Nacional
Lula enfrenta desafios ao se adaptar à perda de poder
Por Roberto Tomé
O Lula, continua lutando para se acostumar com a mudança significativa na dinâmica de poder desde seus dois primeiros mandatos até o cenário político atual. Durante seus governos anteriores, Lula desfrutava de um controle mais centralizado, mas hoje, o cenário é muito diferente. O Congresso Nacional, particularmente o presidente da Câmara dos Deputados, exerce uma influência muito maior. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem um papel mais ativo e o Banco Central do Brasil tornou-se verdadeiramente independente.
Pela primeira vez, Lula enfrenta um Banco Central cujo presidente não foi nomeado por ele que opera de forma independente, seguindo uma política de Estado em vez de diretrizes governamentais. Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, simboliza essa nova era de independência. Essa mudança é um dos principais desafios para Lula, que durante seus primeiros mandatos podia contar com uma maior alavancagem sobre a política monetária.
A economia é o campo de batalha central para Lula. No passado, o PT criticou duramente a “herança maldita” deixada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Agora, a gestão de Jair Bolsonaro e os impactos da pandemia de COVID-19 apresentam uma nova realidade econômica complexa. No entanto, muitos brasileiros não veem isso como uma justificativa válida, considerando-a parte de um discurso recorrente.
A percepção pública da economia é crítica para qualquer presidente. Internacionalmente, se a economia vai bem, o presidente é aclamado; se vai mal, ele é responsabilizado. Atualmente, grande parte da população brasileira está endividada, utilizando crédito parcelado até para compras básicas, e os altos preços são uma queixa constante. Esse cenário econômico desafiador intensifica a pressão sobre o governo do petista.
Em busca de um culpado, Lula tem frequentemente apontado para Roberto Campos Neto. Essa estratégia é baseada na premissa de que, mesmo que a população não compreenda completamente os intricados detalhes da economia, ela sente os efeitos em seu dia a dia. Nomear Campos Neto como responsável pelas dificuldades econômicas é uma tentativa de desviar a culpa. No entanto, essa narrativa convence apenas os seguidores mais leais de Lula. Para muitos brasileiros, incluindo aqueles que votaram nele, essa explicação parece insuficiente. A população quer ver melhorias tangíveis na economia, não apenas discursos políticos.
Nos seus primeiros mandatos, Lula governou em uma época de bonança das commodities e um cenário internacional favorável. Hoje, ele se vê forçado a fazer concessões no Congresso e a lidar com uma economia global menos favorável. Apesar disso, Lula mantém um discurso combativo, culpando Campos Neto pelos desafios econômicos, uma tática que ressoa apenas entre seus apoiadores mais fervorosos.
Para navegar pelos desafios atuais, Lula precisa adotar uma abordagem mais pragmática. Permanecer em um discurso constante não resolverá os problemas econômicos do Brasil. É necessário que ele assuma plenamente o papel de governante e busque soluções práticas para melhorar a economia, afastando-se das desculpas e retóricas. Afinal, a saúde econômica de um país, para bem ou para mal, sempre será atribuída ao seu líder.