Nacional
Lula e a derrota compartilhada com Kamala: um gol contra desnecessário
Por Roberto Tomé
Lula mal resistiu a uma chance de dar sua “opinião global” na eleição americana. Com o anúncio da vitória de Donald Trump, ele se apressou para deixar claro seu posicionamento a favor de Kamala Harris. Não, o brasileiro não fez questão de ficar neutro: comentou em alto e bom tom que desejava uma vitória da vice-presidente. Exatamente o que Bolsonaro fez ao apoiar Trump em 2020. A diferença? Bolsonaro, naquela ocasião, estava em sintonia com o futuro presidente americano; Lula, agora, acaba de cair do cavalo.
A derrota da esquerda americana foi um banho de água fria para o petista. A verdade é que ele tinha pouco a ganhar ao se envolver. Mas Lula viu ali a chance de promover sua imagem internacional de defensor da “democracia” – ainda que o conceito de democracia lulista tenha nuances duvidosas. Como resultado, seu apoio a Kamala agora soa mais como uma aposta perdida. Uma jogada precipitada e, francamente, desnecessária.
Lula não perdeu tempo em posar como o bastião da democracia internacional, mas essa política de autopromoção já provou ser ineficaz. O apoio descarado que seu governo deu à reeleição de Nicolás Maduro é um exemplo vivo. Ali, Lula entrou de cabeça, talvez até acreditando que sairia como herói. Mas acabou com a imagem manchada. Maduro nem se deu ao trabalho de manter a encenação, mostrando que a democracia que Lula defende é flexível – e isso só reforça a hipocrisia.
E o teatro continuou. A postura diplomática de Lula em relação ao conflito entre Israel e Hamas foi outro capítulo confuso e indigesto. Ao expressar simpatia pela causa Palestina sem medir palavras, o presidente só agravou a situação. No fim, o Brasil parece perdido, com uma política externa que defende valores dúbios e contraditórios.
Será que o petista realmente acreditava na vitória de Kamala? Difícil dizer. Talvez ele tenha se deixado levar pela cobertura da imprensa brasileira e internacional, que se apressou em retratar Trump como o vilão e Kamala como a salvadora. Para o PT, o jogo parecia ganho, mas as urnas contaram outra história. A verdade é que o americano comum estava preocupado com a economia, não com o drama midiático.
Bolsonaro, por outro lado, não perdeu tempo em apontar o erro do rival. Ao invés de se envolver em posicionamentos externos, ele usou o triunfo de Trump como combustível para seu próprio discurso. “Que a vitória de Trump inspire o Brasil a seguir o mesmo caminho”, disse ele em uma indireta potente e oportunista, já de olho no futuro.
Ao se alinhar com Kamala e se alienar de Trump, Lula pode ter fechado portas estratégicas para o Brasil. A política externa de Trump é focada em interesses americanos, e países como o Brasil têm pouco espaço para erros em um cenário tão competitivo. A insistência de Lula em misturar seus interesses pessoais com a política nacional pode ter um custo elevado.
Lula precisa urgentemente reavaliar suas prioridades. O Brasil merece uma política externa coerente, que realmente coloque o país em primeiro lugar, e não o ego de um cara que parece mais preocupado em ser aceito pela elite progressista global do que em garantir avanços para seu próprio povo. Mais do que uma derrota americana, Lula contratou uma crise de imagem para si próprio – e quem paga essa conta, como sempre, é o Brasil.