Nacional
O Lula e as moedinhas do espelho d’água: a nova política econômica do Brasil?
Por Roberto Tomé
Amigo, o Brasil é o país da piada pronta. Só que, dessa vez, a piada saiu diretamente do Diário Oficial da União. A Casa Civil, numa tacada de gênio ou desespero (fica ao gosto do freguês), decidiu que as moedas jogadas nos espelhos d’água das residências oficiais da Presidência – aquelas que você joga pedindo um amor, um emprego ou que o VAR funcione no futebol – agora vão parar no Tesouro Nacional. Isso mesmo, o governo está literalmente pescando desejos para pagar as contas. Se o próximo passo for catar moedas entre os assentos dos sofás do Palácio da Alvorada, já nem vou me surpreender.
A medida, formalizada pela portaria 167, é tão específica que parece roteiro de comédia. Estabelece procedimentos detalhados para coletar as moedinhas. E não é qualquer coleta, não. Tem periodicidade máxima de seis meses, gestor responsável, protocolo para conversão de moedas estrangeiras, e até destinação especial para moedas históricas ou artísticas – que vão direto para o Museu de Valores do Banco Central. Olha se tem uma coisa que esse governo sabe fazer é criar burocracia. Aposto que, se dependesse da Casa Civil, até as moedas do fundo do mar do Titanic já teriam sido catalogadas.
Agora, pensa comigo: quem vai fazer o trabalho sujo? O gestor do contrato de manutenção dos espelhos d’água. Sim, o cara que provavelmente achou que seu maior desafio seria limpar folhas ou trocar a água de vez em quando agora vai precisar virar especialista em catar moeda com peneira. Talvez role até um curso de mergulho profissional. Nunca se sabe. Vai que tem uma moeda entalada num canto difícil do espelho d’água do Planalto? Já imagino o gestor com roupa de neoprene, lanterna na cabeça e um saco plástico, tipo um caçador moderno de tesouros. Só que ao invés de ouro, ele está atrás de 25 centavos.
E o melhor: as moedas coletadas precisam ser enviadas ao Tesouro Nacional em até 60 dias. Um prazo bem razoável, porque, né, converter moedas estrangeiras não é tarefa para qualquer um. Imagina o drama quando acharem uma moeda de 10 ienes e ninguém souber o câmbio atual. Será que vale a pena converter? Ou será que a Casa Civil vai começar a aceitar PIX para facilitar o processo? Só o tempo dirá.
Claro que a oposição não ia perder a oportunidade de brincar com isso. O senador Rogério Marinho foi direto: “A coisa tá tão feia para o governo que agora até as moedinhas viraram estratégia de arrecadação”. Dá para sentir a ironia pingando. É quase como se ele estivesse segurando uma plaquinha de “eu avisei”. Já a deputada Carla Zambelli foi mais criativa. Disse que o “DESgoverno Lula” está tão desorganizado que agora precisa das moedas dos espelhos d’água para bancar os privilégios que ele mesmo criou. É o tipo de crítica que mistura exagero com aquele toque de verdade que faz a gente rir de nervoso.
E o senador Jorge Seif Júnior não ficou para trás. Foi ao X (antigo Twitter, mas continua sendo um lugar bom para tretas) e mandou: “Será que bateu o desespero nesses tempos de ajuste fiscal, para chegar ao ponto de contar moedas?”. A frase em si já é boa, mas o timing foi impecável. Foi o tipo de comentário que deixa a base governista com dor de cabeça e a oposição com aquele sorriso de canto de boca.
Brincadeiras à parte, essa decisão diz muito sobre o momento econômico do Brasil. Não é só sobre as moedinhas. É sobre a necessidade de mostrar que cada centavo importa. O governo está tentando ajustar as contas como pode, mas a percepção pública disso não é nada boa. Porque, convenhamos, quando você precisa recorrer a uma ideia dessas, parece que está raspando o fundo do tacho. E, no Brasil, a impressão de fraqueza é pior do que a fraqueza em si.
Claro, a portaria tem seus méritos. Afinal, é melhor pegar essas moedas do que deixá-las enferrujando no fundo dos espelhos d’água. Mas a questão é: vale a pena o desgaste político? Porque, para muita gente, isso soa mais como desespero do que como gestão eficiente. E a narrativa é importante. Afinal, o governo que catava votos agora parece estar catando moedas. Literalmente.
Essa é a pergunta de um milhão de reais (ou de algumas centenas de reais, no caso). Alguém já fez as contas? Quanto dinheiro pode sair disso? Será que vai dar para comprar um cafezinho no Palácio? Ou, quem sabe, pagar um Uber para um ministro? A verdade é que o valor arrecadado provavelmente será simbólico. Não vai fechar buraco fiscal nenhum. Mas, por outro lado, pode ser uma forma de mostrar que o governo está disposto a fazer até o impensável para resolver os problemas financeiros. O problema é que o impensável, no Brasil, vira meme.
E tem outro detalhe que ninguém está falando: o impacto emocional disso. Jogar moedas na água é uma tradição cheia de simbolismo. As pessoas fazem isso para pedir algo, para sonhar. Agora, saber que seu desejo vai parar no Tesouro Nacional tira um pouco da magia, não acha? Imagina contar para as crianças que o pedido delas virou troco para pagar a luz do Palácio do Planalto. Não é exatamente inspirador.
Essa história é a cara do Brasil: uma mistura de criatividade, polêmica e um toque de absurdo. O governo Lula conseguiu transformar uma coisa tão banal – as moedas dos espelhos d’água – em um tema nacional. E, no final, a gente ri para não chorar. Porque, se depender dessas moedinhas, vai faltar muito troco para resolver os problemas do país. Mas, ei, pelo menos o governo está tentando, né? Mesmo que seja com um balde e uma peneira.