Educação & Cultura
Brincar lá fora: a potência das atividades ao ar livre
O contato com a natureza oferece oportunidades de aprendizagens que podem contemplar o pleno desenvolvimento das crianças
Olá, professores e professoras! Estou iniciando essa escrita de dentro da minha sala, pensando no final de semana e as atividades a serem realizadas com minha família ao ar livre. Enquanto profissional da infância, compreendo a importância desses momentos para a criança e busco proporcionar ao meu filho situações de contato com a natureza, com brincadeiras em parques abertos, visita a jardins botânicos, passeios em áreas de sítio e, no pódio das memórias afetivas, estão os dias na praia.
Mas, olhando para o meu grupo de crianças, consigo identificar que não é uma realidade para todos e nem sempre o motivo principal são questões econômicas. A verdade é que nosso estilo de vida nos afastou da natureza e fico pensando em que momento do caminho nos distanciamos de nossa essência natural.
Vemos no dia a dia, os bebês e crianças pequenas com receio de caminhar sem o calçado, de pisar na terra, na areia, na grama ou que demonstram receio do contato das mãos com a argila e com o barro.
A partir de tais observações, cada vez mais, as instituições de Educação Infantil têm se preocupado com os espaços externos. Brincar lá fora deixou de ser um momento meramente recreativo e passou a ser potência para oportunizar aprendizagens que contemplam condições para o pleno desenvolvimento, tornando-se a linguagem que alcança o mais genuíno que existe nos pequenos.
Porém, o brincar lá fora requer condições prévias que, diante desse cimentado estilo de vida, nem sempre a família está preparada para apoiar pois, se chove, existe o receio de se molhar; se tem sol, pode se queimar; se está frio, pode resfriar ou, se tem umidade, pode se sujar. Desse modo, desde cedo, criam-se os primeiros afastamentos do mundo natural.
Natureza e as práticas pedagógicas
Então, é fundamental que se construa, dentre as práticas pedagógicas da escola, uma cultura de interação com a natureza e se reconheça a família como parte que precisa ser envolvida no processo. Não significa apenas uma escolha por fazer, mas, sim, envolve uma concepção relacional para nos resgatar e nos aproximar das vivências com a natureza.
Visitando aqui, uma página da Associação Nova Escola, encontrei essa sequência Conhecendo o Bairro, que me fez recordar a história da relação da minha escola com a natureza. Nosso prédio foi construído em uma área de um conjunto habitacional e, após anos, recebeu ampliação estrutural que trouxe limitações para as áreas externas. Nosso espaço verde se reduzia a uma pequena horta em pneus e canteiros verticalizados.
No entanto, a compreensão de que as crianças precisavam de mais espaços fez com que passássemos a percorrer locais da vizinhança como as hortas e jardins, cultivados com muito zelo pelos moradores antigos. Outra alternativa encontrada foi a realização de vivências no espaço de recreação da associação de moradores que era nossa vizinha.
Nesse local, poucas manutenções eram realizadas, o que tornava o espaço vulnerável para o uso das crianças. Dessa forma, foi sugerido, considerando que, utilizávamos tanto esse espaço, que o terreno fosse dividido e pudéssemos manter parte dele para nossas vivências. Hoje, esse lugar recebe nossa horta, mudas de árvores frutíferas que estão crescendo no pomar, temos um morro com gramado, espaços de areia e com barro, além de um espaço do fogo. Enfim, nossas mãos estão construindo o tão sonhado lugar de vivências ao ar livre.
Planeje atividades ao ar livre
Compartilho essa experiência para motivar você, colega de profissão, a buscar alternativas para oportunizar experiências de brincadeiras e interações ao ar livre e de contato com a natureza a partir da realidade da sua instituição. Sendo dentro dos muros da escola ou na comunidade, o fundamental é identificar um ambiente favorável – e também seguro – de exploração para as crianças dos diferentes grupos etários.
No seu planejamento, é importante identificar alguns pontos. Sua área externa tem árvores? Tem declínio de terreno? Quais as possibilidades desse espaço? Entre elas podem estar: subir na árvore, brincar a sua sombra, colher os seus frutos, apreciar sua textura, pesquisar as diferenças entre folhas e troncos, acompanhar as mudanças de suas estruturas de acordo com o período e estação do ano.
O desenho de observação pode ser uma proposta muito potente, registrando essas transformações, com aprendizagem que desenvolve a atenção, concentração, memória, desperta a sensibilidade estética para a beleza efêmera das coisas que são influenciadas pelo movimento natural da vida.
Uma horta ou canteiro na escola tem como possibilidade, o cuidado e acompanhamento do desenvolvimento das plantas, pesquisas envolvendo a relevância das suas cores, o tempo e condições de desenvolvimento, conecta também com o que é motivo de escolha das crianças no momento de se alimentarem.
As brincadeiras com pedras, galhos, terra, areia, madeira e outros elementos da natureza estimulam habilidades manuais, o desenvolvimento da imaginação e resolução de problemas por meio de observações de texturas, tamanhos, formas regulares e irregulares.
Poderia mencionar muitas outras situações de benefícios, aprendizagem e desenvolvimento das crianças no contato com a natureza – tanto que isso poderá tornar-se pauta para uma outra conversa. Mas de tudo, espero ter, pelo menos, motivado seu olhar para observar melhor o seu entorno e proporcionar às crianças reconhecerem-se parte da natureza.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestra em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.
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