governamental, enquanto uma pessoa politicamente progressista pode associá-la às liberdades civis e à liberdade de expressão.
Srivastava observa que uma grande quantidade de pesquisas na última década analisou o que é chamado de “polarização afetiva”, ou quão calorosa ou friamente vemos nossos oponentes políticos.
Mas esta nova pesquisa chegou a algo diferente: “Quando as pessoas veem o outro lado como menos que humano, devemos preocupar-nos com consequências negativas como a violência política. Se conseguirmos começar a entender de onde vem essa percepção, teremos mais uma alavanca para combatê-la,” disse o pesquisador.
Para reconquistar os radicais para a sociedade, mude o alvo de suas crenças
Como evitar a desumanização
O trabalho sugere duas abordagens potenciais para reduzir o quanto desumanizamos os membros dos partidos políticos que não apoiamos.
A primeira é uma intervenção simples para corrigir percepções erradas que os conservadores e os progressistas (ou de direita e de esquerda) possam ter sobre como os esquemas do outro grupo se desviam daqueles que são normalmente defendidos. Pode haver diferenças, é claro, mas podem não ser tão grandes quanto as pessoas acreditam que sejam.
A segunda ideia seria usar os esquemas que os partidários defendem para elaborar mensagens que ressoem com a sua visão do mundo e os ajudem a humanizar o outro lado. “O método que desenvolvemos revela os termos que estão mais fortemente associados à tendência de desumanizar ou, inversamente, humanizar o grupo externo,” disse Srivastava. “Isso levanta a possibilidade de evitar estrategicamente – ou usar proativamente – tais termos em mensagens que visem reprimir a tendência perigosa de desumanizar as pessoas de outro partido político.”