Internacional
Casa Branca organizou evento de “superpropagação” do vírus
Principal conselheiro de Trump para a pandemia critica cerimônia que reuniu 150 pessoas na sede do governo em setembro e declarações do presidente que voltaram a promover uma suposta “cura” contra a covid-19
Em entrevista ao canal CBS nesta sexta-feira (09/10), o médico Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas (NIAID) dos EUA, criticou a realização de um evento que contou com mais de 150 convidados na Casa Branca em 26 de setembro.
Depois da cerimônia, que oficializou a indicação da conservadora Amy Barrett para a Suprema Corte, pelo menos onze pessoas que compareceram testaram positivo para covid-19, incluindo o presidente Donald Trump e a primeira-dama, Melania. Os convidados foram instruídos a não usar máscaras se tivessem testado negativo naquele dia. Fotos mostraram os convidados aglomerados durante a cerimônia, nos jardins da Casa Branca.
“Tivemos um evento altamente propagador na Casa Branca, onde as pessoas estavam próximas umas das outras e não usaram máscara”, apontou Fauci. “Os dados falam por si”, completou o principal conselheiro de Trump para os esforços de combate ao covid-19. Trump, que anunciou ter testado positivo em 2 de outubro, minimizou repetidadas vezes a pandemia e se recusou diversas vezes a usar máscara em público. Até mesmo depois de deixar o hospital, o presidente voltou a minimizar a doença.
Fauci ainda lembrou que os especialistas estao há seis meses recomendado o uso de máscara. Ele ainda criticou a utilização da palavra “cura” para a covid-19, termo usado por Donald Trump nesta semana após deixar o hospital, em referência aos tratamentos experimentais que recebeu enquanto esteve hospitalizado. Segundo Fauci, as palavras de Trump provocar “muita confusão”.
“Depende muito do que você quer dizer com remédio, pois essa palavra causa muita confusão”, disse. O médico explicou que existem “bons tratamentos para pessoas hospitalizadas com doenças severas” e enumerou diferentes fármacos já testados em milhares de pacientes, tais como o antiviral remdesivir e o corticoide dexametasona, que foram prescritos ao presidente americano, mas mostrou reservas em relação a tratamentos com anticorpos sintéticos como o desenvolvido pelo laboratório Regeneron e largamente elogiado por Donald Trump.
“Têm resultados promissores nos ensaios clínicos, mas a sua eficácia geral e segurança ainda não foram provadas”, justificou Fauci. Não é a primeira vez que Trump promove uma suposta “cura” desde o início da pandemia. Em março, ele promoveu ativamente hidroxicloroquina como um suposto tratamento eficaz contra a covid-19, mesmo sem comprovação científica. Logo depois, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, um admirador de Trump, seguiu o exemplo e passou a promover o fármaco. No entanto, Trump, quando finalmente ficou doente, não foi submetido a um tratamento com hidroxicloroquina, segundo os comunicados médicos da Casa Branca.
O presidente americano também afirmou esta semana que contrair a covid-19 foi “uma bênção de Deus” e prometeu aprovar “com urgência” e disponibilizar gratuitamente o coquetel experimental de anticorpos sintéticos da Regeneron com que foi tratado e que apelidou de “cura”.
A declaração de Trump foi feita um dia depois da FDA, a agência que regula medicamentos nos EUA, estabelecer critérios de aprovação de uma futura vacina contra a covid-19, que tornam improvável a sua autorização antes das eleições presidenciais em 3 de novembro.
Na sexta-feira, Trump ainda declarou estar “livre de medicação” e revelou mais detalhes sobre sua luta contra a covid-19, em entrevista transmitida pela televisão. Foi a primeira entrevista concedida após o mandatário receber alta.
Trump apareceu no programa Tucker Carlson Tonight, da emissora conservadora Fox News, para o que a Casa Branca descreveu como uma “avaliação médica” no ar, realizada à distância pelo doutor Marc Siegel, colaborador da emissora.
“Agora mesmo estou livre de medicamentos, não estou tomando nenhuma medicação há provavelmente oito horas”, revelou Trump a Siegel. Não ficou claro quando a entrevista foi gravada.
Trump afirmou ter refeito um teste de detecção do vírus.
“Voltaram a fazer testes em mim e ainda não vi os números, mas sei que estou na parte inferior da escala ou livre [do vírus]”, disse o presidente, que acredita que fará novos exames “provavelmente amanhã (sábado)”.
O presidente republicano revelou que a doença o deixou com energia reduzida e que não se sentia “muito vital”, mas que não tem problemas para respirar, embora tenha recibo oxigênio pelo menos duas vezes.
Trump garantiu não saber onde contraiu a doença, mas chamou o vírus de “altamente contagioso”. Isso é algo que se aprende, é uma doença contagiosa”, concluiu.