Internacional
Eleição na Venezuela: ex-presidentes cobram de Lula “compromisso com a democracia”
Em uma carta divulgada na segunda-feira, 5 de agosto de 2024, 30 ex-líderes de países de língua espanhola cobraram um posicionamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à crise política que se instalou na Venezuela após a proclamada vitória do presidente Nicolás Maduro nas últimas eleições. O documento, assinado por políticos integrantes do fórum não governamental Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (IDEA), pede que Lula reafirme seu compromisso com a democracia, a liberdade e os direitos humanos na América Latina.
A crise na Venezuela se intensificou após as eleições presidenciais, nas quais Nicolás Maduro foi declarado vencedor. A oposição, liderada por Edmundo González Urrutia, alega que houve fraude eleitoral que os resultados oficiais não refletem a vontade do povo venezuelano. Observadores internacionais também apontaram irregularidades no processo eleitoral, aumentando a pressão sobre a comunidade internacional para tomar uma posição firme em defesa da democracia no país.
A carta dirigida a Lula é assinada por um grupo diverso de ex-presidentes e ex-primeiros-ministros de vários países. Entre eles estão:
– Mario Abdo, Paraguai
– Óscar Arias S., Costa Rica
– José María Aznar, Espanha
– Nicolás Ardito Barletta, Panamá
– Felipe Calderón, México
– Rafael Ángel Calderón, Costa Rica
– Laura Chinchilla, Costa Rica
– Alfredo Cristiani, El Salvador
– Iván Duque M., Colômbia
– José María Figueres, Costa Rica
– Vicente Fox, México
– Federico Franco, Paraguai
– Eduardo Frei Ruiz-Tagle, Chile
– Osvaldo Hurtado, Equador
– Luis Alberto Lacalle H., Uruguai
– Guillermo Lasso, Equador
– Mauricio Macri, Argentina
– Jamil Mahuad, Equador
– Hipólito Mejía, República Dominicana
– Carlos Mesa G., Bolívia
– Lenin Moreno, Equador
– Mireya Moscoso, Panamá
– Andrés Pastrana, Colômbia
– Ernesto Pérez Balladares, Panamá
– Jorge Tuto Quiroga, Bolívia
– Mariano Rajoy, Espanha
– Miguel Ángel Rodríguez, Costa Rica
– Luis Guillermo Solís R., Costa Rica
– Álvaro Uribe V., Colômbia
– Juan Carlos Wasmosy, Paraguai
Nomes de peso como José María Aznar, da Espanha, Mauricio Macri, da Argentina, Andrés Pastrana, da Colômbia, e Óscar Arias, da Costa Rica, manifestaram críticas ao que chamam de “evidente usurpação da soberania popular” e “desprezo pela verdade eleitoral” por parte do governo venezuelano. Esses ex-líderes destacam que os relatórios eleitorais indicaram a vitória do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, que se declarou presidente eleito do país.
A carta enfatiza a importância do presidente Lula, como líder de uma das maiores democracias da América Latina, em se posicionar firmemente em defesa dos princípios democráticos. Os signatários lembram que o Brasil tem um papel crucial na estabilidade regional que a defesa da democracia e dos direitos humanos deve ser uma prioridade em sua política externa.
A pressão internacional sobre o governo brasileiro para tomar uma posição clara em relação à crise venezuelana reflete a gravidade da situação no país vizinho. A carta dos ex-líderes hispano-americanos é um apelo urgente para que o presidente Lula reafirme seu compromisso com a democracia, a liberdade e os direitos humanos, contribuindo para uma solução pacífica e democrática para a crise na Venezuela.
A comunidade internacional, incluindo o Brasil, tem um papel fundamental a desempenhar na promoção da estabilidade e da democracia na região. A resposta de Lula a este apelo poderá influenciar significativamente os rumos da política latino-americana e a luta pela preservação dos valores democráticos na América Latina.
Abaixo, a íntegra do documento:
Os ex-Chefes de Estado e de Governo que subscrevem esta mensagem, membros da Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (IDEA), exortamos a Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República Federativa do Brasil, a reafirmar seu inquestionável compromisso com a democracia e a liberdade, as mesmas de que gozam seu povo, e a fazê-la prevalecer também na Venezuela. A evidente usurpação da soberania popular que Nicolás Maduro Moros realizou, em conluio com os poderes do Estado que estão a seu serviço e sob seu controle, é feita com desprezo pela verdade eleitoral para se perpetuar no exercício do poder e afirmá-lo por meio de uma política de Estado repressiva e de violação generalizada e sistemática dos direitos humanos dos venezuelanos. O que está acontecendo é um escândalo. Todos os governos americanos e europeus sabem disso. Admitir tal precedente ferirá mortalmente os esforços que continuam a ser feitos com tanto sacrifício nas Américas para defender a tríade da democracia, do Estado e dos direitos humanos. Não exigimos nada diferente do que o próprio presidente Lula da Silva preserva em seu país. Esta mensagem que estamos enviando, em essência, nos coloca como porta-vozes dos sentimentos da maioria decisiva dos venezuelanos que hoje veem seus compatriotas, que lutaram ao seu lado, sofrendo prisões, torturas, desaparecimentos e até mesmo a perda da vida. Eles estão protestando em defesa de seu voto, estão resistindo pacificamente, guiados por María Corina Machado e por quem, como demonstram os relatórios eleitorais que são de conhecimento público e foram coletados pelas testemunhas na seção eleitoral, foi eleito presidente, Edmundo González Urrutia. A Venezuela tem o direito de fazer uma transição para a democracia.