Internacional
Egito lidera esforços humanitários em crises de Gaza e Sudão
País é chave na resposta às crises da região; Crescente Vermelho Egípcio, com 36 mil voluntários, e ONU trabalham para coordenar entrega de ajuda humanitária; representantes das entidades explicam trabalho e apontam desafios
Compartilhando fronteiras com Gaza, Israel, Líbia e Sudão, o Egito assumiu um papel de liderança no fornecimento de auxílio na região. Desde o início do conflito no Sudão, em abril do ano passado, e da guerra em Gaza, tanto o governo quanto o Crescente Vermelho egípcio têm sido atores importantes na ajuda a milhões de civis.
A ONU News conversou com Elena Panova, coordenadora residente da ONU no Egito, e Neveen Alqabbaj, vice-presidente da Sociedade do Crescente Vermelho Egípcio e ministro da Solidariedade Social do país, sobre como milhares de toneladas de ajuda e serviços que salvam vidas são entregues em tempos de crise.
Palestinos feridos são levados em ambulâncias de Gaza pela passagem de Rafah para o Egito.
36 mil voluntários
Segundo Neveen Alqabbaj, a Sociedade do Crescente Vermelho Egípcio vem apoiando os habitantes em Gaza desde o primeiro dia de conflito. A entidade possui mais de 31 centros de emergência, 10 armazéns, 175 equipes de resgate, 36 mil voluntários e caminhões de emergência.
Ele afirma que a entidade estava preposicionada em El Arish, onde muitas remessas de ajuda internacional chegam por via aérea, a cerca de 50 km da fronteira de Rafah com Gaza, e nas províncias vizinhas.
A representante da ONU no Egito adiciona que com as crises que eclodiram em Gaza e no Sudão, a equipe da ONU no Egito, composta por 27 agências, teve que aumentar o trabalho e repensar a maneira como operam, já que estão “em modo de emergência”.
Elena Panova explica que ONU no Egito está trabalhando lado a lado com a Sociedade do Crescente Vermelho Egípcio e enviou uma equipe técnica humanitária para El Arish, incluindo logísticos e pessoas que apoiam a coordenação da ajuda e o gerenciamento de informações.
Passagem de Rafah
Neveen Alqabbaj explica que as entidades buscam garantir que toda a ajuda seja canalizada pelos portões da fronteira de Rafah, única fonte de grande ajuda para Gaza. Segundo ele, no início, eram apenas 20 caminhões por dia, e depois aumentou gradualmente para 200 caminhões. No entanto, para atender todo o povo palestino, seriam necessários de 500 a 600 caminhões diariamente. Isso significa apenas 30% das necessidades estão sendo supridas.
Ele adiciona que as entidades enfrentam muitas exigências por parte das autoridades israelenses. Cada caminhão precisa viajar cerca de 50 km de El Arish para ser inspecionado no posto de fronteira de Nitzana, em Israel, e depois voltar para Rafah.
Elena Panova acrescenta que a operação é muito complexa e não deve ser subestimada. Do lado da ONU, ela afirma que as equipes buscam aumentar a eficiência e a previsibilidade. “Queremos ter certeza de que tudo o que entra nesses caminhões é o que é necessário em Gaza”, afirmou, destacando o trabalho de priorização feito para apoiar o Crescente Vermelho Egípcio.
Destaques do primeiro dia de operação do primeiro espaço amigável para crianças estabelecido dentro da estação de ônibus “Karkar”, em cooperação entre o UNICEF, o governo de Aswan e a Diretoria de Saúde e População de Aswan, para fornecer apoio psicossocial a crianças e suas famílias.
Evacuações médicas
Sobre os serviços médicos, Neveen Alqabbaj afirma que autoridades egípcias, seguindo orientações presidenciais, oferecem suporte médico a cerca de 10 mil feridos, incluindo 4 mil crianças, provenientes de Gaza. Com 38 hospitais prontos em El Arish e no Cairo, o transporte de equipamentos cruciais é providenciado por autoridades e ONGs. Bebês prematuros, não registrados, recebem cuidados especiais.
A crise deixou 90% dos hospitais de Gaza inoperantes, resultando em escassez de suprimentos e equipamentos médicos. Segundo os entrevistados, as equipes da ONU, lideradas pela OMS e Unicef, colaboram com o Ministério da Saúde egípcio para evacuações médicas e reforço hospitalar, enquanto mais de 100 funcionários humanitários essenciais ingressam em Gaza.
Sudão
De acordo com Neveen Alqabbaj, cerca de 45% dos 9 milhões de refugiados no Egito são sudaneses, totalizando mais de 300 mil famílias durante a última crise no Sudão. O Crescente Vermelho Egípcio tem fornecido assistência desde o início da violência, em abril do ano passado, facilitando a travessia segura da fronteira e oferecendo serviços de ajuda humanitária.
Elena Panova revelou que, após a chegada dos primeiros refugiados, o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários alocou fundos especiais do Fundo Central de Ajuda Emergencial para ampliar rapidamente a resposta. Foram instaladas instalações de água e saneamento e fornecido alimentos e assistência em dinheiro a 270 mil recém-chegados. O Unfpa e parceiros egípcios criaram espaços seguros para mulheres vítimas de violência sexual durante o conflito.
Elena Panova acrescentou que são esperadas cerca de 300 novas chegadas por dia e que a ONU está trabalhando em estreita colaboração com o governo para atender às necessidades imediatas e planejar o apoio resiliente de longo prazo, incluindo serviços de educação e saúde.