Nacional
PT na zona de rebaixamento: o desafio da sobrevivência política e a dependência de Lula
Por Roberto Tomé
A recuperação da imagem do Partido dos Trabalhadores (PT) entre o eleitorado brasileiro enfrenta desafios consideráveis. Após o desempenho abaixo do esperado nas últimas eleições municipais, o partido parece ainda distante de reconquistar a base popular que o sustentou em períodos passados. Embora o partido detenha um histórico de vitórias expressivas em eleições presidenciais, a força de seu discurso se mostrou limitada em disputas locais.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, comparou a situação do PT à “zona de rebaixamento” do futebol, sugerindo que a trajetória de queda começou com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e ainda não foi totalmente superada. A declaração tocou em um ponto sensível para a legenda, que, apesar de vitórias pontuais, ainda se esforça para restabelecer sua influência em cidades estratégicas. Esse cenário expõe um dilema sobre como a legenda pode se reestruturar, especialmente após anos de crises políticas e econômicas que abalaram sua credibilidade.
Gleisi Hoffmann, presidente do PT, rebateu prontamente a fala de Padilha. Em suas redes sociais, a deputada destacou que o partido enfrenta dificuldades desde 2016, quando o Congresso, segundo ela, tomou uma direção mais conservadora. Em sua visão, cabe a Padilha, como responsável pelas articulações políticas do governo, concentrar esforços para fortalecer as alianças e evitar declarações que desmereçam o trabalho do PT. Hoffmann defendeu a trajetória do partido e a luta pelo retorno de Lula à presidência, ressaltando que o PT foi fundamental para manter a relevância política do ex-presidente nos últimos anos.
A resposta de Hoffmann também reflete uma disputa interna no partido sobre os rumos da legenda. Enquanto Lula ainda se destaca como figura central, sua presidente busca reafirmar a importância do partido como um todo, especialmente em um momento em que a força de Lula é vista como um pilar de sustentação essencial.
Após as eleições municipais, nas quais o PT conquistou apenas 252 prefeituras, o partido se viu em uma posição desconfortável. Mesmo com o apoio da máquina federal, o desempenho foi insuficiente para reposicionar o PT entre os partidos mais influentes no cenário municipal. Para muitos petistas, Lula é o único trunfo eleitoral restante. No entanto, a idade avançada e a saúde do ex-presidente, que recentemente sofreu um acidente doméstico, levantam dúvidas sobre o futuro da legenda.
Essa dependência de Lula traz questionamentos sobre a capacidade do PT de se manter relevante a longo prazo. A figura do ex-presidente ainda desperta admiração entre eleitores de menor renda, que enxergam nele um símbolo de humildade e de defesa dos pobres. Esse apelo, entretanto, não parece se estender a outros líderes do partido, como Guilherme Boulos e Fernando Haddad, que encontram dificuldades para conquistar a base popular com a mesma força.
No entanto, a unidade do partido começa a ser questionada. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, por exemplo, revelou insatisfações com a maneira como tem sido conduzido o diálogo entre ministérios, especialmente em relação ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Essa tensão é um reflexo das dificuldades enfrentadas pelo governo para alinhar as políticas econômicas em meio à volatilidade cambial e aos debates sobre responsabilidade fiscal.
Enquanto isso, outras lideranças do PT, como o deputado Washington Quaquá e o ex-candidato Lúdio Cabral, sugerem que o partido adote pautas conservadoras para ampliar sua base de apoio. Essa visão, no entanto, encontra resistência entre setores tradicionais do PT, que preferem manter a postura de oposição ao atual cenário político do país.
A trajetória recente do PT também tem contado com o respaldo do Judiciário. Decisões que anularam condenações e suspenderam multas aplicadas ao partido geraram questionamentos entre eleitores e analistas políticos. Embora esses reveses jurídicos favoreçam o PT em seu processo de recuperação, o apoio judicial não tem sido suficiente para resgatar a confiança do eleitorado, que ainda guarda lembranças dos escândalos de corrupção. Em alguns segmentos, essa “mão amiga” do Judiciário é vista até como um fator que pode desgastar a imagem do partido entre o público mais atento, influenciando o aumento da abstenção nas urnas.
Com Lula sendo o único ponto de coesão entre os eleitores e as lideranças petistas, o partido enfrenta o desafio de encontrar uma nova identidade que vá além da figura de seu fundador. Caso o ex-presidente tenha fôlego para uma última campanha em 2026, ele pode continuar como referência eleitoral. No entanto, para muitos analistas, o PT precisa urgentemente diversificar suas lideranças e desenvolver um projeto político que se sustente além de Lula. A continuidade do partido dependerá de sua capacidade de se reinventar, atraindo novos quadros e revisitando sua estratégia para atender às expectativas dos eleitores.
Diante de um cenário político dinâmico e da necessidade de renovação, o PT se vê em uma encruzilhada: ou reforça suas bases e redefine sua atuação política, ou arrisca-se a permanecer estagnado, sem perspectivas de retomar a relevância que já teve em eleições passadas. A legenda se encontra em um momento crucial, em que precisa escolher entre adaptar-se às demandas atuais ou depender exclusivamente de seu passado para garantir um futuro incerto.