Educação & Cultura
Qual é o papel de cada um na escola?
Conheça quem é quem e suas atribuições
Um quebra-cabeça é formado por várias peças e, por menores que sejam, somente juntas e bem encaixadas é que elas constituem a figura final. Se uma ou outra faltar, é até possível visualizar a imagem, mas sabemos que ela está incompleta. É possível usar a mesma analogia para falar de uma escola. Ela é formada por muitas pessoas, e cada uma precisa fazer sua parte em sintonia com outras para um determinado pedaço funcionar bem e completar o todo.
“A escola é construída por muitos sujeitos, é um espaço comunitário. A responsabilidade está nas mãos do diretor, mas ele tem de compreender que não consegue atuar sozinho. Ele precisa de outras pessoas”, afirma José Marcos Couto Jr., diretor na EM Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro (RJ), e colunista da NOVA ESCOLA.
Levando em conta a complexidade desse organismo, tão importante e central na sociedade, organizamos uma lista dos atores que fazem parte do dia a dia escolar, o papel de cada um deles e suas atribuições.
Antes de seguir, uma consideração
A existência de um ou outro cargo muda de rede para rede – às vezes, até mesmo dentro de uma mesma secretaria. Por isso, apresentamos uma visão geral com base na realidade das pessoas entrevistadas e dos materiais consultados. O nome dos cargos também variam – por exemplo, vice-diretor, diretor-adjunto e diretor assistente. Leve em consideração o papel para entender a correspondência no contexto local.
GESTÃO ESCOLAR
A equipe gestora é formada por profissionais com cargos diferentes. Cada escola estabelece sua rotina de reuniões e alinhamentos, que deve ser constante e dinâmica para garantir o andamento de todas as tarefas. “Escolas têm um movimento vivo. Cada uma tem a própria configuração de como e com que frequência a equipe vai se encontrar, como vai fazer o planejamento das atividades e o desenvolvimento do trabalho da gestão”, explica Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa CEDAC.
Diretor(a)
Muitas vezes comparado ao maestro de uma orquestra ou ao capitão de um navio, o diretor é responsável por um olhar amplo sobre a escola. Ele tem atribuições diversas: cuidar das finanças e das documentações; conhecer a legislação e normas da secretaria; garantir que a instituição esteja sempre limpa e organizada; prezar pelo clima escolar e mediar conflitos. Também fazem parte da lista acompanhar o andamento de aspectos pedagógicos; apoiar e articular o trabalho com os demais membros da gestão escolar, professores e funcionários e envolver e atender a comunidade escolar.
Para dar conta de tudo isso com competência e de forma produtiva, o diretor precisa contar com o apoio de outros profissionais. “Ninguém é bom sozinho. É preciso apostar na divisão de tarefas”, diz Virene Alves de Sousa, diretora na EMEIF Tancredo de Almeida Neves, em Canaã do Carajás (PA).
Vice-diretor(a) (diretor(a)-adjunto(a) ou auxiliar de direção)
É a pessoa mais próxima do diretor. Ocupa um papel de apoio e compartilha das mesmas demandas. A divisão pode acontecer, por exemplo, de acordo com os pontos fortes de cada um, ou seguir outro tipo de definição da rede de ensino. “Como não dá para nós duas fazermos tudo, dividimos as responsabilidades. Eu olho para o geral, para gestão de pessoas e logística, e a vice-diretora contribui com questões relacionadas a documentação, mídias, tecnologia e apresentações”, explica Virene.
Coordenador(a) pedagógico(a)
Pode ser definido como o guardião pedagógico da escola. É geralmente quem está mais próximo no dia a dia da dupla gestora (diretor e vice-diretor) e quem articula para fazer o Projeto Político Pedagógico (PPP) acontecer. O coordenador tem o papel de cuidar da formação continuada dos professores; acompanhar o dia a dia da sala de aula e a aprendizagem dos estudantes; mediar conflitos e atender alunos, professores e famílias. Em algumas escolas, pode existir mais de um coordenador (organizados em trabalho por turnos, por área do conhecimento, por etapa ou por ano).
Na escola de Virene, com 48 turmas dos Anos Iniciais do Fundamental, trabalham três coordenadoras pedagógicas. Juntas, respondem por todas as turmas. Porém, cada uma delas é responsável por fazer um acompanhamento mais próximo de determinadas salas. Enquanto uma delas cuida mais de perto dos 1º e 2º anos, outra fica especificamente com o 3º ano (dados os impactos da pandemia na alfabetização) e a terceira responde pelos 4º e 5º anos.
Orientador(a) educacional
É o membro da gestão que tem o olhar mais voltado para os estudantes. Ao lado do professor, é responsável pelo desenvolvimento integral dos alunos, apoiando na formação de cidadãos críticos. Tem um papel importante de acolhimento, fazendo uma escuta ativa de todos os membros da escola. Apesar de estar mais próximo de questões emocionais, é importante compreender que o orientador não é o psicólogo escolar, pois as abordagens dele têm o viés da aprendizagem. Algumas escolas contam com mais de um orientador educacional para atender à divisão de turmas e alunos.
