Segurança Pública
Marinha do Brasil e a Força Aérea interceptaram em operação secreta e real, com poderosos aviões, mísseis, fragatas e corvetas, um navio espião russo na Zona Econômica Exclusiva do Brasil
Invasão silenciosa! Navio espião russo Yantar é localizado pela Marinha do Brasil e Força Aérea brasileira em uma caçada intensa de seis dias perto dos cabos submarinos, na Zona Econômica Exclusiva
Em fevereiro de 2020, o silêncio do Atlântico Sul foi rompido por uma ameaça invisível e altamente sofisticada: um navio espião russo navegava secretamente dentro da Zona Econômica Exclusiva do Brasil. Sem aviso prévio e com suas intenções ocultas, a embarcação desafiava a soberania brasileira em uma região crítica para as comunicações globais. A resposta da Marinha do Brasil e da Força Aérea Brasileira foi imediata e implacável, desencadeando uma caçada intensa para localizar e neutralizar a intrusão.
O que aconteceu nos seis dias seguintes revelou a ousadia russa e a determinação das Forças Armadas brasileiras em proteger seus interesses estratégicos.
Continue lendo e descubra como a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira, em uma operação digna de filmes de espionagem, localizaram e confrontaram o sofisticado navio russo Yantar, suspeito de espionagem em águas brasileiras. Saiba os detalhes das manobras ousadas, das tecnologias envolvidas e dos bastidores dessa operação que testou os limites da inteligência e da vigilância nacional em pleno Atlântico Sul.
Marinha do Brasil e a Força Aérea brasileira encontraram um navio espião russo de dentro da Zona Econômica Exclusiva do Brasil
A Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de um país é uma grande área marítima que se estende após o mar territorial até 200 milhas náuticas – cerca de 370 km. Embora sejam águas internacionais, de livre trânsito para navios estrangeiros, essa é uma área em que, como o nome sugere, apenas o país costeiro tem autorização para explorar atividades econômicas, como a pesca e a extração de petróleo. Atividades de pesquisas oceanográficas realizadas por navios estrangeiros também são proibidas, assim como operações de espionagem.
Embora não seja ilegal, por uma espécie de acordo de cavalheiros, nenhuma marinha do mundo, com exceção das marinhas dos Estados Unidos e da China, realiza exercícios navais dentro da ZEE de outro país. Até mesmo o trânsito de um navio militar pela ZEE de outro costuma ser previamente comunicado, para evitar incidentes diplomáticos.
Dentro das zonas econômicas exclusivas costumam passar cabos submarinos que ligam os servidores de internet de países de diferentes continentes. Estima-se que esses cabos respondam por 99% das comunicações transoceânicas e 97% das conexões de internet no mundo. Por isso, são alvos constantes de espionagem, já que comunicações militares, em muitos casos, também utilizam esses cabos submarinos.
Quando se fala em espionagem de cabos submarinos, um dos equipamentos militares mais modernos do mundo para realizar esse tipo de missão é o navio russo de coleta de inteligência para fins especiais, Yantar. Com 5,7 mil toneladas de deslocamento e 108 metros de comprimento, é equipado com sensores de alta tecnologia para rastrear o fundo do mar. O governo russo alega que não se trata de um navio espião, mas apenas de um navio de pesquisas oceanográficas.
O serviço de inteligência da Irlanda flagrou agentes russos operando a partir do Yantar, investigando cabos submarinos de fibra ótica que conectam a Europa aos Estados Unidos. A segurança dos dados que passam pelos cabos é uma preocupação central de Washington e Europa. O temor ocidental é que pontos fracos na estrutura desses cabos possam permitir o hackeamento das informações ou, até mesmo, que eles sejam cortados, interrompendo o tráfego de dados. Tal ação seria uma catástrofe para a economia e a segurança da OTAN.
No final de outubro de 2015, fontes de inteligência dos EUA relataram que o navio russo estava, pela primeira vez, dentro das águas territoriais norueguesas, seguindo ao norte ao longo da costa daquele país.
