Nacional
Itamaraty vai ignorar provocação de Maduro?
O governo Lula estaria decidido a manter a melhor interlocução possível com a Venezuela e deixar o ditador espernear sozinho
O Itamaraty ainda não se manifestou sobre as provocações realizadas na quarta-feira, 30, pela ditadura de Nicolás Maduro, que convocou o embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, para consultas em Caracas e o encarregado de negócios da embaixada do Brasil na Venezuela, Breno Hermann, para expressar seu repúdio às recentes declarações de Celso Amorim. E nem planeja.
Segundo O Estado de S.Paulo, o governo Lula estaria decidido a manter a melhor interlocução possível com a Venezuela e evitar a suspensão dos serviços consulares a brasileiros que estão no país vizinho.
A ordem, diz o jornal, é deixar o ditador venezuelano “falando sozinho”, já que Maduro estaria utilizando as relações internacionais para conversar com seu público interno.
O esperneio de Maduro
Como mostramos, a Venezuela convocou Breno Hermann para “manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intrometidas e grosseiras de porta-vozes autorizados pelo governo brasileiro”, referindo-se ao assessor especial de Lula (PT) para assuntos internacionais, Celso Amorim, que, “comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado impertinentemente a emitir juízos de valor sobre processos que só correspondem aos venezuelanos e suas instituições democráticas.”
Segundo a chancelaria de Maduro, as declarações de Amorim, que chefia o Itamaraty paralelo do governo Lula de acordo com seus interesses, constituem uma “agressão constante” que “minam as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois”.
Ao encarregado de negócios da embaixada do Brasil na Venezuela, “expressou-se o total repúdio à atitude antilatino-americana, contra os princípios fundamentais da integração regional, expressos na Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), bem como na longa história de unidade em nossa região, consumado no veto aplicado pelo Brasil na Cúpula do BRICS em Kazan, com o qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados a membros associados da referida organização”, afirmou o ministério venezuelano, em comunicado.
“Denunciamos o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros, que, contrariando a aprovação dos demais membros do BRICS, assumiram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e punição coletiva de todo o povo venezuelano”, continuou.
O que disse Amorim?
Em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados na terça-feira, 29, o ex-chanceler Celso Amorim disse haver um “mal-estar” no relacionamento entre os dois países.
“Há um mal-estar hoje. Torço para desaparecer, mas vai depender de algumas ações”, afirmou.
Segundo o chefe do Itamaraty paralelo, “formalmente não houve veto”, porque não ocorreu uma votação em Kazan.