Saúde
Partículas mensageiras têm participação ativa na disseminação do câncer
Ioannis Isaioglou ajudou a explicar um dos motores da metástase do câncer: os exossomos.
Papel ativo dos exossomos
Pequenos pacotes de carga molecular lançados por células cancerosas semeiam as bases para metástases em locais distantes do corpo – a maior parte das mortes por câncer vem das metástases, e não do tumor original.
Agora, cientistas descobriram que partículas mensageiras liberadas por células de leucemia usam uma modificação química em sua superfície para navegar por uma rota para locais distantes, onde liberam uma carga molecular que serve como uma espécie de “semente” para a disseminação do câncer no sangue.
Além de ajudar a explicar um dos motores da metástase do câncer, os resultados destacam uma potencial estratégia terapêutica para combater a progressão da leucemia.
Os pesquisadores descobriram que, assim como as próprias células de leucemia, pequenos pacotes de carga molecular que as células soltam de sua superfície dependem de uma molécula de adesão chamada E-selectina para se ligar e viajar para os tecidos por todo o corpo.
Esses pacotes, conhecidos como exossomos, contêm material genético e proteínas sinalizadoras que podem promover o crescimento e a sobrevivência do câncer por meio de modificações mediadoras nas células receptoras. Mas eles só podem fazer isso quando as proteínas de superfície encontradas nos exossomos receberam a adição de uma molécula de açúcar complexa chamada sialil Lewis X.
Com esse acréscimo, “os exossomos leucêmicos atuam como uma espécie de roteiro para alterar as fundações de forma a tornar o ambiente mais favorável para futuras metástases,” explicou Ioannis Isaioglou, da Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (Arábia Saudita).
Mas, sem a molécula de açúcar, Isaioglou e seus colegas descobriram, os exossomos não conseguem entregar as mensagens necessárias para promover a expressão do gene que alimenta o câncer nas células receptoras – e uma droga de anticorpo que bloqueia a atividade da E-selectina teve o mesmo efeito. Em camundongos, essa terapia medicamentosa ajudou a impedir que as células leucêmicas se enraizassem no baço e na coluna vertebral, locais comuns de disseminação leucêmica.
“Isso aponta para a importância de focar nos exossomos como potencial forma de reduzir a metástase,” disse a professora Jasmeen Merzaban, coordenadora da pesquisa.
Os cientistas sempre pensaram nos exossomos como agentes passivos de transporte molecular.
Medicamento já em teste
Outra ótima notícia é que já existe um candidato a medicamento, chamado Uproleselan, uma pequena molécula inibidora da E-selectina, em estágio avançado de testes clínicos para pacientes com leucemia avançada.
Os primeiros dados são promissores, e os resultados laboratoriais deste novo estudo podem ajudar a explicar por que a droga parece estar ajudando os pacientes a viver mais.
O estudo também documentou uma característica flexível dos exossomos: Embora por muito tempo fossem retratados como veículos de entrega passivos, os exossomos podem na verdade mudar o conteúdo que distribuem, dependendo de quais moléculas se ligam nas células-alvo. “Esta é a primeira vez que a pesquisa mostra que os exossomos têm um papel tão dinâmico no transporte de comunicações do câncer para novos locais,” disse Merzaban.
Essa função sofisticada agora merece mais atenção, acrescentou a pesquisadora, dados os papéis críticos que os exossomos desempenham na progressão do câncer.