Internacional
Irã executa segundo detido por participação em protestos
Acusado de matar dois membros de uma força paramilitar foi enforcado em praça pública. União Europeia condena e promete novo pacote de sanções contra Teerã
O Irã executou um segundo prisioneiro condenado por crimes cometidos durante a onda de protestos que ocorre há meses no país e desafia a teocracia dos aiatolás.
Identificado como Majid Reza Rahnavard, ele foi enforcado publicamente em um guindaste de construção, noticiou nesta segunda-feira (12/12) a agência de notícias Mizan, vinculada ao Judiciário iraniano.
Imagens divulgadas pela agência Mizan mostraram Rahnavard pendurado, com um saco preto na cabeça. Membros mascarados das forças de segurança ficaram postados em frente a barreiras de concreto e metal que continham uma multidão reunida no local.
Rahnavard havia sido acusado de esfaquear até a morte dois membros de uma força paramilitar e ferido outros quatro – ele teria ficado indignado com a morte de manifestantes pelas forças de segurança e revidado. Segundo a Mizan, o crime teria ocorrido em 17 de novembro, em Mashhad, no nordeste do país.
Imagens transmitidas pela televisão estatal mostraram um homem perseguindo outro numa esquina, parando sobre ele e esfaqueando-o depois que ele se chocou com uma motocicleta estacionada. Outras imagens mostraram o mesmo homem esfaqueando outra pessoa imediatamente depois.
A agência Mizan identificou os mortos como “estudantes” da força paramilitar voluntária Basij, subordinada à Guarda Revolucionária do Irã.
Membros da Basij vêm atuando nas principais cidades iranianas durante os protestos e atacaram manifestantes, que em muitos casos reagiram. Rahnavard foi também acusado de tentar fugir do Irã depois de ser preso.
Teerã agiliza execuções
A execução de Rahnavard demonstra a agilidade com que Teerã tem buscado concretizar as sentenças de morte proferidas contra os detidos nas manifestações. Na quinta-feira, o Irã já havia executado o primeiro prisioneiro.
O governo espera com isso reprimir os protestos que perduram desde meados de setembro, e que eclodiram após a morte da jovem curda Jina Mahsa Amini, que perdeu sua vida enquanto estava sob custódia da polícia da moralidade – ela teria sido detida por não vestir corretamente seu véu islâmico.
De acordo com o jornal iraniano Etemad, ao menos duas dezenas de manifestantes iranianos enfrentam uma possível execução como resposta das autoridades à sua participação nos protestos antigovernamentais.
A publicação relatou sobre uma lista elaborada pelas autoridades iranianas em que 25 manifestantes são acusados de “travar uma guerra contra Deus”, acusação que, de acordo com a lei iraniana, é punível com a morte. Ativistas alertaram que ao menos uma dúzia de pessoas já foram condenadas à morte em julgamentos a portas fechadas.
Em quase três meses de protestos, morreram mais de 500 pessoas nos confrontos e pelo menos 15 mil foram detidas, de acordo com a organização não-governamental Iran Human Rights.
Execuções conduzidas em público com um guindaste eram raras nos últimos anos, embora o Irã tenha usado a mesma forma de enforcamento para reprimir a agitação social após a contestada eleição presidencial de 2009 e os protestos do Movimento Verde Iraniano.
UE condena e anuncia novo pacote de sanções
Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) expressaram consternação com a mais recente execução. O bloco está na iminência de aprovar um novo pacote de sanções contra o Irã por sua repressão aos manifestantes e também pelo fornecimento de drones à Rússia para uso em sua guerra contra a Ucrânia.
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, disse que conversou com o ministro das Relações Exteriores do Irã sobre as ações repressoras de Teerã aos protestos e sobre a última execução, e afirmou que “não foi uma conversa fácil”.
“Vamos aprovar um pacote de sanções muito, muito duro”, disse Borrell a repórteres ao chegar para presidir a reunião ministerial em Bruxelas. A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, descreveu a execução como “uma flagrante tentativa de intimidação” dos iranianos.
“Estamos deixando claro que estamos ao lado das pessoas inocentes no Irã”, disse Baerbock. “Um sistema que trata o seu povo desta forma não pode esperar continuar a ter relações parcialmente normais com a União Europeia.”
O Irã é um dos países que mais executa prisioneiros do mundo, e normalmente o faz por enforcamento. A Anistia Internacional disse ter obtido um documento assinado por um alto comandante da polícia iraniana pedindo que a execução de um prisioneiro fosse “concluída” no menor tempo possível “e que sua sentença de morte fosse executada em público como um gesto comovente em prol das forças de segurança”.