Saúde
Como os alimentos ultraprocessados podem se tornar o novo assassino silencioso
Acúmulo de substâncias nocivas
Embora a obesidade e a falta de atividade física sejam contribuintes bem reconhecidos para a morbidade e a mortalidade evitáveis, outro perigo emergente nos ronda: O consumo sem precedentes de alimentos ultraprocessados.
Este pode ser o novo “assassino silencioso”, assim como o foram o tabagismo e a pressão arterial elevada não reconhecida nas décadas anteriores.
Dawn Sherling e colegas da Universidade Atlântica da Flórida (EUA) afirmam que isso pode se dever ao acúmulo no organismo humano de compostos químicos ingeridos através de uma dieta rica em alimentos ultraprocessados.
Dos refrigerantes aos cereais em caixinhas, dos salgadinhos embalados às carnes processadas, os alimentos ultraprocessados são repletos de aditivos. Óleo, gordura, açúcar, amido e sódio, bem como emulsionantes como carragenina, mono e diglicerídeos, carboximetilcelulose, polissorbato e lecitina de soja continuam a retirar nutrientes saudáveis dos alimentos, ao mesmo tempo que introduzem outros ingredientes que também podem ser prejudiciais para a saúde humana.
O resultado é que centenas de novos ingredientes nunca encontrados pela fisiologia humana são agora encontrados em quase 60% da dieta do adulto médio e em quase 70% da dieta das crianças (essas medições foram feitas nos EUA).
“Quando os componentes de um alimento estão contidos em uma matriz alimentar natural e integral, eles são digeridos mais lentamente e de forma mais ineficiente, resultando em menos extração de calorias, menores cargas glicêmicas em geral e menor aumento de lipoproteínas ricas em triglicerídeos após a ingestão, o que poderia resultar em placa aterosclerótica,” explicou o professor Allison Ferris, coordenador do estudo. “Portanto, mesmo que os aditivos problemáticos fossem removidos dos alimentos ultraprocessados, ainda haveria preocupação com um consumo excessivo destes produtos, possivelmente levando à obesidade, diabetes e doenças cardíacas.”
Atuando contra a microbiota saudável
Segundo os pesquisadores, um mecanismo plausível para explicar os perigos à saúde é que os alimentos ultraprocessados contêm emulsificantes e outros aditivos que o trato gastrointestinal dos mamíferos em sua maioria não digere. Eles podem atuar como fonte de alimento para a nossa microbiota e, dessa forma, podem estar criando um microbioma disbiótico que pode promover doenças.
“Aditivos, como a maltodextrina, podem promover uma camada mucosa amigável a certas espécies de bactérias encontradas em maior abundância em pacientes com doença inflamatória intestinal,” disse Sherling. “Quando a camada mucosa não é mantida adequadamente, a camada de células epiteliais pode tornar-se vulnerável a lesões, como foi demonstrado em estudos de alimentação utilizando carragenina em humanos e outros estudos em modelos de camundongos, utilizando polissorbato-80 e goma de celulose, desencadeando respostas imunológicas no hospedeiro.”
A equipe também opina que, tal como os perigos do tabaco começaram a surgir em meados do século passado, passaram-se décadas antes que a preponderância das evidências e os esforços das autoridades de saúde levassem a mudanças políticas para desencorajar o uso dos cigarros. Eles afirmam que é provável que iremos percorrer um caminho semelhante no caso dos alimentos ultraprocessados.