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OPINIÃO – Explosão em Brasília: o homem por trás do ato e as narrativas que dividem o Brasil
Por Roberto Tomé
Os acontecimentos recentes em Brasília trouxeram um misto de confusão, indignação e narrativas polarizadas. Após o incidente em que Francisco Wanderley Luiz tirou sua própria vida detonando um explosivo entre o Congresso Nacional e o STF, a realidade foi rapidamente transformada em combustível para discursos políticos e midiáticos. Mas a verdade, às vezes, é bem mais complexa e menos conveniente.
As redes sociais do homem revelavam um cidadão insatisfeito com o sistema político brasileiro como um todo. Ele atacava tanto Lula quanto Bolsonaro, deixando claro que sua revolta transcendia ideologias específicas. A filiação ao PL, em 2020, tem sido usada como base para associá-lo ao bolsonarismo, mas o próprio Bolsonaro só ingressou no partido em 2021. É, no mínimo, um erro grosseiro conectar automaticamente Francisco a esse indício político.
Francisco detonou o explosivo após ser abordado por um segurança, numa demonstração clara de que seu objetivo final era tirar a própria vida, deixando uma mensagem de despedida em tom de sacrifício. Ele desejava que seu gesto servisse como “exemplo” para o Brasil, mas o que isso significa segue aberto a interpretações.
O ato, embora trágico, foi rapidamente rotulado como “atentado terrorista” por algumas autoridades e veículos de comunicação. Há, porém, uma diferença crucial entre desespero pessoal e um ato político articulado. Muitos, como o ministro Luís Roberto Barroso, aproveitaram o momento para reafirmar a importância da democracia brasileira, mas sem uma reflexão profunda sobre o contexto que leva alguém a tal ponto.
Enquanto parte da imprensa e políticos classificaram Francisco como um extremista, outros apontaram para o histórico de decisões controversas do Supremo Tribunal Federal, em especial do ministro Alexandre de Moraes, como um fator de desgaste da confiança pública. O STF tem enfrentado críticas constantes por suas ações que, em alguns casos, são percebidas como excessivas ou autoritárias.
Um paralelo inevitável surge com o caso de Adélio Bispo, autor do ataque contra Bolsonaro em 2018. Naquela ocasião, investigações foram limitadas e o incidente foi tratado como obra de um “lobo solitário”. Agora, no caso de Francisco, a narrativa virou para conspiração e terrorismo. Essa inconsistência alimenta a desconfiança e reforça a percepção de seletividade nos discursos e investigações.
Mais do que um evento isolado, o que aconteceu em Brasília reflete a profunda insatisfação e frustração que permeiam o Brasil. Não se trata de culpar apenas um lado ou outro, mas de reconhecer que a polarização, a falta de representatividade e a desconfiança generalizada nas instituições criaram um ambiente onde atos extremos encontram terreno fértil.
É um alerta preocupante. Enquanto a verdade for manipulada em benefício de agendas pessoais ou políticas, os problemas reais do país continuarão sem solução. Em vez de narrativas simplistas, o Brasil precisa de diálogos honestos, transparência e uma busca genuína por justiça e equilíbrio.
Finalizo a minha humilde opinião deixando a seguinte pergunta: essa foi à última e desesperada tentativa de resgate da democracia em uma insegurança jurídica que surgiu nos últimos anos no Brasil? Com a palavra, as autoridades e o Senado Federal.