Internacional
Nós avisamos sobre Trump: análise profunda das eleições americanas e impactos para o Brasil
Donald Trump, num movimento inesperado para alguns analistas, mas previsível para outros, foi eleito para seu segundo mandato na Casa Branca em 6 de novembro, derrotando o atual presidente Joe Biden, que desistiu da corrida após dificuldades físicas e de sustentação política. Esse retorno de Trump ao poder nos Estados Unidos carrega implicações profundas, tanto para a economia americana quanto para o cenário econômico e diplomático do Brasil. A lição, no entanto, não é nova; a história parece ter-se repetido, expondo como parte da imprensa – americana e brasileira – preferiu sustentar uma série de ilusões e narrativas que obscureceram temas centrais para o eleitorado.
A primeira eleição de Trump em 2016 já trazia sinais claros de que o eleitor americano estava motivado por questões que transcendem as bandeiras ideológicas típicas do Partido Democrata. O desgaste com temas polêmicos, como a política de imigração, e o descrédito com as promessas tradicionais dos democratas impulsionaram a primeira vitória de Trump. Agora, com o desgaste do governo Biden, somado a uma crise de identidade dentro do Partido Democrata, o caminho se repetiu. E mesmo assim, grande parte da imprensa preferiu reforçar uma retórica de “ameaça à democracia” e “extremismo de direita”, negligenciando problemas econômicos que o próprio cidadão americano enfrenta no cotidiano.
A economia é um pilar decisivo em qualquer eleição americana. No entanto, mesmo com uma queda expressiva da inflação sob Biden – de 7,1% para 3,4% ao ano –, essa melhora no índice geral não trouxe alívio real para os bolsos dos americanos. Como apontado pelo economista Michael Walden, embora a renda das famílias tenha aumentado, ela não acompanhou o crescimento dos preços, criando um cenário em que o americano médio ainda vê seu poder de compra em níveis inferiores aos de 2020.
Esse contexto gerou uma sensação de estagnação, onde a “boa notícia” macroeconômica não se traduziu em alívio para o cidadão comum. Como expressou o estrategista político Scott Jennings, questões como inflação e poder de compra foram ignoradas ou minimizadas pela imprensa, que, segundo ele, estava mais focada em narrativas de menor relevância. Essa miopia jornalística afastou a cobertura midiática da realidade vivida pelo eleitorado, que não sentiu as melhorias nas estatísticas econômicas refletirem no seu cotidiano.
A vitória de Trump reflete, portanto, não só uma reação à administração Biden, mas também uma manifestação contra um Partido Democrata que muitos eleitores sentiram estar desconectado da realidade popular. O descontentamento, como observou o empresário Sean Johnson, transcende a mera disputa eleitoral. Ele representa uma insatisfação com o discurso que simplifica os problemas americanos ao rotular metade do eleitorado como preconceituoso ou intolerante.
Para o Brasil, essa nova gestão Trump promete impactos significativos. É possível que o governo brasileiro, com uma política mais alinhada ao “mercado livre” de Trump, veja mais possibilidades de estreitar relações comerciais. Contudo, a postura protecionista de Trump pode significar desafios para o agronegócio e setores de exportação brasileiros, que já enfrentam dificuldades devido à política externa americana. No entanto, a ênfase de Trump em fortalecer a indústria americana e em renegociar acordos comerciais pode oferecer ao Brasil oportunidades para revisar suas próprias políticas econômicas, buscando uma maior competitividade.
Para o Brasil, o retorno de Trump oferece uma nova onda de desafios e oportunidades. A expectativa é que a política econômica americana se torne mais volátil, com efeitos diretos nos mercados financeiros internacionais, o que afetará diretamente o Brasil. Historicamente, períodos de instabilidade na economia americana geram movimentos de fuga de capital dos países emergentes, pressionando o câmbio e alimentando a inflação no Brasil.
Com uma economia interna já debilitada, o governo brasileiro terá que se preparar para lidar com a oscilação dos mercados, além de avaliar a possibilidade de rever acordos comerciais e buscar parcerias estratégicas com outros países. Enquanto Trump prioriza o comércio interno e protege suas indústrias, o Brasil precisará ajustar suas políticas comerciais para evitar uma dependência excessiva dos Estados Unidos e fortalecer suas próprias cadeias produtivas.
Por fim, há uma lição inescapável para a imprensa e para o público: as narrativas ideológicas ou superficiais falham em refletir a complexidade das demandas populares. Os eleitores americanos, assim como os brasileiros, tendem a priorizar questões práticas, como emprego, renda e segurança econômica, em vez de rótulos políticos. Essa eleição demonstrou que os discursos de “ameaça à democracia” e o apelo ao “medo da extrema direita” não são mais suficientes para ganhar corações e mentes, nem nos Estados Unidos, nem no Brasil.
Portanto, fica o alerta para 2028 e, principalmente, para o cenário político brasileiro: desconsiderar o papel decisivo das questões econômicas e sociais é um erro que custa caro, como ficou evidente neste retorno de Trump ao poder. O eleitor busca respostas palpáveis, não narrativas vazias.