PROFESSORES/AS
Podem ser definidos como o coração da escola. Existem professores concursados, temporários ou contratados, a depender do modelo de contratação. Há variações no cargo também de acordo com a carga horária docente. Alguns são dedicados exclusivamente a uma escola, enquanto outros dividem a jornada em mais de uma rede de ensino e/ou escola. Além desses aspectos de caráter burocrático, existem outros que organizam os docentes, por exemplo:
Professor(a) regente ou polivalente
É o principal de determinada turma. É responsável pelo desenvolvimento e pela aprendizagem das crianças. Planeja, realiza as atividades e acompanha as aprendizagens e o desenvolvimento no dia a dia. Geralmente, atua na Educação Infantil ou com turmas Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Professor(a) especialista
Tem licenciatura em algum componente curricular ou área do conhecimento. Atuam geralmente no Ensino Fundamental (especialmente nos Anos Finais) e no Ensino Médio. Em algumas redes, há especialistas de Educação Física e Arte que atuam com turmas da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Auxiliar (ou assistente) de desenvolvimento infantil
É o professor que apoia o regente, tanto no que diz respeito a cuidados (como higiene, sono e alimentação) quanto a questões relacionadas ao desenvolvimento dos pequenos durante a realização das atividades.
Professor(a) de apoio pedagógico (para recuperação paralela ou reforço)
É o responsável por atividades que acontecem geralmente no contraturno escolar ao longo do ano com estudantes que apresentam algum tipo de dificuldade. Em tempos de retomada presencial pós-pandemia, é possível que esse profissional seja responsável por algumas ações que compõem a recomposição de aprendizagens.
Professor(a) de Atendimento Educacional Especializado (AEE)
Trabalha em parceria com o educador de sala de aula comum para apoiar o trabalho realizado com os demais alunos. A dupla verifica quais barreiras existem para a aprendizagem dos alunos público-alvo da Educação Especial (alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades ou superdotação) e como o AEE pode colaborar para o trabalho na sala, na biblioteca, no pátio, na quadra ou em qualquer outro ambiente da escola.
Professor(a) da sala de leitura
Idealmente, é a pessoa responsável por realizar atividades focadas no incentivo à leitura, rodas de leitura e contação de histórias. É o profissional de referência para projetos literários no contraturno escolar. Infelizmente, o cargo é um pouco mais raro e pode acumular a função de bibliotecário.
FUNCIONÁRIOS
“A atuação de cada um que trabalha na escola deve estar cada vez mais em consonância com o ensino e a aprendizagem”, diz Maura. Isso também inclui os funcionários da escola que não fazem parte do corpo docente ou da gestão escolar.
Desse grande grupo, fazem parte os profissionais da secretaria escolar, área responsável por cuidar de questões financeiras e administrativas ligadas à documentação da escola, e as equipes da alimentação, da limpeza e da manutenção, que podem ser contratadas diretamente pela secretaria ou por empresas terceirizadas.
Dependendo da rede, a escola ainda conta com inspetores, porteiros e o pessoal da biblioteca. “Todos precisam trabalhar de forma alinhada. O clima escolar é para todo mundo. Participar do projeto da escola pode contribuir para um ambiente harmonioso, a diminuição de ruídos e a visibilidade ao trabalho que é realizado”, explica Maura, da Comunidade Educativa CEDAC.
Dessa forma, a gestão também deve prestar atenção em todos os funcionários da escola, sem exceção. “A escola é viva e múltipla. Ela precisa ser plural. É preciso escutar todas as pessoas que fazem parte dela”, afirma José Marcos.
Fazer a integração entre os diversos grupos de funcionários da escola foi um dos desafios encontrados por Virene quando ela assumiu a gestão da escola em Canaã do Carajás. Depois de uma sequência de longas e difíceis conversas, nas quais todos tiveram a oportunidade de compartilhar seus sentimentos, foram criados combinados. “Todos têm de saber sobre todos os movimentos da escola. Tivemos um grande avanço, porque agora trabalhamos como uma unidade, estamos envolvidos nas reuniões”, relata a diretora.
FAMÍLIAS E COMUNIDADE ESCOLAR
São grupos que têm um papel essencial para o funcionamento de qualquer da escola.
A parceria entre famílias e comunidade escolar com quem trabalha na escola deve começar já na construção do PPP da escola e se refletir no texto do documento. Depois, com todos à bordo, o desafio passa a ser a manutenção do engajamento. “Não é um relacionamento que tem a ver com cobrança, mas com articulação e estabelecimento de vínculos para que a comunidade valorize o espaço da escola, tenha orgulho dela. Para isso, os familiares precisam saber o que ela faz, como funciona e como podem participar”, diz Maura.
A relação com as famílias começa a ser construída desde o primeiro momento em que elas adentram a escola. “A acolhida é primordial para que os responsáveis entendam a função da escola. Na reunião antes do início do ano letivo, eles podem entender tudo que a escola vai oferecer e como podem contribuir”, afirma Virene. Em sua experiência, apesar dos desafios, ela relata que o diálogo próximo tem funcionado. “Temos uma troca constante, rodas de conversa, palestras e reuniões. Os familiares precisam estar dentro da escola”, finaliza.
Fonte: Nova Escola