Saúde
Cérebro podre: neuropsicóloga explica o termo e os fatores que levam ao comportamento
Expressão do ano eleita pelo Dicionário Oxford, refere-se à deterioração mental causada pelo excesso de conteúdos superficiais e pouco desafiadores, como os de redes sociais
Com mais de 130.000 buscas por “brain rot” ao longo de 2024, o termo ganhou notoriedade e foi recém definido pelo Dicionário de Oxford, um dos mais completos e renomados dicionários da língua inglesa. A expressão, que significa cérebro podre ou podridão cerebral, foi escolhida por mais de 37 mil pessoas em votação pública.
O termo pode ser traduzido como a sensação de esgotamento mental ou intelectual após o consumo excessivo de conteúdos triviais nas redes sociais. Apesar do uso do termo ter crescido 230% somente neste ano, ele existe há mais de um século.
O Dicionário Oxford de Inglês elege uma palavra do ano desde 2004. O termo escolhido representará a sensação da sociedade no referido ano, que reflete preocupações contemporâneas, um comportamento ou mesmo uma tendência.
Segundo a neuropsicóloga Anna Rúbia Pirôpo, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Unime Anhanguera, a imersão excessivamente nas redes sociais e a adesão a conteúdos diversos sem expressão de qualidade, podem promover e/ou intensificar sinais e sintomas ligados à saúde mental desses usuários, seja adultos ou crianças.
“As redes sociais, por exemplo, fazem parte do atual contexto de vida das pessoas, contudo em muitas vezes são tidas como prioridade no cenário cultural, no qual a sua inserção se dá cada vez mais precocemente, com baixo controle, e é justamente esse o risco”, alerta.
Para Anna, o uso de forma imprudente e excessiva tem gerado grandes impactos à saúde mental e os números são alarmantes, principalmente quando se fala do público jovem (pré-adolescentes, adolescentes e jovens adultos).
A neuropsicóloga explica, que o uso, a exposição e o tempo dedicado as redes sociais, são temas que fazem parte de uma ampla discussão na Psicologia, principalmente quando se fala sobre “Identidade”, isto é, quando o indivíduo inicia a elaboração de respostas para responder a seguinte pergunta: “Quem sou eu?”.
“A partir desse cenário, percebemos a ascendência do número de casos e compartilhamentos sobre o que chamamos de reforço social, que envolve indiretamente a intensa cobrança diante dos padrões perfeitos de autoimagem, autoexpressão, contexto social e profissional, assim como comportamentos. Esses fatores apresentam números relevantes de associação aos elevados níveis de ansiedade, depressão, entre outras patologias. Diante disso e de outros aspectos, filtrar conteúdos, buscar qualidade e veracidade na informação ou até mesmo afastar-se de imersão por um tempo, pode ser essencial para a preservação da saúde e manutenção do bem-estar”, destaca.
Sobre o público infantil, a neuropsicóloga indica que a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que não haja exposição a telas para crianças menores de dois anos. “A criança na primeira fase da infância está em um período de grande neuroplasticidade, no qual a quantidade e qualidade do estímulo são fundamentais para o desenvolvimento das suas funções cognitivas”.
Mas o que leva a esse comportamento?
“Um neurotransmissor que explica, em partes esse comportamento compulsivo, é a dopamina, que direciona nossa atenção para buscar atividades prazerosas como comer, socializar e se reproduzir, fortalecendo a memória agradável dessas experiências para serem repetidas no futuro. Mas no exagero disso, o indivíduo é inundado por dopamina em um curto espaço de tempo e, como consequência, o sistema de recompensa cerebral, sobrecarregado para lidar com tantos estímulos, reduz o número de receptores de dopamina dos neurônios para reduzir a sua sensibilidade a esses estímulos exagerados, mediante um mecanismo chamado de tolerância biológica. Com menor sensibilidade dos neurônios, serão necessários estímulos cada mais intensos para despertar o interesso da pessoa. Talvez, por este motivo, pode-se apresentar maior dificuldade para estudar, ler um livro ou realizar outras atividades fora das telas”, explica.
A neuropsicóloga reforça o quanto é importante o monitoramento e/ou redução de atividades modernas e viciantes, e como o conceito define: “podres”. “Com isso, o sistema dopaminérgico e a sensibilidade à estímulos se equilibra, aumentando o autocontrole, e atividades que produzem pouca dopamina, acabam se tornando interessante novamente. Dessa forma, é essencial identificar hábitos prejudiciais, que implicam em angústia, cognição e perda da harmonia das relações e compulsão. Foque em reduzir apenas os hábitos viciantes e determine períodos neuros, isto é, crie um período determinado para o uso de celular ou de redes sociais, caso seja esse o problema”, finaliza Anna.
AUTORA
Anna Rúbia Pirôpo Vieira da Costa: Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga, Consultoria de Recursos Humanos. Profissional com mais de 10 anos de experiência com Psicologia Clínica atuando com Atendimento Psicológico, Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica. Atuação na área organizacional com Gente e Cultura, Recursos Humanos, e sólida vivência em estratégias de R&S, T&D, Gestão de orçamento, propostas de mudança de estrutura, implantação de avaliações de desempenho e de feedbacks organizacionais para os gestores e suas equipes. Experiência na área de HRBP e Desenvolvimento Organizacional. Docente do Ensino Superior com experiência na coordenação dos cursos de Psicologia e Educação Física na Faculdade Unime Anhanguera.