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Em decisão inédita, diplomatas brasileiros aprovam indicativo de greve
Diplomatas brasileiros rejeitam proposta do governo Lula e uma inédita mobilização de greve pode acontecer em meio a eventos internacionais críticos
Pela primeira vez na história do Brasil, diplomatas brasileiros aprovaram um indicativo de greve, marcando um momento inédito para o Itamaraty. A decisão foi confirmada na última segunda-feira (12/08) durante a Assembleia Geral Extraordinária da Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros (ADB), colocando a categoria em um estado de mobilização permanente. A possível greve surge em um momento crucial, com o Brasil prestes a assumir a presidência do G20 em 2024, evidenciando um profundo descontentamento dentro da chancelaria.
Essa ação política, que pode culminar em uma paralisação, antecede a convocação de uma nova assembleia para formalizar a greve. Até o momento, o Itamaraty não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, mas fontes em Brasília indicam que o ministério está tentando abrir canais de diálogo entre o sindicato e o Ministério da Gestão e Inovação (MGI), responsável pela proposta que gerou insatisfação entre os diplomatas.
A categoria rejeitou o reajuste salarial oferecido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, alegando que o aumento proposto é “insuficiente para recompor as perdas inflacionárias do período recente”. Inicialmente, o sindicato havia solicitado um ajuste linear de 36,9%. Segundo a ADB, a possível greve é uma resposta à “falta de valorização e reconhecimento da importância da carreira diplomática”, especialmente em um momento crítico para a política externa brasileira. Diplomatas levam, em média, 30 anos para alcançar o teto salarial, enquanto outras carreiras públicas atingem esse patamar em até 10 anos, o que, segundo a categoria, limita as oportunidades de desenvolvimento profissional para as novas gerações. A ADB também ressaltou que, com a elevação da idade de aposentadoria para 75 anos e uma estrutura rígida com vagas limitadas por classe, muitos diplomatas permanecem estagnados nas classes iniciais ou intermediárias. “A maior parte dos diplomatas (Terceiro Secretário, Segundo Secretário e Primeiro Secretário) receberia um reajuste abaixo de 16%, o que é insuficiente para cobrir as perdas inflacionárias recentes”, destacou a nota.
A ADB sublinhou que o indicativo de greve reflete o descontentamento generalizado da categoria com a falta de reconhecimento, especialmente em um momento em que o Brasil será anfitrião de importantes eventos internacionais, como as cúpulas do G20, do BRICS e a COP-30.
O aumento salarial proposto pelo MGI variava de 7,8% para os “Terceiros Secretários” a 23% para os “Embaixadores”, a ser implementado de forma escalonada entre 2025 e 2026.