Internacional
Moldávia acusa Rússia de interferir em referendo sobre UE
Neste domingo, moradores da ex-república soviética escolhem o próximo presidente e decidem se país deve manter candidatura à União Europeia
Os eleitores da Moldávia vão às urnas neste domingo (20/10) para escolher não apenas seu próximo presidente, mas também para responder a um referendo sobre uma possível adesão do país à União Europeia (UE).
A escolha dos cidadãos da Moldávia pode colocar o país – ex-república soviética situada entre a Romênia, membro da UE, e a Ucrânia, devastada pela guerra – em rota de colisão com a Rússia, que se opõe categoricamente ao ingresso no bloco europeu.
Se a adesão for aprovada pelo referendo, a Constituição do país passa a incluir a aspiração como uma prioridade.
As pesquisas preveem uma vitória do “sim” com 55%, mas a incógnita será o comparecimento, que tem que ser de pelo menos 33%.
Os partidos pró-russos pediram um boicote, para tornar a votação inválida.
“Este é um momento crucial. Ou continuaremos sendo um país fraco e isolado ou a Moldávia será forte, segura e terá muitos aliados”, disse a presidente da Moldávia, Maia Sandu, em pronunciamento pela televisão.
Em 2020, Sandu se tornou a primeira mulher a liderar o país. Ela busca tanto o apoio à adesão europeia quanto a reeleição no domingo, e seu governo acusa a Rússia de interferir no processo eleitoral.
Referendo gera tensão em região separatista
Para o Kremlin, a linha vermelha para os países que foram repúblicas soviéticas sempre foi a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas a integração europeia também não é bem-vinda. Isso porque os Estados-membros da UE têm apoiado abertamente a Ucrânia com dinheiro e armas na, guerra com a Rússia.
Além disso, para o governo moldavo, a possível adesão à UE não apenas pode ajudar o país a sair da pobreza, mas também a dar unidade nacional em uma disputa por regiões separatistas pró-Rússia.
É o caso da Transnístria, uma região separatista que não tem independência reconhecida pela comunidade internacional, mas que se aproxima cada vez mais da Rússia.
Em fevereiro deste ano, os parlamentares separatistas da Transnístria pediram “proteção” ao governo russo contra o que seria uma tentativa da Moldávia de sufocar a região economicamente. O movimento é similar ao impetrado por separatistas ucranianos em 2022, que serviu de pretexto para a Rússia invadir o país.
Durante toda a campanha, Sandu se concentrou em defender a adesão à UE. Ela ressaltou, por exemplo, que a expectativa de vida e os valores pagos após a aposentadoria nos países do bloco são maiores do que na ex-república soviética.
A reforma constitucional é apoiada por mais da metade dos moldavos, mas o resultado pode ser apertado. Em pesquisa de julho, 53% da população disse que pretendem votar pela adesão à UE. A pesquisa não inclui os moradores da Transnístria.
As sondagens também indicam que Sandu deve passar ao segundo turno. É possível que ela dispute um novo pleito contra um candidato apoiado por Moscou, o ex-procurador geral Alexandr Stoianoglo, cuja vitória mudaria a proximidade do país com o bloco europeu.
Rússia é criticada por tentativas de interferência
As autoridades da Moldávia acusaram a Rússia de tentar atrapalhar a votação de domingo. No início deste mês, policiais disseram que 130 mil moldavos haviam sido subornados com um total de 15 milhões de dólares [R$ 85 milhões] para votar contra a adesão à UE.
Na quinta-feira, a polícia também disse ter descoberto um esquema envolvendo pessoas que eram regularmente enviadas à Rússia para receber treinamento sobre como promover protestos e distúrbios civis na Moldávia.
Já em junho, EUA, Reino Unido e Canadá alertaram para o possível “uso de grupos criminosos pelo Kremlin para financiar atividades políticas e minar as instituições democráticas da Moldávia”. Moscou negou todas as alegações.
Esta semana, a UE impôs sanções à governadora do território autônomo de Gagaúzia, Evghenia Gutul, também localizado na Moldávia, por promover separatismo.
“A Moldávia enfrenta grandes tentativas diretas da Rússia para desestabilizar o país, assim como desafios decorrentes da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, alertou Josep Borrell, vice-presidente da Comissão Europeia, na segunda-feira.
Adesão ao bloco é vista como possível
O referendo é um dos passos para abrir o caminho da adesão do país ao bloco. A Moldávia é candidata a ascender como membro da UE desde 2022 e estabeleceu um cronograma próprio para alcançar as exigências até 2030.
De acordo com fontes do governo moldavo, a Moldávia “não tem inimigos” em Bruxelas, o que facilitaria este processo. O melhor sinal de apoio foi a recente viagem da chefe da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, que anunciou o que a própria Sandu chamou de “Plano Marshall” para a Moldávia.
O plano prevê o investimento de 1,8 bilhão de euros [R$ 11 bilhões] em três anos, o que permitirá que a UE ajude a Moldávia a “dobrar o tamanho de sua economia em uma década”.