Internacional
O sucesso da Finlândia na gestão da pandemia
País nórdico exibe um dos melhores resultados mundiais na contenção de contágios. Confiança nas autoridades e agilidade na implementação de lockdown são ingredientes da receita
A Finlândia está entre os países do mundo que melhor tem conseguido controlar a pandemia de coronavírus. De acordo com informações da Universidade Johns Hopkins, cerca de 21.216 pessoas foram infectadas pelo coronavírus no país desde o início do ano e 375 pessoas morreram em decorrência da infecção. Em nenhuma outra nação europeia as taxas são tão baixas.
Para efeito de comparação, a Dinamarca, que, com quase seis milhões de cidadãos, tem um número semelhante de habitantes, tem cerca de 65 mil casos, mais do triplo de infectados. Na Eslováquia, também comparável à Finlândia em termos de população, cerca de 88.600 pessoas contraíram o vírus. A Suécia tem o dobro de habitantes, mas com quase 192 mil pessoas infectadas, quase 10 vezes mais casos. Qual a receita da gestão finlandesa de pandemia? Abaixo, um olhar sobre a estratégia e a mentalidade finlandesas.
1. Reação rápida
Quando o número de infectados disparou em todo o mundo no primeiro semestre do ano, o governo finlandês também reagiu rapidamente – e impôs um lockdown de dois meses. As viagens de ida e volta para a capital Helsinque e arredores foram proibidas. Escolas e outras instituições também fecharam e, posteriormente, também os restaurantes. Isso aconteceu em um momento relativamente precoce; o número de infecções no país nórdico ainda era controlável. “A Finlândia determinou restrições na vida pública de forma relativamente rápida e extensa. Em comparação com outros países nórdicos, como a Noruega e a Dinamarca, com cerca de uma ou duas semanas de antecedência, para não mencionar a Suécia”, diz Mika Salminen, diretor do Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar (THL, na sigla original), em entrevista à emissora alemã Deutschlandfunk Kultur. Segundo o especialista, esse bloqueio foi importante para retardar a disseminação do coronavírus.
2. Aplicativo
A Finlândia dispõe de um sistema de rastreamento rápido de pessoas que tiveram contato com aqueles com testaram positivo. Como na Alemanha, o trabalho das autoridades é apoiado por um aplicativo para smartphones. Chamado Corona Flash, ele foi baixado por quase 50% dos finlandeses. Já na Alemanha, o aplicativo Corona-Warn-App foi instalado por apenas cerca de 22 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 25% da população. Algumas pessoas possuem um smartphone velho demais para suportar o aplicativo, mas muitos alemães também não usam o recurso por temor de que seus dados pessoais sejam usados indevidamente.
3. Confiança nas autoridades
Diferentemente do que ocorre na Alemanha, onde cada vez mais pessoas questionam a estratégia do governo federal para lidar com a pandemia ou simplesmente não levam a sério o perigo representado pelo coronavírus, na Finlândia a confiança no governo é maior. Isso não é evidente apenas no maior uso do aplicativo de rastreamento finlandês. Mesmo durante o lockdown no primeiro semestre, quase não houve resistência. Uma pesquisa do Parlamento Europeu na época indicou que 73% dos finlandeses afirmaram conseguir conviver bem com as medidas de restrição. “Tentamos cumprir as diretrizes do governo. Acho que isso tem a ver com nosso estado de bem-estar social”, avalia a política verde finlandesa Rosa Meriläinen, em entrevista à rádio alemã Deutschlandfunk Kultur.
A situação econômica também pode ter contribuído para o bom clima. Embora a produção econômica tenha caído 14% em média na UE no segundo trimestre de 2020, ela caiu apenas 6,4% na Finlândia.
4. Tecnologia
A mudança para home office e educação em casa também parece ter sido mais fácil em um país que é altamente digitalizado. Os estudantes finlandeses têm mais facilidade em obter um laptop. Já na Alemanha, de acordo com um estudo da Society for Digital Education, a média é de 68 alunos para cada laptop.
5. Sem ânsia por festa
De acordo com uma pesquisa do Parlamento Europeu, 23% dos finlandeses disseram que suas vidas até melhoraram depois do lockdown. “Não somos tão sociáveis e gostamos de ficar sozinhos”, explica a psicóloga social Nelli Hankonen, da Universidade de Helsinque, em entrevista à agência de notícias AFP.
O espaço pessoal – aquele que as pessoas consideram uma distância confortável para estar umas das outras – também pode desempenhar um papel. “Pode ser que o espaço pessoal finlandês seja ligeiramente maior do que em outros países europeus”, afirma Mika Salminen, diretor da autoridade de saúde finlandesa THL. “Gostamos de manter as pessoas a um metro de distância de nós, senão, nos sentimos desconfortáveis.”