ECONOMIA
BC deve acelerar alta da Selic com dólar pressionado
O Banco Central deve acelerar o ritmo de alta da Selic para 0,50 ponto percentual na reunião que termina nesta quarta-feira, como amplamente esperado pelo mercado financeiro. A segunda elevação seguida, que deixará a taxa em 11,25%, busca conter a desancoragem das expectativas de inflação em cenário de incertezas fiscais, eleição nos EUA e forte pressão sobre os ativos domésticos, especialmente o dólar, que saltou cerca de 5,5% desde o encontro de setembro.
Os juros futuros também avançaram no período diante da preocupação com as contas públicas e à espera do prometido plano de corte de gastos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A curva de DI precifica uma Selic superior a 13,50% no final do ciclo de aperto monetário, no segundo semestre de 2025.
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Diante desse cenário, alguns analistas esperam que o comunicado da decisão reforce o tom mais duro adotado recentemente tanto pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, como pelo seu sucessor, Gabriel Galípolo — cuja indicação já foi aprovada pelo Senado para comandar a instituição a partir do próximo ano. Além disso, os núcleos de inflação seguem elevados e o hiato do produto apertado. O BC, no entanto, não deve dar guidance ou se comprometer com os próximos passo, dizem os economistas.
O dólar e os juros futuros caíram nesta segunda-feira com a sinalização de que um plano de ajuste fiscal será apresentado ainda nesta semana. Os ativos também acompanharam a queda do índice dólar e dos yields dos treasuries em meio ao recuo de parte das apostas em vitória do republicano Donald Trump sobre a candidata democrata Kamala Harris — o cenário para a disputa segue apertado e com potencial de gerar volatilidade antes da decisão do Banco Central.
Veja os comentários dos analistas:
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman SachsBC deve reconhecer que os mercados estão estressados, que a volatilidade aumentou e que o real está sob pressão O que mais deve preocupar o Copom, no entanto, é que o mercado segue elevando a trajetória esperada da Selic, e mesmo assim as expectativas de inflação estão se deteriorando novamente
Mario Mesquita, economista-chefe do ItaúDiante de um cenário ainda desafiador, com taxa de câmbio em nível mais depreciado do que na reunião anterior, mercado de trabalho apertado, e núcleos de inflação e expectativas ainda acima da meta, as autoridades devem julgar apropriado o aumento do ritmo, avançando mais rapidamente em território contracionistaPara as próximas reuniões, autoridades devem manter em aberto o ritmo dos eventuais ajustes futuros e magnitude total do ciclo
Roberto Secemski, economista para Brasil do BarclaysNão deve haver mudança significativa na projeção de inflação do BC para o novo horizonte relevante para o Copom Cenário seguirá indicando aumentos adicionais à frente, porém sem que o banco se amarre quanto aos próximos passos em virtude da incerteza elevada, tanto doméstica quanto externa
Cassiana Fernandez e equipe do JPMorganDecisão do Copom deve ser unânime; comunicado deve adotar um tom mais hawkishRisco é o de o BC ter de fazer mais adiante, ao invés de menos, especialmente em um cenário em que a incerteza global aumenta e em que os receios com a política fiscal elevam o prêmio de risco
Myriã Bast, do departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco Desde a última reunião, as expectativas de inflação continuaram se deteriorando Além disso, a taxa de câmbio seguiu em desvalorização, pressionando as projeções do modelo do BC, que mesmo com Selic mais alta no Focus, continuaram prevendo IPCA em 3,5% no horizonte relevante
Claudio Ferraz e economistas do BTGRiscos fiscais persistentes e um cenário externo mais adverso — dependendo do resultado das eleições nos EUA — podem tornar a situação ainda mais complexa para as reuniões seguintes Copom deveria, cuidadosamente, avaliar os dados da economia e manter flexibilidade para ajustar o ritmo se necessário para garantir a convergência da inflação e preservar a estabilidade de longo prazo
Tony Volpon, ex-diretor do Banco CentralCom dólar no nível atual, BC deve elevar a Selic em 0,50pp e manter o tom hawkishSe Trump vencer eleição americana, real deve ter desvalorização adicional e “BC terá de responder”; vitória de Kamala Harris traria alívio
Caio Megale, economista-chefe da XP Sinalização deve ser de que tamanho fica em aberto à frente, mas passo de 0,50pp é visto como adequado Projeções devem subir por câmbio e preços de carne, que afetam inflação de curto prazo
Igor Campos, gestor de renda fixa da Gauss Capital Copom deve acelerar o ritmo de alta para 0,50pp, manter seu balanço de risco para inflação assimétrico e manter a sinalização de que o ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital Decisão do Copom será “em linha com o que deveria ser feito”, de forma unânime em um tom bastante duro no comunicado Política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo BC deverá manter preocupação em relação à desancoragem dos horizontes mais longos
–Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro, Beatriz Reis, Beatriz Amat, Gabriel Diniz Tavares e Raphael Almeida Dos Santos.