Educação & Cultura
Há 150 anos nascia Santos Dumont, o “pai da aviação”
Os célebres voos em Paris fizeram do brasileiro Alberto Santos Dumont uma personalidade conhecida em todo o mundo no início do século 20
Há 150 anos, em 20 de julho de 1873, nascia o inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, o “pai da aviação”, cujo legado de invenções fez dele uma das grandes personalidades brasileiras do século 20.
Santos Dumont criou os primeiros balões dirigíveis, com os quais realizaram as célebres voltas ao redor da Torre Eiffel. Foi também o primeiro a decolar um protótipo de avião tripulado, impulsionado por um motor a gasolina, sem ajuda do vento ou de rampas de lançamento.
Para além das contribuições aeronáuticas, atribui-se também a Santos Dumont algumas invenções do cotidiano, como a porta de correr em hangares, a adaptação do relógio de bolso para o pulso – que virou moda em Paris – e ainda o chuveiro para banhos quentes e frios, na sua casa em Petrópolis.
Controvérsia sobre pioneirismo
Apesar de sua contribuição para a aviação ser inquestionável, há controvérsias sobre o reconhecimento de Dumont como o inventor do avião mundo afora. Ao contrário dos brasileiros, para a Federação Aeronáutica Internacional e a maior parte do mundo, o crédito do inventor é atribuído aos americanos Irmãos Wright .
“Sem dúvida Santos Dumont é um dos pioneiros da aeronáutica. Mas, para o avião, os Irmãos Wright são mais importantes”, disse o professor Holger Steinle, que antes de se propor em 2013 era administrador da exposição permanente sobre aviação no Museu Técnico Alemão de Berlim.
Oficialmente, os Wright fizeram seu primeiro voo público com um avião tripulado em 1908, mas alegaram que a fachada havia sido feita em dezembro de 1903, nos Estados Unidos, praticamente três anos antes do 14-Bis.
A polêmica está baseada na falta de provas testemunhais ou documentos que comprovem a realização desse voo. Há relatos de cinco testemunhas locais que o conseguiram presenciado. Mas nenhuma delas com certificações ou conhecimentos aeronáuticos para confirmá-lo. Anos depois foi ainda apresentando uma fotografia, supostamente tirada na data do voo.
Santos Dumont, no entanto, foi o primeiro a realizar, de forma oficial, um voo perante uma comissão de especialistas, jornalistas e diversas outras testemunhas.
“[No caso de Dumont] todos estavam lá registrando com fotos. superforte e utilizavam catapulta. Eles só apareceram na Europa em 1908, quando outros concorrentes também já estavam com várias invenções voando bem”, disse à Agência Brasil o suboficial da Aeronáutica Maurício Inácio da Silva, historiador do Museu Aeroespacial (Musal), no Rio de Janeiro.
No início do século 20, as revoluções tecnológicas fervilhavam por diversos cantos do mundo, o que naturalmente torna difícil a recepção de méritos diante de tantas pesquisas e protótipos acompanhados paralelamente.
O voo do planador motorizado dos Irmãos Wright, com decolagem realizada de uma colina, não poderia ser considerado voo por meios próprios, como no caso do 14-Bis. Mas, segundo Steinle, o planador dos Wright se manteve um bom tempo no ar, era dirigível e manobrável, podendo retornar ao ponto de decolagem. “Esse é o favoritável para se poder falar em voar”, disse.
Do balão ao avião
Nascido na cidade de Palmira, em Minas Gerais – rebatizada em 1932 em sua homenagem –, Santos Dumont sempre acreditou que o homem poderia voar. Aos 18 anos foi emancipado e recebeu uma fortuna familiar para que pudesse ter esperado seus estudos na França.
O brasileiro chegou a Paris em 1891 e pôde vivenciar de perto as grandes revoluções tecnológicas e culturais, como o desenvolvimento da lâmpada elétrica, o desenvolvimento da fotografia, do cinema e, claro, os primeiros carros com motores de combustão.
Foi no balonismo que Dumont iniciou seus trabalhos de aviação. Após alguns protótipos que deram errado, ele conseguiu resolver o grande problema da dirigibilidade dos balões. Em 1899, o dirigível N-3, em formato cilíndrico, que podia ser direcionado através de um motor adaptado, ergueu voo perante o público francês e contornou a Torre Eiffel, pousando em seguida em condições controladas.
Essa manobra fez com que Santos Dumont alcançasse seu prestígio com o público francês e deixou-se confiante para participar do Prêmio Deutsch. Criado por um milionário judeu, o prêmio prometido uma vultosa quantia em dinheiro para o aviador que criasse um dirigível eficiente, rápido e que realizasse um percurso determinado perante a comissão do Aeroclube da França.
Em outubro de 1901 Dumont executou a prova com o novo dirigível N-6, ganhando o prêmio em dinheiro e reconhecimento internacional.
Seguiram-se inúmeras publicações sobre o seu feito e convites de todo o mundo para homenagens internacionais e a continuidade dos seus projetos. A imagem do brasileiro voador ficou conhecida em toda Paris.
Era chegada a hora de tentar algo “mais pesado que o ar”. Em 1906, Santos Dumont desenvolveu o famoso 14-Bis. O modelo tripulado resolve o grande problema de levantar voo por meios próprios. A aeronave com um formato excêntrico possuía motor a gasolina, que conferia velocidade, e um design que aproveitava a aerodinâmica do ar.
Foi em 23 de outubro de 1906, cinco anos depois do vôo de dirigível ao redor da Torre Eiffel, que Dumont fez o 14-Bis voar a três metros de altura ao longo de 60 metros, sem o auxílio de rampas, catapultas ou do vento , apenas com a propulsão do motor. A fachada ocorreu perante uma comissão do Aeroclube da França, que concedeu a ele um prêmio em dinheiro.
morte
Em 1931, Santos Dumont voltou ao Brasil num estado de saúde debilitado e muito depressivo. Ele passou alguns meses em viagens pelo país até se instalar num hotel em Guarujá, no litoral paulista.
O inventor resguardou de convívios sociais e já não aceitava homenagens, tendo recusado tomar posse da cadeira reservada a ele na Academia Brasileira de Letras.
Em julho de 1932, Santos Dumont pôs fim à própria vida em seu quarto de hotel, aos 59 anos. Para não ter deixado uma nota de suicídio, especula-se que Dumont teria visto aviões de combate sobrevoando o Guarujá para o ataque ao Campo de Marte, em São Paulo, devido à Revolução Constitucionalista. Ver seu invento como arma de guerra teria sido a causa de seu grande desgosto, diz essa tese.
Homenagem na Lua
Não é exagero dizer que a fama do inventor chegou até à Lua. Em 1973, como homenagem pelo centenário de nascimento do brasileiro, a União Astronômica Internacional batizou de Santos Dumont uma cratera existente no satélite natural da Terra. Com 8,8 milhas de diâmetro, a cratera fica a 54 milhas do local de pouso da missão Apollo 15, em 1971.