Internacional
Ajuda humanitária que chega a Gaza é “pouca e tardia”, alerta OMS
Em meio aos combates incessantes no enclave, a Organização Mundial da Saúde apela por mais acesso para as equipes médicas; movimentação de suprimentos foi comprometida e evacuação de pessoal pode deixar mais hospitais inoperantes; profissionais da agência relatam desespero da população por comida
A assistência enviada para ajudar os civis afetados pelo conflito em Gaza é “pouquíssima” e chega “muito tarde”, especialmente no norte.
A afirmação foi feita nesta terça-feira pelo representante da Organização Mundial da Saúde para o Território Palestino Ocupado, Richard Peeperkorn.
Desespero por comida
Ele afirmou que mesmo que não haja um cessar-fogo, é esperado que os corredores humanitários funcionem de uma forma muito mais estável do que o que acontece atualmente.
O coordenador das Equipes Médicas de Emergência da OMS, Sean Casey, destacou que a assistência humanitária, e particularmente a alimentar, é extremamente necessária em toda a Faixa de Gaza.
Falando de Rafah, no sul do enclave, ele disse que “a situação alimentar no norte é absolutamente horrível, quase não há alimentos disponíveis”.
Conforme relatado por Casey, as pessoas suplicam às equipes da OMS por comida. Embora haja suporte para suprimentos médicos, o especialista observa um constante apelo para que as equipes providenciem alimentos durante suas missões.
Um profissional de saúde cuida de crianças feridas em Gaza
Movimentação comprometida
Expressando preocupação com a intensificação da violência no sul, Peeperkorn, explicou que a movimentação de pessoal e suprimentos “com segurança e rapidez” foi comprometida.
Ele ressaltou que outra necessidade urgente, além de levar mais suprimentos essenciais para Gaza, é facilitar circulação de ajuda humanitária e de profissionais do setor dentro do enclave, para que seja possível “chegar às pessoas onde quer que estejam”.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 23.084 pessoas foram mortas no enclave, das quais 70% são mulheres e crianças. Quase 59 mil pessoas ficaram feridas, o que representa aproximadamente 2,7% da população de Gaza.
ONU ‘completamente pronta’ para agir
O representante da OMS enfatizou que a ONU e os seus parceiros seguem “completamente prontos” para prestar assistência aos habitantes de Gaza, que sofrem com bombardeios massivos por parte dos militares israelenses, em resposta aos ataques terroristas liderados pelo Hamas no sul de Israel em 7 de outubro.
Porém, os combates e as ordens de evacuação nas áreas centrais de Gaza e ao sul, em Khan Younis, afetaram o acesso a hospitais para pacientes e ambulâncias.
Peeperkorn adicionou ainda que se tornou “incrivelmente complexo” para a OMS chegar a instalações de saúde com suprimentos médicos e combustível.
“Receita para o desastre”
Segundo ele, “o fluxo restrito de suprimentos e a evacuação do pessoal médico de muitos hospitais devido a temores de segurança são uma receita para o desastre e tornarão mais hospitais inoperantes, como testemunhado no norte”.
Para o especialista, “a comunidade internacional não deve permitir que isto aconteça”.
Uma indicação da “redução do espaço” para o trabalho humanitário é o fato de que há duas semanas a OMS não consegue ter acesso ao norte de Gaza.
Um total de seis missões humanitárias planejadas pela agência tiveram que ser canceladas desde 26 de dezembro.
“Nossa equipe está pronta para atuar, mas não conseguimos receber as permissões necessárias para prosseguir com segurança”, explicou Peeperkorn.