Internacional
Viagem de ministros ao Brasil é destaque na imprensa alemã
Ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, e ministro do Trabalho, Hubertus Heil, desembarcaram no Brasil na segunda-feira. Na pauta: Amazônia, Ucrânia e principalmente o recrutamento de enfermeiros brasileiros
Tagesschau: A dupla ofensiva de charme (05/06)
No início, ainda havia muito otimismo: o Brasil está de volta ao cenário político mundial, festejou o chanceler [federal alemão] no início do ano. “Sentimos a falta de vocês”, disse [Olaf] Scholz durante sua recente ida ao Brasil. Com a vitória de Lula da Silva nas eleições presidenciais contra o populista de direita Jair Bolsonaro, a Alemanha pensou que teria um parceiro importante novamente ao seu lado. Especialmente dentro do SPD [Partido Social Democrata], Lula, de 77 anos, era visto como um “irmão de espírito”.
Mas quando Scholz encontrou Lula, esse “irmão” o tratou com indiferença. Sobre o conflito na Ucrânia, Lula discordou do chanceler, que culpa a Rússia pela guerra. O presidente brasileiro deixou claro que a Ucrânia também é culpada. [De acordo com Lula,] o Brasil não quer nenhum envolvimento na guerra — nem mesmo indiretamente. Lula não quer entrar para o clube do clima, projeto dos sonhos do chanceler, e também rejeitou a lei da cadeia produtiva alemã. Segundo ela, produtos do Brasil só podem ser importados para a Alemanha se ficar comprovado que nenhuma floresta foi derrubada na produção.
É sob tais auspícios que viajam agora para a região a ministra das Relações Exteriores [Annalena] Baerbock e o ministro do Trabalho [Hubertus] Heil, que bem sabem como algumas negociações podem ser difíceis. É a primeira viagem da ministra à América Latina, onde diversos temas demandam bastante sensibilidade. Uma das prioridades da ministra será sobretudo as relações com a China e a Rússia. Em comparação com o chanceler Scholz, ela é mais dura com os chineses — ciente de que a China também é um importante parceiro comercial.
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A ministra também quer passar uma mensagem com uma visita a Belém, na periferia amazônica. Uma viagem à floresta tropical pode mostrar mais uma vez o quanto o governo federal [alemão] apóia os planos de proteção climática do Brasil para evitar mais desmatamento da floresta tropical. […]
“Sem a América Latina, não vamos conter a crise climática“, disse ela antes da partida, ao mesmo tempo em que deixou claro: “Na floresta amazônica, uma área do tamanho de três campos de futebol vira fumaça ou é vítima de motosserras a cada minuto. Isso tem consequências para todos nós.”
Spiegel: Baerbock e Heil buscam enfermeiras no Brasil (05/06)
Em um esforço para atrair mais trabalhadores qualificados de países não europeus para o mercado de trabalho alemão, a Alemanha e o Brasil assinaram na segunda-feira [05/06] uma declaração de intenções para uma “imigração justa”. “Estou satisfeito por intensificarmos a parceria entre o Brasil e a República Federal da Alemanha no futuro”, disse o ministro federal do Trabalho, Hubertus Heil (SPD). Atualmente, ele se encontra em uma viagem de vários dias pela América do Sul com a chanceler federal Annalena Baerbock (Verdes).
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O Brasil é o único país da região com o qual a Alemanha mantém uma parceria estratégica desde 2008. O maior país da América do Sul é também o parceiro comercial mais importante da Alemanha. Segundo Heil,trabalham atualmente na Alemanha cerca de 200 enfermeiras brasileiras.
Na segunda-feira, Baerbock e Heil deram início a uma viagem de vários dias pela América do Sul começando pelo Brasil. Na sequência, Baerbock deve seguir para a Colômbia e Panamá. A viagem também deve servir para recrutar especialistas para o mercado de trabalho alemão — no Brasil, trata-se sobretudo de pessoal de enfermagem.
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Baerbock também visualiza outras áreas de cooperação. O novo governo do presidente Lula quer se fazer ouvir a forte voz do Brasil na resolução dos desafios globais mais prementes. “Estamos unidos pela firme convicção de que só pode haver prosperidade se houver liberdade e paz — mesmo que tenhamos perspectivas diferentes, como foi o caso recentemente com a guerra de agressão russa contra a Ucrânia”, disse a ministra.
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Com a viagem, Baerbock também espera avançar nas discussões sobre o acordo de livre comércio entre os países do Mercosul e a UE. Segundo a ministra, isso representaria um enorme avanço.
FAZ: O que Heil e Baerbock não veem no Brasil (05/06)
A prestação de serviços na área da saúde na Alemanha beira cada vez mais o limite devido à falta de pessoal em hospitais, casas de repouso e serviços em geral. Lá já estão 1,7 milhões de empregados, o que corresponde a 5% de todos os trabalhadores sujeitos a contribuições para a segurança social. No entanto, eles são muito poucos para atender aos crescentes requisitos legais de serviços e padrões de qualidade para mais e mais pessoas que precisam de cuidados — o que, mais cedo ou mais tarde, ameaça levar tais requisitos e padrões ad absurdum.
Tem problema se a ministra das Relações Exteriores [Annalena] Baerbock e o ministro do Trabalho [Hubertus] Heil recrutam enfermeiras no Brasil? Provavelmente não. Segundo a Fundação de Proteção ao Paciente, 34 profissionais de enfermagem do Brasil vieram para cá no ano passado. Em breve, talvez haja mais algumas dezenas. E talvez a grande atenção dada à viagem ministerial ajude a tornar a Alemanha mais conhecida como um destino convidativo para trabalhadores qualificados.
No entanto, caso essas questões fossem classificadas por urgência, os ministros fariam melhor viajando para outros destinos, talvez incluindo um escritório municipal de imigração. A equipe deles poderia relatar, por exemplo, quanta margem de manobra ainda lhes resta atualmente para se apresentar como um prestador de serviços convidativo para trabalhadores qualificados estrangeiros em meio aosprocedimentos de asilo e migração de refugiados; e quais problemas do dia a dia das repartições públicas eles acreditam que precisam ser resolvidos para melhorar.
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Isso sem contar uma falha nos planos da nova lei sobre a imigração de trabalhadores qualificados: o SPD e os Verdes rejeitam terminantemente permitir que agências de trabalho temporário recrutem trabalhadores qualificados estrangeiros. Se o governo realmente quiser atrair mais deles, o melhor é deixar essa tarefa na mão dos profissionais. Assim seria então possível se concentrar inteiramente nos problemas que nenhum provedor de serviços privado é capaz de resolver.