ECONOMIA
Gabriel Galípolo e o novo Banco Central: entre política, mercado e pressões
Esses homens e mulheres santos colocam tudo em perspectiva
A partir de 1º de janeiro de 2025, Gabriel Galípolo senta na cadeira mais quente da economia brasileira: a presidência do Banco Central (BC). O que ele vai encarar? Um cenário que mistura expectativas exageradas, críticas ácidas e uma herança que, dependendo de quem olha, pode ser chamada de legado ou de bagunça.
O homem já chegou com moral. Diretor de Política Monetária, Galípolo não esperou a caneta de Campos Neto esfriar. Liderou, na prática, o aumento da taxa básica de juros, jogando a Selic um ponto acima – uma pancada que fez muita gente torcer o nariz, especialmente no PT. Ele não se fez de rogado e mandou ver: “Foi decisão minha, com apoio total dos diretores e de Campos Neto.” Um recado: o jogo mudou.
Campos Neto saiu de cena com discursos bonitos e mãos lavadas. Galípolo assumiu o protagonismo, mas não sem antes apagar incêndios deixados pelo pacote fiscal de Fernando Haddad. O dólar, que flertou perigosamente com os R$ 6,30, foi contido na marra, com leilões de 30 bilhões de dólares em reservas. Parece suave, mas esse terreno está longe de ser firme.
No mercado, a palavra que define Galípolo é uma só: dúvida. Pesquisa da Genial/Quaest mostra que só 5% confiam nele de olhos fechados. Pior: mais da metade acha que ele vai virar marionete política. Para um Banco Central que carrega o peso da autonomia, isso é um baita problema.
O presidente, que tanto reclamou dos juros altos, agora parece mais paciente. Pelo menos em público. Lula prometeu respeitar a autonomia do BC, mas quem acredita? Ele deixou claro que não engole uma Selic na casa dos 12% com a inflação controlada – segundo ele, mérito do governo, claro. A gestão de Campos Neto, nas palavras de Lula, “travou o país”. Dá para imaginar a pressão que Galípolo vai sofrer.
E não é só Lula. O PT inteiro já está afiando as garras. Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias – que não perdem uma chance de dar pitaco – deixaram claro que esperam um BC mais “alinhado”. Lindbergh foi direto: “Agora o PT tem influência.” Isso soa como aviso ou ameaça?
Além das pressões políticas, há uma bomba-relógio fiscal para desarmar. O aumento da dívida pública coloca Galípolo em xeque. Como equilibrar as contas sem perder o controle da inflação? Henrique Meirelles deu o tom: “Sem disciplina fiscal, a economia vai de mal a pior.” Do outro lado, Guido Mantega jogou lenha na fogueira, acusando a antiga gestão de criar uma “crise artificial”. Discurso inflamado, mas e a solução?
Galípolo tem um desafio gigante: provar que o BC ainda é técnico e não um puxadinho do Planalto. Mas o começo não ajuda. Com a Selic projetada para subir ainda mais, ele vai desagradar ao mercado e ao governo – ou seja, a todo mundo. É um equilíbrio difícil, talvez impossível.
Se ele vai sair como herói ou vilão, ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: todos estarão de olho. Cada decisão sua será dissecada, criticada e, muito provavelmente, usada como munição política. No Brasil, o Banco Central nunca foi apenas uma instituição técnica. Com Galípolo no comando, isso não vai mudar.