Nacional
Primeiro turno da eleição municipal indica que Lula terá de buscar o centro para reeleição em 2026
Preditora da próxima foto do Congresso Nacional, o primeiro turno da eleição municipal transmitiu um recado importante para Lula atravessar os dois últimos anos de mandato: se quiser ser competitivo para uma reeleição em 2026, terá que fazer inflexão ao centro.
O desempenho do PT e da esquerda no pleito municipal não dá margem para o Palácio de o Planalto acreditar que será possível chegar ao próximo palanque em chapas ‘puro sangue’.
Do outro lado, o contorno do primeiro turno mostrou uma divisão do eleitorado de direita, o que pode ser uma janela de oportunidade para o governo atuar. O arsenal de curto prazo disponível na mesa inclui uma reforma ministerial, a eleição para as Mesas da Câmara e do Senado, e o acordo entre poderes de emendas parlamentares.
A questão é que, se em 2022 o aceno ao centro na formação da frente ampla teve como maior símbolo a aliança com o ex-tucano Geraldo Alckmin, dessa vez a inflexão terá de ser em direção a legendas como PSD e MDB. No caso do MDB, que perdeu a dianteira de prefeituras para o PSD, o primeiro turno da eleição mostrou a força do governador do Pará, Helder Barbalho, que levou o primo ao segundo turno em Belém.
Em conversas com integrantes do partido espalhadas na Esplanada, o governador é o nome que desponta dentro da legenda para reivindicar uma eventual vice-presidência no palanque do PT, daqui a dois anos. A liderança da sigla de Gilberto Kassab também foi obtida a partir de vitórias como a de Eduardo Paes no Rio de Janeiro, berço do bolsonarismo — e mostrou resiliência em Minas Gerais, com a arrancada do atual prefeito, Fuad Noman, em um segundo turno contra um candidato bolsonarista.
Podem indicar que o PSD poderá oferecer palanques importantes para Lula em disputa a governos locais em 2026. A vitória do PSD também pode provocar novos movimentos na disputa pela sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara. Nas últimas semanas, Lula havia sugerido a Kassab retirar a candidatura do PSD, do deputado federal baiano Antônio Brito, em prol de Hugo Motta, do Republicanos. Ouviu um não diante da leitura de que o PSD sairia o maior partido do país.
Kassab estava certo, e deve elevar a fatura para fechar qualquer composição na campanha, considerando que Motta ainda reúne o maior número de partidos no seu entorno, incluindo o MDB de Ricardo Nunes. O atual prefeito de São Paulo, aliás, deve parte importante do resultado ao governador do Republicano na capital paulista, Tarcísio de Freitas.
Se o desempenho do ex-ministro bolsonarista o coloca em vantagem para se posicionar como presidenciável sem Bolsonaro, por outro lado, o freio puxado por Lula na campanha de Guilherme Boulos (PSOL) no primeiro turno é lembrado por emedebistas como estratégico para estancar a disputa de votos do eleitorado da periferia entre os dois.
O problema para Lula na eleição de maior contorno nacional é que não há como uma eventual derrota de Boulos não cair no colo do Planalto. Outro recado importante para o governo na disputa em São Paulo veio de Pablo Marçal.
Gostando ou não, sua resiliência na disputa transmitiu de forma mais bem acabada a força da ‘teologia da prosperidade’ do Brasil. Foi quem se apresentou como liderança mais legítima do que Jair Bolsonaro sobre o eleitorado que mescla o voto conservador nos costumes com o discurso de que “o indivíduo se sobrepõe ao coletivo”. É, portanto, o que se apresentou de mais moderno considerando o avanço do nacionalismo de direita no mundo.
Isso diz sobre Lula porque atinge diretamente o eleitor de camadas mais pobres, que desde o segundo mandato do presidente da República compõe as franjas do lulismo. O PT soube preservá-lo, mesmo diante do impeachment de Dilma Rousseff e da Lava Jato, porque se apresentava como o partido garantidor de benefícios sociais.
Uma vez que iniciativas da vitrine petista foram continuadas e até mesmo ampliadas sob Jair Bolsonaro, caso do Bolsa Família/Auxílio Brasil, o governo vai precisar buscar novas pautas para não perder a própria base popular que parece caminhar para a direita.
Mais do que apresentar bons números do PIB, de emprego formal ou resultados fiscais que diminuam o ruído com a Faria Lima, é esse hiato de identificação a ser respondido por demandas da classe precarizada que o PT terá de avançar para construir um arco de alianças competitivo em 2026.