Internacional
Eleição Sérvia amplia o poder do governo de direita
Projeções de vitória folgada ao partido do presidente Aleksandar Vucic, homem forte da política do país há praticamente uma década. A oposição acusa fraude na capital
O partido do presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, ganhou com folga as eleições parlamentares realizadas neste domingo (17/12) no país, segundo projeções.
Após uma contagem de 90% das urnas nesta segunda-feira, os institutos de pesquisa Cesid e Ipsos davam vitória por ampla margem à sigla populista de direita Partido Progressista Sérvio (SNS), com 46% dos votos.
Com isso, a legenda obteria 128 de 250 cadeiras, oito a mais em relação às 120 atuais e conquistando a maioria parlamentar.
A aliança de oposição liberal, Sérvia contra a violência (SPN), teria recebido 24% dos votos, conforme os institutos de pesquisa, conquistando 65 cadeiras e se tornando a segunda força do Parlamento.
Houve também acusações de fraudes eleitorais. A oposição afirmou ter manipulação de votos na capital, Belgrado, onde eles tinham esperança de conquistar a prefeitura. Na cidade, as projeções indicam ter um empate entre a oposição e o partido governista.
A oposição afirma que 40 mil documentos de identificação foram emitidos para pessoas que não residem em Belgrado. A mídia local relatou que ônibus transportaram pessoas da parte Sérvia da Bósnia-Herzegovina até um local de votação na capital Sérvia.
Sexta vitória consecutiva
Esta é a sexta vitória consecutiva nas eleições do SNS de Aleksandar Vucic, homem forte da política do país há praticamente uma década.
Embora ele não tenha participado oficialmente como candidato, a votação foi considerada um referendo sobre seu governo.
As principais forças da oposição que se coligaram exigiam desde maio a convocação de legislativas antecipadas na sequência de dois incidentes graves armados em menos de 24 horas, que provocaram 19 mortos, incluindo 10 numa escola de Belgrado.
Os dez partidos oposicionistas, que se posicionaram da esquerda à centro-direita, ganharam o nome Sérvia contra a violência pois esse era o lema das manifestações semanais organizadas em Belgrado e outras cidades após os dois massacres, para denunciar a “cultura da violência” que dizem ser promovidos pelas autoridades.
Entre UE e Rússia
Proveniente de uma corrente ultranacionalista, Vucic se apresenta como um líder empenhado em garantir investimentos e criar empregos, e esteve muito ativo durante toda a campanha eleitoral, com inúmeras posições pelo país.
No seu longo mandato, ele vem se equilibrando entre a União Europeia, que mantém conversas com Belgrado sobre adesão ao bloco, e a Rússia, de onde provém a quase totalidade do gás consumido na Sérvia, a China, com os seus grandes investimentos, e os Emirados Árabes Unidos, que financiam parte dos grandes projetos urbanísticos em Belgrado.
Para seus apoiadores, os anos de Vucic significam o regresso da ordem e uma atração inédita de investimento direto estrangeiro. Ele transmite a mensagem de uma Sérvia com “autônoma, independente e livre” – Belgrado não se juntou às avaliações ocidentais contra a Rússia – e vem sendo intransigente na questão do Kosovo, com a recusa em não considerar a independência da antiga província do sul autoproclamada em 2008.
Oposição aponta populismo e autoritarismo
Já seus críticos o acusam de populismo e autoritarismo, e de controlar as instituições públicas e a maior parte dos meios de comunicação, num contexto em que as vozes dissonantes são marginalizadas e consideradas como “degeneradas” ou de “traidores”.
Os recebimentos de um regresso da instabilidade regional foram agravados em setembro, quando um grupo armado liderado por Milan Radoicic, um dos dirigentes da Lista Sérvia, a principal formação dos serviços do Kosovo e próximo de Belgrado, especificando um ataque na localidade de Banjska, norte do Kosovo, com a morte de um policial albanês kosovar e três tiros. Um novo desafio para a União Europeia, que há mais de dez anos assume uma mediação entre Belgrado e Pristina, sem sucessos visíveis.
As eleições de domingo foram acompanhadas por 75 observadores da Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), a 12ª presença de uma delegação eleitoral deste organismo desde 1997.