Internacional
Netanyahu promete “vitória” no 100° dia da guerra em Gaza
Sob crescente pressão internacional pela morte de civis, premiê de Israel diz que “ninguém nos impedirá” de destruir o Hamas. ONU afirma que conflito “mancha humanidade”
Ataques israelenses continuaram a atingir a Faixa de Gaza neste domingo (14/01), o 100º dia do conflito desencadeado pelo ataque do Hamas, que causou um número crescente de mortes de civis e devastou o território palestino sitiado.
A guerra criou uma terrível crise humanitária para os 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza governada pelo Hamas, alertam as Nações Unidas e grupos de ajuda humanitária, e reduziu a escombros grande parte do enclave.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, cujo governo tem enfrentado crescente pressão internacional devido às mortes de civis em Gaza, afirmou que “ninguém nos impedirá” de destruir o Hamas.
O escritório de mídia do governo do Hamas em Gaza disse neste domingo que “mais de 100 pessoas foram martirizadas nos ataques de ontem à noite até as 6h da manhã em todas as áreas da Faixa de Gaza”.
Temor de ampliação do conflito
Os temores de que o conflito possa se espalhar por toda a região aumentaram quando no sábado novos ataques atingiram os huthis apoiados pelo Irã no Iêmen, depois que os rebeldes alertaram que realizarão mais ofensivas contra o que eles consideram ser embarcações ligadas a Israel no Mar Vermelho.
As forças americanas e britânicas atingiram vários alvos no Iêmen para impedir os ataques com drones e mísseis lançados na rota marítima pelos huthis, que dizem estar agindo em solidariedade a Gaza.
Na fronteira entre Israel e o Líbano, que tem sido palco de trocas de tiros regulares com o Hisbolá, aliado do Hamas, o Exército israelense afirmou ter matado quatro homens armados que haviam cruzado a fronteira e “disparado contra as forças”.
As tropas que patrulhavam a área de Har Dov – termo israelense para o disputado distrito de Shebaa Farms, próximo às Colinas de Golã anexadas por Israel – “entraram em confronto e responderam com fogo real”, disse um comunicado, acrescentando que “quatro terroristas foram mortos”.
A guerra começou quando o Hamas lançou um ataque sem precedentes em 7 de outubro, que resultou em cerca de 1.140 mortes em Israel, a maioria civis, de acordo com contagem da agência de notícias AFP baseada em números oficiais.
O Hamas, considerado um grupo “terrorista” pelos Estados Unidos e pela União Europeia, também apreendeu cerca de 250 reféns, 132 dos quais, segundo Israel, permanecem em Gaza, incluindo pelo menos 25 que se acredita terem sido mortos.
Israel lançou uma campanha militar implacável que matou pelo menos 23.843 pessoas no território palestino, a maioria mulheres e crianças, e feriu cerca de 60 mil, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
“Ninguém nos deterá”
Depois que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia ouviu argumentos que acusavam Israel de violar a Convenção de Genocídio da ONU, Netanyahu insistiu que Israel “continuará até a vitória´completa”.
“Ninguém nos deterá – nem Haia, nem o Eixo do Mal e ninguém mais”, disse ele em uma coletiva de imprensa televisionada no sábado, referindo-se aos grupos do “eixo de resistência” aliados ao Irã no Líbano, Síria, Iraque e Iêmen.
A denúncia sul-africana na CIJ, o premiê israelense classificou de “ponto baixo moral na história das nações”, afirmando que o Estado judeu emergiu das cinzas do Holocausto e teve que se defender contra “aqueles que vieram para perpetrar outro Holocausto contra os judeus”.
O primeiro-ministro alegou que edições do livro Minha Luta, de Adolf Hitler, foram encontradas em túneis do Hamas na Faixa de Gaza. Isso prova, segundo ele, que os membros da organização terrorista Palestina são os “novos nazistas”. Ele disse também ser seu dever defender Israel contra essa ameaça – sem concessões e frisou não haver outra opção. “Faremos isso juntos até o fim”, disse Netanyahu.
Os militares israelenses disseram neste domingo que suas forças atingiram bases de lançamento de foguetes no norte do território e atingiram alvos em toda a Faixa de Gaza, incluindo a principal cidade do sul, Khan Yunis.
A ala militar do Hamas, as Brigadas Ezzedine al-Qassam, relatou “confrontos com as forças sionistas (israelenses)” em Khan Yunis.
Milhares marcham em Tel Aviv por volta de reféns
Em Israel, Netanyahu tem enfrentado crescentes apelos para resgatar os reféns que estão detidos em Gaza há 100 dias, com milhares de pessoas se reunindo em Tel Aviv no sábado para exigir ação do governo.
Separadamente, uma pequena manifestação contra a guerra atraiu cerca de 100 pessoas, com manifestantes brandindo cartazes com os dizeres “Vingança não é vitória” e “Não à ocupação”.
Israel, que após anos de bloqueio de Gaza impôs um cerco quando os combates começaram, disse que suas forças terrestres ganharam controle sobre o norte do território.
Enquanto a guerra se arrasta, o chefe do Exército Herzi Halevi disse que “estamos lutando pelo nosso direito de viver aqui em segurança”.
Halevi afirmou que “o aumento da pressão militar” sobre o Hamas é a única maneira de garantir a libertação dos reféns e descartou “tentativas de extorsão para um cessar-fogo que aparentemente não trará resultados reais”.
Palestinos rezam por parentes mortos
No hospital Al-Najjar, em Rafah, os enlutados rezavam perto dos corpos dos parentes mortos.
Um homem, Bassem Araf, segurava a foto de uma criança e disse: “Ela morreu com fome… Essa é a resistência que eles estão alvejando em Gaza, apenas crianças”.
A população da Faixa de Gaza sofre com a escassez aguda de alimentos, água, medicamentos e combustível, e o sistema de saúde está em colapso.
“A morte em massa, a destruição, o deslocamento, a fome, a perda e o luto dos últimos 100 dias estão manchando nossa humanidade compartilhada”, disse Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), durante uma visita à Gaza no sábado.
Ele alertou que uma geração inteira de crianças em Gaza estão “traumatizadas”, que as doenças estão se espalhando e que o relógio “corre rapidamente em direção à fome”.
As chuvas de inverno agravaram as terríveis condições de 1,9 milhão de palestinos deslocados pela violência, de acordo com estimativas da ONU.