Segurança Pública
Operação reacende pressão por oficial de carreira no comando da Abin
Servidores reclamam de “pessoas de fora” à frente da agência de inteligência
A possibilidade de o governo trocar o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) reacendeu a pressão para que os futuros diretores da corporação sejam servidores de carreira e não um delegado da Polícia Federal (PF).
O pedido por um servidor de carreira à frente da Abin é antigo, mas ganhou força após a operação deflagrada para apurar o monitoramento ilegal promovido pela agência durante a gestão do ex-diretor-geral Alexandre Ramagem.
Hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro, Ramagem é delegado da PF. Sete agentes federais cedidos para a Abin também são alvos da investigação.
Além disso, investigadores suspeitam que a atual cúpula da Abin – comandada pelo diretor-geral Luiz Fernando Corrêa e pelo diretor-adjunto Alessandro Moretti – tenha atuado para atrapalhar as investigações e acobertar envolvidos na espionagem ilegal.
“Se confirmados os ilícitos apurados, a problemática gestão da Abin por Alexandre Ramagem e seus assessores reforça a importância de a Agência ser gerida por seu próprio corpo funcional, e não por atores exógenos politicamente condicionados, como no governo anterior”, diz uma nota divulgada pela União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis).
Dos últimos oito diretores-gerais da corporação, quatro eram delegados da Polícia Federal.
“A Inteligência de Estado tem que ser preservada do debate político-partidário, e os profissionais de carreira precisam ser valorizados. Os novos desdobramentos das investigações em curso indicam ter havido utilização da estrutura e recursos da Abin para práticas de desvios por parte de policiais federais inseridos na Agência”, complementam os agentes de inteligência.
Alguns servidores de carreira ouvidos vão além. Dizem que situações como as investigadas neste momento “mancham” a imagem da corporação.
Os profissionais de carreira argumentam que “pessoas de fora” – no caso os policiais federais cedidos para a Abin – levam “problemas externos” para dentro da agência e depois vão embora.
Entenda
A operação Vigilância Aproximada foi realizada na última quinta-feira (25) e teve como um dos alvos o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), diretor-geral da Abin durante a gestão Bolsonaro, além de buscas na própria Abin e policiais afastados por determinação judicial.
Policiais estiveram no gabinete do parlamentar, no imóvel funcional ocupado por ele em Brasília e na casa dele no Rio de Janeiro.
Ao todo foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão. Sete policiais federais cedidos à Abin também são investigados na ação.
A operação investiga, segundo a PF, organização criminosa que teria se instalado na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e privadas.
Em nota, a Abin afirma que colabora com os inquéritos e que é “a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos”.