Em 2017, o Yantar foi localizado pela marinha israelense no Mediterrâneo Oriental, perto de um cabo submarino que ligava Israel ao Chipre. Tamanha era a preocupação dos britânicos com suas comunicações submarinas que, no início de 2020, o navio russo Yantar, em passagem pela Europa, foi escoltado pela Força Aérea Britânica enquanto atravessava o Canal da Mancha em direção ao Uruguai, onde iria cumprir agenda militar diplomática.
Viagem ao Uruguai era apenas uma desculpa russa. para espionar o Brasil
No entanto, o que não se sabia era que a viagem ao Uruguai era apenas uma desculpa russa. Na verdade, o Yantar rumava para o Brasil. Como se sabe, existem questões dentro das forças armadas que não podem ser divulgadas à imprensa, mas, conhecendo os bastidores dos serviços de inteligência militar, pode-se supor que a inteligência da Marinha do Brasil já havia alertado o Comando da Esquadra sobre a necessidade de proteger os cabos submarinos brasileiros. Afinal, o navio russo, temido por esse tipo de espionagem, estava se dirigindo ao Atlântico Sul.
Durante as suas operações de monitoramento litorâneo, a Marinha do Brasil localizou em seus radares, no dia 10 de fevereiro de 2020, um navio até então não identificado dentro da Zona Econômica Exclusiva Brasileira. Como não havia nenhum navio mercante com rota planejada e informada para aquela área, e como nenhum navio militar estrangeiro havia comunicado trânsito por ali, os marinheiros controladores do Centro Integrado de Segurança Marítima do Rio de Janeiro entraram em contato, via rádio, com o navio ainda não identificado para questionar quais eram suas atividades dentro da ZEE brasileira.
Logo após essa primeira tentativa de contato, que foi completamente ignorada pelo comandante do navio desconhecido, a embarcação desapareceu do radar. A imprensa não especializada divulgou o episódio dizendo que o navio desconhecido desligou seu equipamento AIS, que é um sistema normalmente utilizado por navios mercantes para permitir sua localização. No entanto, é evidente que um navio espião não estaria navegando com o AIS ligado. A causa mais provável do desaparecimento dos radares foi a ação de guerra eletrônica realizada pelo navio russo.
Yantar, estaria espionando os cabos submarinos brasileiros
Um sinal de alerta foi imediatamente emitido: um navio com atitudes muito suspeitas estava desaparecido dos radares e navegando dentro da ZEE brasileira. A embarcação, muito provavelmente o Yantar, estaria espionando os cabos submarinos brasileiros. Diante dessa ameaça, uma operação de patrulha aeronaval foi desencadeada para localizar e identificar o navio suspeito.
Nessa situação, aviões P-3 Orion da Força Aérea brasileira, armados com poderosos mísseis antinavio Harpoon, e aviões de caça de ataque naval da Aviação Naval, A-4 SkyHawk, foram imediatamente acionados. No entanto, ao chegarem às coordenadas informadas pelos controladores de navegação, não encontraram nada.
Além disso, helicópteros da Marinha, como os modelos AH-11A Super Lynx, armados com mísseis antinavio Sea Skua, decolaram das fragatas brasileiras e iniciaram voos de busca pela área. Ainda assim, nada foi encontrado nas primeiras 24 horas.
Todas as fragatas e corvetas da Marinha brasileira foram designadas para patrulhar a gigantesca região
As operações de busca continuaram. Todas as fragatas e corvetas brasileiras que estavam navegando nas águas próximas à costa sudeste foram designadas para patrulhar a gigantesca região. Além disso, dezenas de navios de patrulha também foram mobilizados. A ZEE do Brasil é imensa, com cerca de 3,6 milhões de km² no total. Procurar uma embarcação em apenas parte dela seria como procurar uma agulha em um palheiro.
Para as Forças Armadas brasileiras, no entanto, localizar o navio espião era uma questão de honra. Após seis dias de buscas intensas e constantes por uma área gigantesca, no fim da tarde de domingo, dia 16, um helicóptero da Marinha e um avião da Força Aérea Brasileira localizaram, conjuntamente, a embarcação suspeita a aproximadamente 50 milhas náuticas – cerca de 80 quilômetros – das praias do Rio de Janeiro. A localização exata era fora do mar territorial brasileiro, mas dentro da ZEE, exatamente sobre os cabos submarinos de comunicação brasileiros.
