AGRICULTURA & PECUÁRIA
Brasil depende cada vez mais da China nas exportações de grãos
Em 2023, país asiático importou 75% da soja brasileira vendida ao exterior, acima dos 69% de um ano antes; compras de milho responderam por 31% do total
O Brasil depende cada vez mais da China para exportar a soja que produz. E o gigante asiático, ao menos em 2023, tornou-se também o principal destino do milho brasileiro no mercado internacional. Esse cenário parece ter poucas perspectivas de mudança no curto prazo, e por isso é fonte de preocupação de especialistas.
Em 2023, a China adquiriu 75% (75,6 milhões de toneladas) dás pouco mais de 101 milhões de toneladas de soja exportadas pelo Brasil, segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Um ano antes, o país havia comprado 69% da soja brasileira enviada ao exterior.
“Ao olhar os números de maneira fria, eles assustam. O Brasil pode realmente diversificar os parceiros comerciais na soja, mas não há como deixar de exportar à China. Se algum país quer ser um grande player na soja, precisa reunir condições de abastecer a China, e o Brasil tem essa vocação”, afirma Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec.
Ainda que a pauta sobre diversificar destinos sempre revisite, o dirigente não vê uma diminuição do apetite chinês pela soja brasileira. Jean Carlo Budziak, que integra a inteligência de mercado da Anec, segue o mesmo raciocínio. “Assim como falam que somos dependentes da China [nas exportações de soja], eles também dependem do nosso produto”.
Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSetor Consultores, diz que a dependência do Brasil para as exportações de grãos à China é uma situação difícil e duradoura. “Não conseguiremos fugir tão cedo dessa dependência, porque ela é expressiva e também há um comprometimento da base produtiva com essa exportação”, avalia.
A dependência fica evidenciada em dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) citados por Lucílio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). No ano passado, a China respondeu pela aquisição de 60,6% da soja exportada no mundo.