Internacional
Centro-africanos retornam a casa após 10 anos de refúgio nos Camarões
Acnur fornece apoio financeiro para cobrir despesas de transporte até ao destino, desafios iniciais de realojamento e custos básicos; programa de repatriamento voluntário vai apoiar regresso de 300 mil refugiados à RCA até 2028; em sete anos de vigência, 49 mil pessoas já regressaram a casa
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Acnur, apoia o retorno a casa dos refugiados na região em meio à melhoria da situação de segurança em algumas zonas da República Centro-Africana. Foram mais de 12 mil refugiados só este ano e 49 mil desde 2017.
Restauração da paz
Na sequência dos acordos entre a RCA, os Camarões, a República Democrática do Congo e a República do Congo, o Acnur tem facilitado um programa de repatriamento voluntário, apoiando refugiados que desejam regressar a áreas consideradas seguras.
A agência da ONU conta que a implementação do Acordo de Paz e Reconciliação e a restauração da segurança em algumas áreas trouxeram progressos significativos no RCA que acolhe ainda mais de 507 mil deslocados internos enquanto muitas pessoas permanecem refugiadas nos países vizinhos.
Décadas de violência deixaram um impacto profundo, as inundações e os surtos de doenças em curso, incluindo a varíola bovina e dengue, continuam a agravar a já terrível situação das populações vulneráveis nos locais de deslocação.
No campo de refugiados de Timangolo, leste dos Camarões, a atmosfera é de muito entusiasmo, à medida que os refugiados da RCA se preparam para a tão esperada viagem de regresso a casa.
Refugiados atravessam a pé para o Chade, vindos da República Centro-Africana (Foto de arquivo)
Regresso a casa
Halimatou Sadia, de 40 anos, certifica-se de que o cabelo da filha está entrançado, hena aplicada nas mãos e os rapazes estão bem arranjados. Toda a bagagem, incluindo os pertences domésticos, é etiquetada e carregada para um camião que os espera.
São mais de 300 pessoas prestes a retornarem a casa na RCA, donde saíram há mais de 10 anos, fugindo da guerra. Halimatou está ansiosa para se juntar ao marido, que há dois anos regressou, preparando-se para o regresso da família.
“Já não nos víamos há muito tempo, por isso arranjei o cabelo e usei hena nas crianças, quero regressar e encontrar o meu país em paz para que os meus filhos possam voltar à escola. Viemos aqui e fomos recebidos e foi-nos dada comida. Construíram um abrigo para nós e os nossos filhos foram matriculados na escola para estudar, conta ela.”
Quando o comboio de cinco camiões começa a andar, Halimatou despede-se dos amigos e vizinhos que vieram despedir-se dela. Embora seja um momento emocionante, a viagem evoca memórias dos horrores de que ela fugiu.
Boas-vindas
Depois de cinco horas de viagem numa estrada difícil, a família de Halimatou chegou a Lolo, pequena aldeia fronteiriça no leste dos Camarões, onde passaram a noite. Na manhã seguinte, passaram pelos serviços de migração e por exames de saúde antes de embarcarem na última etapa da viagem.
Enquanto atravessavam a fronteira, os aldeões, à beira da estrada, acenavam com ramos, dando boas-vindas aos retornados. Halimatou passou a noite seguinte num centro de trânsito em Berberati antes de seguir para a sua terra natal, Makunji, onde se reuniu com o marido.
“Estou feliz por estar na minha terra natal”, diz Halimatou. “Achei-a muito bonita e quando atravessámos [a fronteira], o meu coração estava calmo.”
Inquéritos recentes nos países de asilo indicam que cerca de 80 mil indivíduos pretendem regressar à RCA se os serviços básicos estiverem acessíveis.
Crianças da República Centro-Africana frequentam aulas em um espaço protegido em um campo de refugiados em Camarões
Apoio financeiro
A agência dos Refugiados e parceiros tem prestado assistência em dinheiro para ajudar os repatriados a enfrentar os desafios iniciais do reassentamento nas suas comunidades e para cobrir despesas básicas, incluindo transporte até ao destino, alimentação e utensílios domésticos.
“A porta está aberta para aqueles que ainda estão no exílio”, diz ela. “O que quer que faça quando está no estrangeiro, não é em casa. Foi a crise que nos levou até lá [aos Camarões], mas agora há paz, por isso é melhor voltar e trabalhar pelo seu país.”
Foi em 2019 que Haouaou Halidou decidiu regressar a casa, conseguiu reconstruir sua vida e reintegrar-se na sua comunidade. Abriu uma alfaiataria em casa, usou as habilidades que adquiriu nos Camarões e juntou-se a um grupo de poupança de mulheres para expandir o negócio e sustentar os filhos.
A mãe de quatro filhos que vive na cidade de Berberati agora conta que não há nada melhor do que estar no país de origem. Faz vestidos para as filhas e quando saem atraem novos clientes para a mãe.
As iniciativas do Acnur incluem a promoção da coesão social entre retornados e comunidades de acolhimento. Os apoios visam os meios de subsistência, documentação civil e atividades de consolidação da paz.