Politíca
De Samuel Duarte a Hugo Motta: a Paraíba e sua tradição de liderança na Câmara dos Deputados
Por Roberto Tomé
O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) se destaca como uma das principais figuras no cenário político atual e está cada vez mais próximo de entrar para a história ao se tornar o segundo paraibano a ocupar a presidência da Câmara dos Deputados. A sua possível eleição para 2025 tem despertado interesse nacional e remonta ao feito histórico do paraibano Samuel Duarte, que liderou a Casa em 1947. Essa comparação entre Motta e Duarte não é apenas simbólica; ela carrega em si o peso de lideranças que surgiram de contextos únicos e que representam cada uma em seu tempo, à capacidade da Paraíba de influenciar o poder legislativo nacional.
Nascido em Alagoa Nova, Samuel Duarte assumiu a presidência da Câmara num período de transição para a democracia brasileira, entre 1947 e 1948, marcando sua atuação por construir um consenso político em um contexto de reorganização democrática no pós-Estado Novo. Duarte foi peça-chave no fortalecimento dos laços entre as principais forças políticas da época, incluindo lideranças de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A sua habilidade em mediar interesses e construir pontes entre posições políticas diversas o tornou um exemplo de equilíbrio e moderação, características que marcaram sua breve, mas significativa, liderança na Câmara dos Deputados.
Antes de chegar à presidência da Casa, Duarte já possuía uma trajetória consolidada no serviço público. Em 1945, havia assumido interinamente o governo da Paraíba, e no ano seguinte, com o fim do Estado Novo, elegeu-se deputado constituinte, momento em que exerceu importante papel na formulação do Estatuto dos Servidores Públicos Civil da União. Essa experiência legislativa e executiva fez dele um nome respeitado e influente em Brasília, consolidando um padrão de liderança que alia competência técnica e habilidade política.
Hoje, mais de 75 anos após a presidência de Duarte, Hugo Motta surge como a principal liderança paraibana no Congresso Nacional. Deputado federal desde 2011, Motta construiu sua carreira com uma postura de equilíbrio e articulação, sempre buscando dialogar com todas as correntes políticas. Sua capacidade de unir diferentes partidos e correntes ideológicas tem sido uma de suas maiores forças, especialmente num momento de polarização política no Brasil.
A sua candidatura à presidência da Câmara já conta com o apoio formal de partidos de diferentes espectros, como Podemos, MDB, Republicanos, PT, PL e PP, totalizando cerca de 324 votos garantidos. Esse amplo suporte é reflexo de sua habilidade em transitar entre diversas alas políticas, uma característica que remete diretamente à postura de Duarte em seu tempo.
Como ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma das mais importantes da Câmara, Hugo Motta demonstrou maturidade e competência na condução de pautas complexas e polêmicas. Em suas declarações, ele tem defendido a necessidade de uma Câmara que promova o diálogo e o entendimento, uma postura que reforça sua imagem de conciliador, essencial para a estabilidade das decisões e para a construção de consensos.
A candidatura de Hugo Motta ganha ainda mais relevância no atual contexto político brasileiro, onde a Câmara dos Deputados desempenha papel importante no equilíbrio dos poderes. Com o Legislativo fortemente dividido e com debates acirrados sobre pautas fundamentais para o país, a liderança da Casa precisa de alguém capaz de agir como mediador. A posição de Motta, de equilíbrio e diálogo, apresenta-se como uma alternativa para aliviar as tensões entre Executivo, Legislativo e Judiciário, restaurando a confiança dos parlamentares e da população nas instituições democráticas.
Essa possível vitória não representa apenas uma conquista pessoal para Motta, mas também um marco para a Paraíba, que teria um representante local em uma das mais altas posições de poder do país. A presidência da Câmara dos Deputados não só definem o ritmo das discussões e votações como também exerce influência direta sobre a agenda legislativa do país, incluindo temas de relevância nacional como reformas políticas, econômicas e sociais.
Caso eleito, Hugo Motta enfrentará o desafio de promover uma agenda que atenda tanto às demandas dos partidos de centro quanto dos setores mais à esquerda e à direita do espectro político. A habilidade de Motta em lidar com esses grupos será testada em questões controversas, que incluem reformas estruturais, pautas sociais e o papel do Congresso na fiscalização do Executivo. Sua atuação na CCJ é um indicativo de como ele pode liderar a Câmara, priorizando a estabilidade institucional e o respeito aos ritos democráticos.
A candidatura de Motta reflete não apenas uma continuidade da liderança paraibana em Brasília, mas também uma resposta às necessidades atuais do parlamento brasileiro, que busca, em meio a divergências, figuras que possam atuar como pontos de convergência.
Assim, a trajetória de Hugo Motta segue ecoando a herança política de Samuel Duarte, cada um refletindo em seu tempo o papel da Paraíba no cenário político nacional. Ambos são exemplos de como a liderança paraibana pode, por meio de moderação e articulação, contribuir para o fortalecimento da democracia brasileira, trazendo equilíbrio e representação plural para todos os setores da sociedade no Congresso Nacional. Essa continuidade histórica reflete a capacidade de líderes paraibanos de se destacarem pela capacidade de dialogar e de buscar consensos, essenciais para o avanço da democracia.