AGRICULTURA & PECUÁRIA
Tecnologias sustentáveis despertam interesse em delegação do Reino dos Países Baixos
“Nos Países Baixos, as pessoas são muito interessadas, mas pouco informadas sobre o que acontece no Brasil em termos de agricultura. Então é muito importante que elas possam ter a oportunidade de conhecer de perto o que é a agricultura no Brasil e ouvir de especialistas, em primeira mão, o que está acontecendo neste momento”. Com esse objetivo, conforme conta Ramon Gerrit, assessor agrícola da Embaixada da dos Países Baixos em Brasília, conselheiros e assessores agrícolas e representantes do Ministério de Assuntos Econômicos da Holanda estiveram na Embrapa Cerrados nesta terça-feira (17).
Esta é a terceira vez que representantes desse reino visitam o centro de pesquisa neste ano. Aos nove participantes, o pesquisador Edson Sano apresentou diversas tecnologias que garantem a produtividade no Cerrado. É o caso da irrigação, feita com cerca de 1.800 pivôs centrais na região Centro-Oeste, importante para que as lavouras suportem os seis meses de seca do bioma.
Outra é o sistema de plantio direto, quando a lavoura é semeada no solo sem revolvimento, em contraposição ao preparo convencional da terra com aração ou gradagem. Hoje, mais de 50% das áreas de agricultura no Brasil utilizam essa tecnologia, o que representa mais de 12 milhões de hectares, considerando a área cultivada com grãos.
Uma terceira tecnologia destacada pelo pesquisador é a integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que proporciona conforto térmico aos animais, aumento do sequestro de carbono e diversificação de renda para os produtores rurais. Outros benefícios desses sistemas são o aumento da produtividade da lavoura e da pastagem e a redução da erosão do solo.
O pesquisador explica que o uso dessas e de outras tecnologias possibilita que o Brasil aumente sua produção sem precisar abrir novas áreas e destaca as ferramentas de sensoriamento remoto como importantes para o monitoramento da produção agrícola e do desmatamento no Brasil. “Devido à grande diversidade da flora brasileira, temos dificuldade para mensurar a biomassa da vegetação nativa e contabilizar o sequestro de carbono, quando da sua supressão. Os produtores plantam em datas diferentes e os diversos estádios das culturas também trazem outra dificuldade para os estudos de monitoramento por satélite”, esclareceu.
No entanto, Sano destaca que novos satélites que estarão disponíveis para a pesquisa em breve aprimorarão esse trabalho, pois possibilitarão a identificação de oito diferentes níveis de biomassa e a obtenção de imagens em qualquer estação climática, inclusive em períodos nublados, o que hoje é um empecilho à pesquisa.
Avaliação biológica dos solos brasileiros
A BioAS, resultado de vinte anos de pesquisa desenvolvida pela Embrapa Cerrados, foi outro tema apresentado pelo pesquisador Fábio Bueno. “Ele destacou a importância da análise dos componentes biológicos do solo, uma vez que eles são os mais sensíveis às mudanças de manejo.
Pela análise dos dados disponíveis, a equipe da Embrapa Cerrados constatou que os solos mais saudáveis, com mais atividade biológica e matéria orgânica, geralmente estão sob manejos mais sustentáveis, como os sistemas integrados de lavoura e pecuária. Essas áreas podem apresentar menor quantidade de nematoides, fazer uso mais eficiente dos nutrientes e produzir mais alimentos e de melhor qualidade.”
Segundo Anna Gabriella Ferreira, assistente de gestão do Departamento Agrícola da Embaixada em Brasília, os visitantes ficaram impressionados com a BioAS, por oferecer parâmetros muito mais eficientes e avançados do que os usados hoje para avaliação do solo.
Segundo Bueno, solos que apresentam baixa atividade enzimática (atividade biológica), mesmos com teores adequados de matéria orgânica, podem estar em processo de adoecimento. Nesse caso, as enzimas atuam como sensores apontando para problemas de manejo que podem afetar a saúde do solo. Essa situação pode ocorrer em áreas onde não é feito nenhum tipo de diversificação ou de rotação de culturas.
Já na situação contrária, que mostra alta atividade biológica e baixa matéria orgânica, os solos podem ser considerados em recuperação. “Nesse caso, a atividade biológica seria mensageira de boas notícias, em resposta à adoção de manejos que priorizam a conservação do solo, após um período sob práticas inadequadas”, explicou o pesquisador.
Por último, a pior situação, aquela que indica baixa capacidade de ciclagem (atividade biológica) e de armazenamento de nutrientes (matéria orgânica), apontando uma condição crítica quanto à saúde do solo, geralmente ocorre onde se utiliza práticas inadequadas de manejo ao longo dos anos. “Como já sabemos que solos saudáveis produzem mais e são mais resilientes, é importante que os agricultores estejam atentos a esses novos parâmetros que estamos trazendo”, enfatizou.
Bueno afirmou que a equipe deve concluir em 2025 os protocolos da BioAS voltados para os cultivos de café, cana-de-açúcar, pastagens e eucalipto. Outro objetivo é expandir a rede de laboratórios credenciados para realizar a BioAS, para que mais produtores tenham acesso à tecnologia.
Ao final da programação, os visitantes conheceram a pesquisa de trigo irrigado, com uso de pivô central. Eles disseram que nessa parte da Europa não se usa esse tipo de irrigação, apenas a por gotejamento e aspersores. Jorge Chagas, pesquisador da Embrapa Trigo, falou sobre a irrigação da cultura, o uso da água para irrigação e sobre a produtividade e a qualidade do trigo produzido no Cerrado.
Ria Hulsman é gerente regional da América Latina e Caribe da Universidade Wageningen, do Reino dos Países Baixos. Apesar de a Universidade ter parceria com alguns centros de pesquisa da Embrapa da região Sul, Hulsman disse que alguns dos trabalhos apresentados durante a visita são novidades para ela: “Eu não conhecia esse trabalho desenvolvido para o melhoramento de trigo e fiquei muito impressionada com o conhecimento de vocês sobre a biologia do solo”.
Ramon Gerrits afirmou que esse trabalho, de informar os holandeses sobre a agricultura brasileira, é um dos focos da Embaixada. “Infelizmente existem muitos mal entendidos na Europa e no Reino dos Países Baixos sobre o que acontece aqui no Brasil em termos de agricultura e desmatamento. Para mim, como assessor agrícola, é muito importante poder mostrar a sustentabilidade da agricultura brasileira, que, diferentemente do que se pensa lá fora, é feita com conhecimento, de forma sustentável. O Brasil é o país do futuro da agricultura e este centro de pesquisa é um exemplo dessas boas práticas e desse conhecimento que está sendo gerado”, enfatizou.