ECONOMIA
Correios colocam balancete econômico sob sigilo para esconder prejuízo de R$ 800 milhões
Para além da questão econômica, em abril deste ano, a atual gestão também enfrentou pesadas acusações na área da Justiça do Trabalho.
Por Roberto Tomé
Documentos confidenciais obtidos com exclusividade pelo Mais Brasília revelam que os Correios – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – tentam esconder um déficit financeiro alarmante. Nos três primeiros meses de 2024, a empresa acumulou um prejuízo de R$ 800 milhões.
Uma ata de reunião datada de 30 de abril estipula que o balancete de “Desempenho Econômico-Financeiro do 1º Trimestre de 2024” está sob sigilo, classificando as informações como de acesso restrito. Segundo fontes anônimas, é a primeira vez na história da instituição que os resultados econômico-financeiros são mantidos em sigilo, o que tem gerado grande preocupação entre os mais de 90 mil empregados da empresa.
“Isso é para esconder o rombo de R$ 800 milhões de janeiro a março de 2024. Isso está deixando todos os empregados dos Correios aflitos. E a área financeira fez uma previsão que, até o final do ano, caso nada seja feito, o rombo vai ser de R$ 3,5 bilhões. No ano passado, o prejuízo operacional foi de R$ 1,5 bilhão. Correios quebram até o final do ano se continuar da forma que está. Infelizmente”, disse uma das fontes que preferiu não ser identificada por medo de represálias.
Além dos problemas econômicos, a gestão atual enfrentou graves acusações na Justiça do Trabalho em abril deste ano. Em 30 de abril de 2024, os Correios foram condenados a indenizar uma advogada em R$ 200 mil por excesso de trabalho. O excesso de serviço, decorrente da má gestão do setor jurídico, ocasionou um grave abalo psíquico à funcionária, resultando em uma condenação por Síndrome de Burnout. No mesmo ano, a empresa também foi condenada pelo juiz José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva, da 6ª Vara do Trabalho de Ribeirão Preto, a indenizar por danos morais outro advogado que teve de lidar com mais de dois mil processos, desenvolvendo também a Síndrome de Burnout. O valor da condenação foi igualmente de R$ 200 mil.
Após a divulgação da reportagem, a assessoria de imprensa dos Correios procurou o Mais Brasília, alegando que “não procede que o balanço foi colocado em sigilo para ‘esconder informação’”. Segundo a assessoria, o balanço “foi colocado em sigilo porque é uma medida de praxe no trâmite desse tipo de documento, que não pode ser divulgado antes da avaliação pelo Conselho de Administração da empresa.”
Em nota, a empresa afirmou que “não existe sigilo para informações públicas por força de legislação, como as demonstrações financeiras. A divulgação dessas informações, porém, segue ritos previstos em lei e em normativos da empresa; por isso, o balanço econômico-financeiro do primeiro trimestre dos Correios foi colocado em sigilo, medida de praxe no trâmite desse tipo de documento, que não pode ser divulgado antes da avaliação pelo Conselho de Administração da empresa. Assim como todos os outros, o balanço econômico-financeiro do primeiro trimestre será publicado no site dos Correios após a aprovação, que torna os dados oficiais.”
A nota encaminhada pela assessoria destacou outros dados. Segundo o comunicado, “em 2023, os Correios alcançaram os requisitos de transparência em todos os 49 itens avaliados pela Controladoria-Geral da União (CGU) que dizem respeito à divulgação de informações obrigatórias no portal dos Correios, na internet. Os dados são do Painel da Lei de Acesso à Informação (LAI) da CGU, ferramenta desenvolvida pela Controladoria para facilitar o acompanhamento do monitoramento e cumprimento da LAI pelos órgãos e entidades do Poder Executivo Federal.”
“A respeito dos indicadores econômico-financeiros dos Correios, a empresa destaca que em 2023 a estatal teve uma melhoria de 22% no resultado líquido e de 36% no EBITDA, em comparação com 2022, e a expectativa é ter um resultado ainda melhor em 2024. Historicamente, os indicadores no primeiro trimestre são mais baixos e aumentam no decorrer do ano. Os Correios trabalham com a previsão de lucro na ordem de R$ 150 milhões para 2024. Além disso, os Correios possuem reservas no caixa, que segue saudável, e não precisará de aportes do governo federal.”
Relembre o caso trabalhista
A Justiça condenou a empresa a indenizar o advogado Muriel Carvalho Garcia Leal após o profissional desenvolver Síndrome de Burnout por excesso de trabalho. Em sua decisão, o juiz José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva, do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT15), determinou que a empresa pagasse uma pensão temporária no valor do salário do advogado pelos meses em que ele ficou afastado devido à síndrome.
O juiz ressaltou que considera necessário que o Ministério Público do Trabalho (MPT) tome conhecimento das denúncias do advogado, especialmente em relação à sobrecarga de trabalho e seus efeitos sobre os demais empregados da empresa. Segundo informações divulgadas pelo portal Jota, o advogado pediu afastamento do trabalho em 2021, quando cuidava de mil processos. Ao retornar, no ano seguinte, teve de lidar com dois mil processos em apenas duas semanas.
“O Burnout avassala a cabeça da pessoa. Eu me senti e fiquei incapacitado. Um advogado da maior estatal do Brasil adoecer por excesso de trabalho e não ter o respaldo da empresa, isso me causou sérios danos. Eu tenho uma luta constante. Ainda frequento psiquiatra e tomo remédio todo dia desde o meu afastamento”, explicou Leal ao portal Jota.
Procurados à época, os Correios informaram apenas que “o caso está sendo tratado em âmbito judicial.”