Internacional
Sérvios entregam milhares de armas após chacinas
Mais de 9.000 armas irregulares foram entregues no âmbito de programa para desarmar população. Após massacres que deixaram 17 mortos, presidente prometeu reduzir drasticamente número de armas em circulação
Cidadãos sérvios entregaram nesta semana às autoridades mais de 9.000 armas não registradas no âmbito de um programa do governo para desarmar a população civil, lançado após duas chacinas que chocaram o país dos Bálcãs. As autoridades também receberam quase 460.000 cartuchos de munição e cerca de 884 artefatos explosivos, informou a Presidência da Sérvia.
Pelo programa de desarmamento, os cidadãos têm até 8 de junho para entregar armas não registradas. Caso contrário, correm o risco de enfrentar sentenças de prisão. Outras medidas anunciadas pelo governo incluem a proibição da concessão de novas licenças de armas por dois anos, controles mais rígidos sobre proprietários de armas e estandes de tiro e punições mais duras para a posse ilegal de armas.
Na semana passada, o presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, havia anunciado a intenção de realizar um “desarmamento quase total” do país.
“Devemos tomar uma decisão para enfrentar esse mal”, declarou Vucic em 5 de maio, poucas horas depois de uma segunda chacina, que deixou oito mortos em três aldeias nos arredores da capital, Belgrado. Neste episódio, um suspeito de 21 anos acusado de disparar a partir de um carro em movimento foi capturado após uma extensa operação que envolveu centenas de policiais.
No dia anterior, o país já havia sido palco de outro massacre, executado por um adolescente de 13 anos, que usou duas armas registradas legalmente em nome de seu pai para matar oito colegas de escola e um segurança.
Ao anunciar as medidas, o presidente sérvio disse que o objetivo será reduzir o número de armas nas mãos da população para “não mais de 30.000 a 40.000”.
Na sexta-feira (12/05), ao anunciar o número de armas entregues, Vucic disse: “Algumas pessoas dizem que não é a arma que dispara a bala, mas um homem. Mas, se esse homem não tiver uma arma, o mal em sua cabeça não pode causar nenhum dano.”
Ainda na sexta-feira, dezenas de milhares de pessoas protestaram na Sérvia exigindo melhor segurança, a renúncia de funcionários do alto escalão do governo e a proibição de conteúdo violento na TV. Foi a segunda manifestação do tipo após as duas chacinas.
Nos últimos dias, a polícia também realizou uma série de oeprações para apreender armas em residências em todo o país. Fotografias publicadas pelo Ministério do Interior mostraram uma variedade de armas de fogo confiscadas de moradores, com idades entre 15 e 84 anos, acusados de “cometer o crime de produção, posse, porte e tráfico ilegal de armas e substâncias explosivas”.
Cultura de armas
Massacres como os registrados em maio costumavam ser raros na Sérvia. O último massacre do tipo havia sido em 2013, quando um veterano de guerra matou 13 pessoas num vilarejo na região central do país.
Com cerca de 6,8 milhões de habitantes e uma cultura de armas disseminada, a Sérvia tem 765.000 armas registradas entre a população, incluindo perto de 360.000 de caça.
No entanto, esses números não incluem armas em situação irregular. Uma estimativa do grupo de estudos Small Arms Survey aponta que havia 39 armas por 100 mil habitantes na Sérvia em 2021 – o que coloca o país em terceiro lugar no ranking global, apenas atrás dos Estados Unidos e do Iêmen.
Ao anunciar o pacote de desarmamento, Vucic declarou que 1.200 policiais serão contratados nos próximos seis meses, com o objetivo de posicionar um agente em cada escola, além dos guardas de segurança já presentes.
O presidente ainda anunciou planos para que as penalidades por posse ilegal de armas de fogo sejam dobradas. As penalidades por porte de armas brancas como facas também serão aumentadas.
Ainda segundo o governo, pessoas com posse de armas serão submetidas a testes psiquiátricos e psicológicos mais frequentes, bem como testes de drogas aleatórios.
Desde o desmembramento da antiga Iugoslávia e das guerras sangrentas dos anos 1990, circula nos Bálcãs um grande número de armas de fogo.