Internacional
ONG de Timor-Leste restaura manguezais para proteger país de desastres climáticos
Nação de língua portuguesa do sudeste asiático é vulnerável a inundações, deslizamentos e erosão, além de aumento do nível do mar e tsunamis; florestas de mangue funcionam como barreira natural, mas são ameaçadas por retirada ilegal e madeira, poluição e exploração de petróleo; com apoio do Pnud, organização local desenvolveu ações de conservação
Uma das prioridades na 29ª Cúpula do Clima, COP29, que começa na próxima semana no Azerbaijão, será um novo acordo financeiro coletivo para apoiar os países em desenvolvimento a tomar medidas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Algumas das soluções são baseadas simplesmente em conservar e restaurar ecossistemas, como manguezais, corais e ervas marinhas, que funcionam como barreiras naturais para eventos climáticos extremos.
Vida selvagem no mangue em Tmor-Leste
Vulnerabilidade a inundações e deslizamentos
Por ser um dos países mais vulneráveis do mundo a desastres como ciclones, terremotos, tsunamis, secas e chuvas, Timor-Leste pode se beneficiar com um eventual novo acordo na COP29. Com apoio das Nações Unidas, o país tem apostado em soluções baseadas na natureza e mostrado resultados.
A nação lusófona, do sudeste da Ásia, tem uma geografia muito particular com 743 km de litoral e diversas montanhas, que chegam até 3 mil metros de altura. Relatos mitológicos contam que o país surgiu de um crocodilo e por isso a ilha tem o formato do animal, sendo as montanhas sua coluna.
Essas características fazem com que a pequena nação asiática seja particularmente vulnerável a inundações, deslizamentos de terra e erosão do solo.
Ao mesmo tempo, o aumento do nível do mar em Timor-Leste nas últimas décadas foi de cerca de 9 mm anualmente, o que é bem superior à média global de 2,8 – 3,6 mm por ano.
Restauração de manguezais
Mas a própria natureza do país também oferece recursos de proteção contra essas ameaças, um deles é o manguezal. No entanto, desde 1940, Timor-Leste perdeu 80% da cobertura desse ecossistema.
Para reverter esse quadro, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, iniciou em 2016 o Programa de Resiliência Costeira. Até 2020, quase 2 mil hectares de manguezais e zonas húmidas foram conservados e restaurados nas costas norte e sul do país.
A ONG local Konservasaun Flora & Fauna, KFF, obteve apoio do Pnud para o desenvolvimento de um centro de estudos de manguezais no município de Hera, também convertido em ponto turístico.
Além de apoiar pesquisas, a KFF faz a “gestação” de 30 a 40 mil árvores todos os anos, de 16 espécies diferentes, para garantir a reabilitação de florestas de manguezais em Hera e outras áreas de Timor-Leste.
Alito Rosa, Diretor da Konservasaun Flora & Fauna, KFF
Ameaça da poluição por lixo e resíduos do petróleo
A ONU News visitou o local e conversou com o diretor da KFF, Alito Rosa, que disse que “os manguezais podem proteger as comunidades costeiras de desastres naturais, como tsunamis, furacões, ventos fortes, e prevenir a ocorrência de erosão”.
Segundo ele, dos 13 hectares de manguezais que existem atualmente em Hera, três foram restaurados com sucesso pela KFF, com apoio do Pnud. A organização também restaurou recifes de coral danificados e preservou cerca de 15 hectares de algas marinhas.
Os maiores riscos para a existências dos manguezais são corte e queima de árvores, extração ilegal de madeira, e poluição. O diretor da KFF explicou que “se as ondas do mar carregarem lixo e cobrirem a parte superior da semente do mangue, isso impedirá que ela seja exposta à luz solar efetivamente matando os manguezais”.
Por isso, os esforços de conservação são a principal prioridade da organização. Para reforçar essa ideia, o caminho que os visitantes fazem ao chegar no centro de estudos é por uma passarela feita com plástico reciclado, convertendo o principal inimigo do mangue em um suporte para sua contemplação.
O coordenador de projetos da KFF, Elidio Ximenes, adicionou que a exploração de petróleo na costa timorense também “gera resíduos que se infiltram nos manguezais”. Para ele, a falta de regulação dessas atividades representa uma “ameaça significativa para a sobrevivência dos manguezais e dos recifes de coral”.
Passarela feita de plástico reciclado no Centro de Estudos de Manguezais em Hera
Envolvimento da comunidade
O representante do Suco Hera, Raul Amaral Soares, afirmou que os esforços de conservação envolvem toda a comunidade, que participa de eventos de plantio e ações de educação sobre como cuidar do lixo.
A líder comunitária Nelia dos Santos Oliveira já participou dessas atividades e declarou que “os manguezais são um bom habitat para a vida marinha e não devem ser destruídos”.
Segundo ela, uma vez que a pesca é essencial para o modo de vida das comunidades costeiras, as mulheres devem se envolver e contribuir.
Alito Rosa ressalta que esses ecossistemas são muito valiosos para Timor-Leste porque, “quando vistos através das lentes da economia azul, desempenharão um papel significativo no futuro”.
“Na nossa organização, esse espírito nos motiva a continuar fazendo a diferença através do nosso trabalho”, concluiu ele.