Marinha e a Força Aérea brasileira encontraram os espiões russos com a boca na botija
A suspeita se confirmou: a embarcação era realmente o navio espião russo Yantar. Ou seja, a Marinha e a FAB haviam encontrado os espiões russos, como se diz no popular, com a boca na botija. A atitude suspeitíssima do navio era corroborada pelo fato de o adido militar russo em Brasília não ter comunicado em nenhum momento à Marinha do Brasil que o Yantar estaria de passagem pela ZEE brasileira. Tampouco o comando do navio fez contato prévio. Pelo contrário, a embarcação tentou se ocultar, apostando que a Marinha e a FAB não conseguiriam localizá-la em uma área tão extensa.
Assim que as aeronaves brasileiras localizaram o navio espião russo, fizeram contato em inglês, conforme determina a legislação internacional, questionando o que aquela embarcação militar russa estava fazendo dentro da ZEE do Brasil, em cima dos cabos submarinos brasileiros. A tripulação russa deu uma resposta evasiva, de acordo com as reportagens da época.
Após a resposta evasiva, não se sabe exatamente qual foi o diálogo entre a tripulação da aeronave brasileira e a do navio espião russo, mas o que se sabe é que, dois dias depois, o Yantar atracou no porto do Rio de Janeiro, mesmo sem nenhuma previsão oficial de realizar essa parada. O que se pode deduzir é que, após ter sido localizado em uma região tão sensível – sobre os cabos submarinos brasileiros –, sem qualquer comunicação prévia, a tripulação brasileira pode ter intimado o comando do navio russo a atracar no porto brasileiro mais próximo.
Essa ação teria o objetivo de forçar o comando russo a dar explicações sobre suas atividades na área, evitando assim sofrer um processo internacional sob acusação de espionagem ou realização de pesquisas oceanográficas não autorizadas. Afinal, mesmo que o trânsito de navios militares estrangeiros dentro da ZEE não seja ilegal, qualquer atividade de pesquisa ou espionagem é punível de acordo com o direito internacional.
Marinha do Brasil enviou um alerta claro à Rússia: não tentar novamente se esconder ou realizar atividades não autorizadas dentro da Zona Econômica Exclusiva Brasileira
Na época, a diplomacia russa estava se esforçando para aproximar o governo Bolsonaro da esfera de influência russa e afastá-lo dos Estados Unidos. Portanto, para evitar um incidente diplomático com o Brasil, é plausível supor que o comando do Yantar aceitou o “convite” brasileiro para atracar no porto e fornecer explicações oficiais.
Certamente, a tripulação russa deve ter oferecido alguma desculpa, como estar apenas de passagem ou em rota de retorno à Rússia, embora isso fosse uma mentira óbvia diante do comportamento anterior do navio.
Ao que tudo indica, a Marinha do Brasil aproveitou a oportunidade para enviar um alerta claro à Rússia: não tentar novamente se esconder ou realizar atividades não autorizadas dentro da Zona Econômica Exclusiva Brasileira, especialmente sobre os cabos submarinos de comunicação.
Radar OTH 0100: A nova arma da Marinha do Brasil na defesa dos cabos submarinos e soberania nacional
Se, na época, a Marinha do Brasil já contasse com os radares de longo alcance OTH 0100, desenvolvidos no Brasil, a situação poderia ter sido resolvida em menos tempo. Esse tipo de radar pode localizar embarcações a uma distância de até 200 milhas náuticas (aproximadamente 370 km) a partir do litoral, mesmo além da curvatura do horizonte.
No entanto, na ocasião, a Marinha dispunha apenas de um radar OTH, instalado no litoral do Rio Grande do Sul. A busca levou seis dias, uma demora que poderia ser evitada com o uso de tecnologias mais avançadas.
Atualmente, com o radar militar OTH 0100 em funcionamento e planos para ampliação dessa tecnologia ao longo da costa brasileira, a Marinha está mais preparada para monitorar embarcações suspeitas e proteger suas infraestruturas críticas, como os cabos submarinos. Esse avanço coloca o Brasil em uma posição de destaque no monitoramento e defesa de sua ZEE, com a capacidade de identificar e afugentar navios espiões e outras ameaças potenciais em tempo recorde.